Crítica

Oppenheimer: agora eu me tornei cinema

Filme de Christopher Nolan conta a história do “pai da bomba atômica”

Anselmo Berté
Caderno 2
Published in
3 min readJul 19, 2023

--

Imagem: Divulgação

“Agora eu me tornei a morte, a destruidora de mundos.”

O trecho do texto sagrado hindu, Bhagavad-Gita, é uma fala do deus Vishnu utilizada por J. Robert Oppenheimer, físico conhecido como “pai da bomba atômica” ao tentar descrever o que sentiu após liderar o primeiro teste nuclear da história, o Trinity. Agora, o diretor Christopher Nolan leva essa biografia repleta de dilemas para as grandes telas. Oppenheimer é mais uma obra prima de Nolan, que já dirigiu Interestelar e Inception.

O filme insere o público dentro da mente do físico estadunidense através da grande atuação do protagonista Cillian Murphy, o Tommy Shelby da série Peaky Blinders, e da trilha sonora impecável de Hans Zimmer, que possui mais de 150 filmes no currículo. A subjetividade entre o real e o psicológico é a marca de Oppenheimer, o que ajuda a dar profundidade para o personagem principal da trama.

Porém, a qualidade do filme não era o mais preocupante, nas mãos de pessoas tão talentosas, a obra tinha tudo para dar certo. A abordagem política do filme, por outro lado, poderia ser um problema. Hollywood costuma fazer uma autocrítica muito rasa dos crimes cometidos pelos Estados Unidos ao longo da história, justificando toda e qualquer ação do país pela presença de um inimigo “ainda pior”. Oppenheimer mostra o dilema de construir uma arma de destruição em massa, sem “passar pano” para sua utilização cruel em Hiroshima e Nagasaki.

Muito pelo contrário, o filme tem muito sucesso ao criticar a perseguição política anticomunista sofrida por J. Robert Hoppenheimer, durante o período macarthista dos Estados Unidos. Na época, o físico foi privado de atuação política e descredibilizado nacionalmente. “O pai da bomba atômica” nunca foi filiado ao partido comunista, porém era um defensor do sindicalismo da classe científica e se posicionou publicamente contra o desenvolvimento da bomba de hidrogênio, milhares de vezes mais potente que as armas nucleares utilizadas na Segunda Guerra. O viés progressista e questionador de Oppenheimer é muito bem trabalhado na trama.

O debate político do filme é extremamente atual, em um momento onde sindicatos de roteiristas e atores convocam greves em Hollywood, reivindicando salários justos para a classe e a regulamentação do uso de inteligência artificial no cinema. O elenco de Oppenheimer declarou apoio à greve decretada na última quinta feira, dia 13, e Christopher Nolan afirmou que não irá produzir novos filmes enquanto a situação não for resolvida. “É muito importante que todos entendam que é um momento chave na relação entre os trabalhadores e Hollywood”, afirmou o diretor à BBC News.

Não é preciso dizer que Oppenheimer é um candidato fortíssimo para varrer o Oscars em 2024, além de ser um ótimo motivo para ir à sala de cinema mais próxima. Resta saber se o filme manterá o mesmo apelo e experiência quando consumido nas pequenas telas, quando aparecer nas plataformas de streaming.

Oppenheimer estreia na quinta-feira, dia 20 de julho, nos cinemas.

--

--

Anselmo Berté
Caderno 2

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).