LITERATURA
O litoral cearense como um personagem em “Primeiro eu tive que morrer”, de Lorena Portela
Livro de estreia da jornalista cearense foi escrito na pandemia
A obra primeiro eu tive que morrer, de Lorena Portela, retrata a história de uma publicitária cearense que se percebe doente e em um ambiente de trabalho tóxico. Em processo de bournout — esgotamento profissional que provoca sintomas mentais e físicos — e em busca de se (re)encontrar, a jovem busca um lugar de acolhimento. O refúgio escolhido é Jericoacoara, praia remota no litoral do Ceará.
A cidade/vila se torna personagem no mundo escrito pela poesia de Portela. A autora contou em entrevista para uol que escreveu o livro durante o lockdown da pandemia, em 2020, quando tinha acabado de se mudar para Londres. Voltar para Jeri em palavras foi um lugar conforto para ela, uma memória lugar ou um lugar memória, e estar mais perto de casa. E nos sentimos assim — em casa. Descobrimos outra narrativa de Brasil, longe da selva de pedras, onde a magia acontece no sopro, céu, mar, e no ar.
A rede de apoio feminina é enfoque na narrativa, nos diz “o coletivo nos forma”. E transforma. Percebemos o impacto das boas relações. A escrita poética da autora traz reflexões sobre as escolhas de vida e como construímos — e desconstruímos — nossa própria jornada. “Quantas vezes se morre em vida?”, ela pergunta. Assim, a morte aparece não como um fim, mas como algo tem que deixar de existir para dar lugar ao novo. No caso, o seu novo eu.
Ler uma história de autoconhecimento, sob a perspectiva feminina em um lugar tão mágico e tão brasileiro foi uma experiência inédita. Além disso, o romance conta a história de um amor LGBTQIA+, relatado com muita naturalidade no enredo.
Como diz a escritora Cris Lisbôa no prefácio do livro, esse livro vai “te fazer sentir a brisa agridoce de uma existência muy cercada das águas salgadas: lágrimas, suor e mar.”
Para te deixar com um gostinho da leitura, deixo um trecho abaixo.
Recomendo:
- bom dia, obvious #84 Marcela Ceribelli entrevista a autora. — “quantas vezes se morre ainda em vida?”
