Cinema

O filme do velocista corre na trama

Mariana Dawas
Caderno 2

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Longa-metragem que, ironicamente, foi lento para ser lançado, atropela acontecimentos de uma das maiores histórias do herói e entrega efeitos visuais bizarros

Flash (Ezra Miller) trabalha em conjunto com sua versão mais nova e com Supergirl (Sasha Calle) | Foto: Warner Bros Pictures

A obra The Flash, que teve seu lançamento inicialmente marcado para 2018, estreou nas salas de cinema dia 15 de junho deste ano, trazendo uma adaptação de um dos heróis mais famosos da DC Comics. O filme conta a história de Barry Allen — interpretado pelo polêmico Ezra Miller — um investigador forense cujo pai foi injustamente acusado do assassinato de sua mãe. Ao ser atingido por um raio em seu laboratório, ele ganha poderes de velocidade.

A trama gira em torno da decisão do herói de voltar no tempo para alterar os acontecimentos que levaram à morte da mãe. No entanto, o protagonista fica preso em uma realidade alternativa, na qual a Liga da Justiça não existe e o General Zod — kriptoniano inimigo de Superman — chega à Terra em busca de Supergirl. O velocista se une à Batman, Supergirl e a uma versão mais nova de si mesmo para vencer Zod e retornar para casa.

De início, é possível dar créditos ao filme na forma que tratam o luto de Barry e o peso que carrega por conta da situação dos pais, demonstrando de forma doce o apego que tem às coisas que pertenciam à mãe e aos momentos de infância — além de, mais para o final, ser comovente ao mostrar o sentimento do herói de sempre tentar salvar tudo e todos, se sacrificando constantemente. Contudo, esta é uma das poucas coisas que se pode elogiar na produção, que já teve seu começo corrido. Logo no começo já vemos o personagem já no auge de seus poderes —com conhecimento de conceitos como a Força de Velocidade e de como viajar no tempo — e sendo parte da Liga da Justiça.

A decisão de não contar uma sequência gradual de crescimento do personagem, iniciando com sua origem e levando a acontecimentos complexos com calma, demonstra uma certa pressa da DC em encontrar formas de fechar o universo que iniciou — dando inclusive uma explicação para a saída de Ben Affleck. A história é uma adaptação do quadrinho “Ponto de Ignição”, evento grande nas HQs, mas que não foi desenvolvida e deixou de lado partes importantes de desenvolvimento do herói.

O filme tenta trazer à tona a personalidade dinâmica e energética de Barry, fazendo referência ao fato de que, apesar da super velocidade, o herói sempre está atrasado. Porém, faz isso de forma exagerada, tanto em uma ansiedade demonstrada na atuação de Ezra, quanto nas piadas — apesar de trazerem a quebra de expectativa, são forçadas e fora do momento — que podem tornar Barry irritante.

Apesar destes pontos, a característica do longa que mais gerou incômodo na audiência foi o uso desleixado e excessivo de efeitos visuais e de CGI. Para representar a viagem no tempo, foi escolhida uma cronosfera que se ampliava no centro de uma espécie de arena de jogos romanos, mostrando os acontecimentos de cada realidade. Além de terem optado por uma das demonstrações visuais mais confusas já vistas, a execução foi deplorável, com efeitos bizarros que, de acordo com o diretor Andy Muschietti, são propositais para entender o que o protagonista está sentindo.

Em meio à sequência interminável de bonecos de CGI, o filme usa da história que envolve o multiverso para colocar na tela referências à representações passadas dos heróis, uma tentativa fracassada de fanservice — provavelmente tentando copiar o efeito que este mecanismo teve nos sucessos da Marvel, como em Homem-Aranha Sem Volta pra Casa e em Loki. Neste momento são mostrados personagens fictícios como Jay Garrick, e representações das atuações de Helen Slater, que interpretou Supergirl, George Reeves e Christopher Reeve, que interpretaram o Superman, e até mesmo de Nicolas Cage — que foi considerado no passado para interpretar o Homem de Aço.

No entanto, os easter eggs não agradaram tanto como planejado, em especial pelo uso mal feito do CGI. Junto a isso, parte do público não entendeu a aparição de Nicolas Cage, e também estranhou a falta de Grant Gustin, ator que ajudou na popularização do herói nos seriados.

Na tentativa de ser inovador, The Flash contou a história de forma confusa e sem dar a oportunidade para o personagem ser construído sozinho, antes de colocá-lo junto de outros heróis já consolidados no universo. Sendo assim, agora a expectativa é de que o velocista escarlate consiga ter seu merecido desenvolvimento enquanto tenta lidar com as mudanças que aconteceram no seu universo após retornar do Ponto de Ignição.

A DC segue aparentando não ter planejamento de longo prazo para suas produções e sem paciência para construir arcos bem formulados para seus heróis, optando por correr direto para o clímax.

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Mariana Dawas
Caderno 2

Estudante de Jornalismo na UFRGS e de Relações Internacionais na PUCRS