Cinema

No Ritmo do Coração: o amor em diferentes formas

A versão americana que deu certo da comédia francesa “A Família Bélier” é indicada a três categorias no Oscar 2022

Luiza Duarte
Published in
3 min readMar 10, 2022

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Reprodução: Google

O título original do filme, “CODA” (sigla para child of deaf adults, ou filha de adultos surdos, em português), já explica a trama de Ruby Rossi (Emilia Jones): ela é a única ouvinte de uma família de surdos, composta por seu pai Frank (Troy Kotsur, indicado à categoria de melhor ator coadjuvante), sua mãe Jackie (Marlee Matlin, primeira vencedora do Oscar por atuação em língua de sinais por “Filhos do Silêncio”, em 1987) e seu irmão Leo.

Nesse drama com ares de comédia, acompanhamos a família pesqueira que precisa da filha para se conectar com o mundo dos ouvintes, enquanto a garota tem outros planos: cantar. Ruby está no último ano do ensino médio e, após se inscrever no coral (motivada pela participação de uma paixonite do colégio), é incentivada por seu professor Bernardo Villalobos (Eugenio Derbez) a de fato tornar sua paixão pela música numa carreira. Assim, acompanhamos sua dificuldade em conciliar a atividade de intérprete em tempo integral da família com sua dedicação à música, que plantou nela uma possibilidade antes nunca pensada: ir para a faculdade.

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Apesar de destoar das indicações ao Oscar que estamos acostumados a ver, com suas tramas subjetivas e às vezes tediosas, No Ritmo do Coração faz por merecer sua presença nesse ano. Primeiro, temos o elenco de excelentes atores que, acima de tudo, realmente fazem parte da comunidade surda — acertando onde A Família Bélier errou, em 2014. Não é à toa que Kotsur é um dos indicados à melhor coadjuvante por sua interpretação expressiva e emocionada, e que o filme ganhou o SAG Awards (premiação do Sindicato de Atores de Hollywood) por Melhor Elenco.

Depois, temos o fato de que apesar da história relativamente simples, direta e com final previsível, é impossível não se emocionar com os assuntos abordados por ela e a forma sutil com que foram retratados na tela. Temos um insight pouco representado até então das lutas diárias enfrentadas por pessoas surdas em uma comunidade de ouvintes — como a dificuldade de se relacionar com outras pessoas e de se defender em conflitos de trabalho — e a percepção de como algumas situações podem ser vistas por diferentes perspectivas, que muitas vezes não são percebidas por aqueles inseridos nelas.

Não podemos deixar de lado a narrativa principal de Ruby, em sua tentativa de se dedicar a uma paixão que — apesar de tentar — sua família simplesmente não pode entender, enquanto vive um período de descobertas sobre si, sobre os outros e sobre o amor. A forma como é apresentado o conflito interno da personagem, dividida entre ir atrás de sua própria trajetória e de não se arriscar fora do conforto do seio familiar ao qual está acostumada, é delicada e emocionante. São especialmente comoventes os momentos em que ela se divide entre expressar-se através da língua falada ou de sinais, quando temos uma espécie de representação física dessa oposição.

Assim, fomos presenteados com uma história feita para ser vista com um olhar leve, pois é contada dessa forma, que no final fará o espectador rir e talvez chorar, mas que certamente deixará a todos com um quentinho no coração.

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