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“Mr. & Mrs. Smith” não é o filme de 2005

Nova série lançada pelo Prime é baseada na série de mesmo nome de 1995

Fran Bastos
Published in
3 min readFeb 19, 2024

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Donald Glover e Maya Erskine como John e Jane Smith — Reprodução: Prime

Divertido, envolvente e com uma inegável química entre os atores. O casal espião que por alguns anos foi verdadeiramente feliz, agora se encontra em um momento de hiato dessa felicidade ao se estabilizar em rotinas iguais e apáticas, ao mesmo tempo que descobre verdades um sobre o outro. Essa é a análise e a sinopse do filme “Mr. & Mrs. Smith”, de 2005.

Já a série, lançada em 2024, não é o filme de 2005. É mais profunda. Com produção e roteiro de Donald Glover e Francesca Sloane, a série se permite aprofundar em detalhes que nunca nem pensamos durante o filme. E essa qualidade pode sim decepcionar públicos, encantá-los ou os dois.

Inicialmente, ao desvendar os episódios, é impossível não comparar com o longa. A química do casal aqui é quase inexistente. E ao olhar a grama do vizinho com Brad Pitt e Angelina Jolie como casal, fica difícil mesmo. E talvez esse infeliz casal da série também tenha sofrido com a troca de atrizes. A atriz cotada para ser a Jane era a Phoebe Waller-Bridge e muitas vezes é perceptível que as cenas foram escritas para ela, como momentos de introspecção, silêncios para salientar uma piada ou apenas os olhares trocados. E talvez isso tenha me tirado inicialmente da série, visto que a atriz Maya Erskine não conseguia me entregar o que minhas expectativas sugeriam — sim, a comparação aqui foi a maior vilã.

Mas, ao retornar ao quesito profundidade, inalteravelmente esta série, por também possuir mais tempo para desenvolvimento dos personagens, conseguiu estabelecer bem cada personalidade. Diferente do filme, o casal de Smiths é propositalmente pareado para realizar missões de alto risco, ou seja, eles não se conhecem e terão que aprender a conviver — para dizer o mínimo. Essa dinâmica já é conhecida para os fãs ávidos do título, visto que essa trama é 100% baseada na série de 1995 estrelada por Scott Bakula e Maria Bello.

Ainda no primeiro episódio da obra do Prime entendemos as preocupações de John, interpretado pelo Donald Glover, e as de Jane, além de alguns de seus medos em relação ao passado e até mesmo traços de suas individualidades. A dinâmica inicial, ao apresentar as missões que teriam que ser finalizadas, encanta ao equilibrar uma comédia suave com ação. Ao mesmo tempo que entendemos que o casal espião quase não apresenta habilidades técnicas — sinceramente, em vários momentos, a displicência dos agentes faz pensar que qualquer um pode ser um Smith.

Talvez — e isso é um grande talvez — a negligência deles como agentes seja inclusive proposital. Afinal, é uma série sobre relacionamentos interpessoais, não de espiões estilo 007. A questão é que, em certo momento, fica exagerado a ponto do público se perguntar “por que eles ainda tentam?”.

Isso tudo muda, especificamente, em um episódio que é o ponto de virada. Quando você realmente entende para que esta série veio. A partir daí, se você espera missões completas e cenas de ação bem coreografadas saiba que você vai ganhar DR’s (discussão de relacionamento), terapia e muita desconfiança.

O elenco ainda conta com uma sub-história desenvolvida pelo brasileiro Wagner Moura e a atriz Parker Posey como John 2 e Jane 2. E participações de Michaela Coel — de “Chewing Gun” — e Ron Perlman — de “Hellboy”.

“Mr. e Mrs. Smith” é uma série que deixa um gosto agridoce no final, mas que cativa ao sair da curva do esperado. Por fim, a pergunta que fica é: veremos mais deste casal excêntrico ou ficaremos com esse gosto mesmo?

Reprodução: Prime Video

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