Cinema

“Não olhe para cima” e para a realidade

A sátira apocalíptica de Adam MCkay critica o negacionismo político dos EUA e recebe indicações ao Oscar 2022

Rafaellabrina
Caderno 2
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3 min readMar 20, 2022

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Conheça um dos sucessos da Netflix de 2021, estrelado por Jennifer Lawrence e Leonardo DiCaprio. Divulgação: Netflix.
Conheça o sucesso de 2021, estrelado por Jennifer Lawrence e Leonardo DiCaprio. Divulgação: Netflix.

O filme indicado ao Oscar 2022 — nas categorias de melhor filme, melhor roteiro original, melhor montagem e melhor trilha sonora — conta a trajetória de dois astrônomos, Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), a partir do momento em que descobrem que a Terra será destruída por um asteroide em 6 meses e 14 dias. O seu objetivo principal? Alertar o mundo sobre o futuro. Ambos alertam a NASA (National Aeronautics and Space Administration), as centrais de notícias e, até mesmo, a presidente dos Estados Unidos (Meryl Streep), mas não são levados a sério. A história, em geral, é ótima. O que frusta o telespectador é o roteiro extremamente previsível.

A comédia é uma grande crítica ao capitalismo e ao negacionismo, devido à descredibilização de mudanças climáticas e à valorização das atividades de exploração ambiental. “Não olhe para cima” nos conta isso de uma maneira exageradamente realista: visando a lucratividade sem medir os impactos ambientais. A crítica se torna explícita quando uma companhia de IA (Inteligência Artificial), liderada por Peter Isherwell (Mark Rylance), toma proveito da situação para promover suas novas máquinas tecnológicas e extrair matéria-prima. A proposta feita pelo CEO da empresa Bash é de que seus drones minerem o asteroide, que possui 30 milhões de dólares em minerais utilizados para construção de hardwares. Por fim, o corpo celeste seria explodido pelos mesmos drones em milhares de pedaços, para causar menos impacto ao entrar em contato com a superfície terrestre. Contudo, esse procedimento só poderia ser realizado quando o cometa estivesse muito próximo à Terra e isso tornaria a situação cada vez mais arriscada para a humanidade. Como já era esperado, a presidente dos Estados Unidos aceita o acordo e leva a dupla de astrônomos à loucura, porque novamente o bem-estar coletivo não estava sendo priorizado e a ciência estava sendo questionada.

Inicia-se aí a crítica à manipulação política. Quando o asteroide já pode ser avistado a olho nu, a Casa Branca dos EUA dissemina discursos de ódio contra os cientistas e impõe o slogan “não olhe para cima”, para que o povo não se assuste com a situação. Até porque, “o que os olhos não veem, o coração não sente”, não é mesmo? Vem deste negacionismo o título do filme.

O diretor do filme, Adam Mckay, em uma entrevista para o canal do YouTube Entertainment Weekly, afirma que o asteroide pode ser assemelhado à pandemia de COVID-19, que foi negligenciada pelo governo Trump no início de 2020, nos Estados Unidos. Estas comparações com a atualidade política do país dividiram o público entre rir ou refletir seriamente sobre o assunto, o que torna a comédia de Mckay um filme de terror para muitos.

Em geral, o roteiro é blasé e os personagens são engraçados, mas 2h e 23 minutos de graça se tornam maçantes para qualquer um, até mesmo para atores como Cate Blanchett, Timothée Chalamet, Rob Morgan e Jonah Hill, que também fazem parte dessa grande produção. Parece que o diretor priorizou a escolha de grandes nomes para o elenco e esqueceu de sintetizar uma história tão interessante como esta.

Em contrapartida, o filme cumpre o seu papel de crítico social, por mais que as pessoas nem sempre consigam acompanhar o timing de uma sátira. Há a problematização do excesso de informações do século XXI e como lidamos com elas. Fofocas, memes, histórias e “achismos” são prioridade até em situações em que a ciência é a única capaz de dizer a verdade. O longa grita um recado para o mundo: o negacionismo mata!

Não olhe para cima pode ser assistido na plataforma de streaming NETFLIX.

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Rafaellabrina
Caderno 2

20 anos| Estudante de Jornalismo (UFRGS)| Porto Alegre, RS.