Cinema

O Rio do Desejo: a paixão proibida e irredutível

Inspirado no conto “O Adeus do Comandante”, do amazonense Milton Hatoum, o longa teve estreia no dia 23 de março

Vitória Silveira
Caderno 2
Published in
3 min readApr 14, 2023

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Foto: Divulgação

Dirigido por Sérgio Machado, o longa-metragem conta a história dramática de três irmãos que se apaixonam pela mesma mulher. Estrelado por Sophie Charlotte, Daniel de Oliveira, Gabriel Leone e Rômulo Braga, o filme expõe o conflito do desejo carnal e dos sentimentos reprimidos. A narrativa tem como cenário a Amazônia, o coração do Brasil.

Dalberto (Daniel de Oliveira), capitão da polícia, larga a profissão após se apaixonar pela encantadora Anaíra (Sophie Charlotte), quando passa a comandar um barco. Em uma arriscada viagem pelas águas do rio Negro até o Peru, Dalberto transporta um passageiro misterioso. Na ausência do comandante, a companheira Anaíra fica em casa e se aproxima dos irmãos do marido: Armando (Gabriel Leone), o caçula irredutível, e Dalmo (Rômulo Braga), o prudente e conservador. O irmão mais velho, Dalmo, resiste à atração pela cunhada, enquanto Armando resolve não lutar contra a paixão.

Anaíra é uma personagem construída fora das convenções sociais. Ainda que dentro de uma dinâmica familiar conservadora e moralista, a figura feminina de Anaíra surge de maneira a não ser objetificada. Ela é apresentada como uma mulher naturalmente encantadora, delicada, decidida, dona de seus desejos e vontades. Ao longo da narrativa, a personagem se sente desiludida e abandonada.

O desejo proibido, a traição, a relação de fraternidade, o rompante de laços, são alguns dos pontos que impulsionam o conflito da trama. O filme levanta reflexões sobre os desejos dos protagonistas, que se confundem entre o proibido, o pecaminoso, o assertivo, o audacioso e o ponderado. Dalmo representa o desejo reprimido, quando resiste à paixão que sente por sua cunhada, sofrendo enquanto observa à distância. Armando, no entanto, é o desejo do primeiro amor, retrata a imaturidade, a intensidade, e se entrega ao querer sem pensar na angústia das consequências.

A fotografia de O Rio do Desejo traduz a brasilidade que há no Norte do país, por meio de imagens com cores quentes que exaltam a beleza de uma comunidade pacata do Amazonas. As imagens contribuem de maneira significativa para a construção da ambiguidade da narrativa, em que as emoções estão subentendidas. Os diálogos contundentes e, sobretudo, o silêncio, são marcantes no longa-metragem. A ausência da fala abre espaço para os sons característicos da natureza — como o barulho do rio e o som dos pássaros — invadirem as cenas com uma sutileza atroz.

O Rio do Desejo atravessa o dualismo e, ao apresentar os conflitos, não faz juízo de valor acerca das emoções dos personagens. Para além disso, o desejo individual, tanto do trio de irmãos, quanto de Anaíra, é construído da maneira mais humana possível. Todos os elementos do longa parecem dialogar no mesmo tom reflexivo e comunicam muito através dos pormenores.

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