Os Rejeitados: um novo clássico natalino, com um toque agridoce

Com cinco indicações aos prêmios Oscar, o tom intimista e carismático de Os Rejeitados sabe equilibrar a comédia e o drama, mostrando que até a trivialidade pode nos guiar aos momentos mais extraordinários

Georgia Cristina
Caderno 2
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4 min readFeb 7, 2024

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Ambientado nos Estados Unidos dos anos 70, Os Rejeitados (The Holdovers, no título original) é a nova comédia dramática do diretor Alexander Payne (Sideways, Election) e a segunda colaboração do cineasta com o ator Paul Giamatti. O filme, que estreou nos Estados Unidos durante o último trimestre do ano de 2023, foi oficialmente lançado no dia 11 de janeiro de 2024 nos cinemas brasileiros.

No longa, Giamatti interpreta Paul Hunham, um professor pouco amigável que se torna responsável pelos alunos que passarão o período de festividades dentro do colégio interno. No decorrer da história, o professor forma uma improvável amizade com um dos alunos, Angus Tully (Dominic Sessa), e com a cozinheira do internato Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph). Apesar do ar carrasco e antipático do professor, Hunham possui um grande respeito e cortesia com Mary, que sofre com o recente luto pela morte do filho na Guerra do Vietnã. Os três personagens se unem na tentativa de superar a melancolia e a solidão dentro de seus respectivos contextos.

O também enlutado Angus Tully, que se encontra trancado no colégio interno após sua mãe cancelar uma viagem de Natal no último instante, possui um desprezo pelo professor e não hesita em momento algum em esconder suas opiniões. As provocações trocadas entre Angus e Paul é um dos pontos mais espirituosos e divertidos do filme, destacando o momento caloroso em que os personagens correm um atrás do outro, em meio aos corredores vazios e frios do internato.

Da esquerda para a direita, Dominic Sessa, Da’Vine Joy Randolph e Paul Giamatti | Foto: Divulgação

Ao longo do filme, a rigidez e antipatia de Paul Hunham (Giamatti) se esvaem e o professor começa a demonstrar suas vulnerabilidades particulares à medida em que sua amizade com Angus e Mary se aprofundam. O que até então seria um Natal apático e triste no meio da forte neve de New England, o feriado se transforma no ponto de virada nas vidas de Paul, Angus e Mary, que enfrentam, cada um, suas próprias angústias e dificuldades, no meio de suas diferentes vivências.

A paisagem bucólica e gélida do longa não impede o abraço afetuoso de uma carismática e intimista narrativa, que leva o telespectador do riso às emoções que enchem os olhos de lágrimas. A neve é quase um contraste com o eventual clima caloroso da história, capaz de conquistar o telespectador e captar sua atenção em breves minutos. É surpreendente a capacidade do filme de lidar com a sua inerente melancolia e concomitantemente mostrar a superação dos personagens através da comédia, de forma orgânica e natural, e no final das contas, entre suas trocas de experiências, os personagens se permitem seguir em frente, independente de seus próximos passos, caminhos e fins.

Apesar do tom cômico, Os Rejeitados não ignora questões sociais como o racismo e o elitismo: são nítidas as consequências da Guerra do Vietnã na vida de Mary Lamb, que sofre com a perda do filho no conflito, o único aluno do colégio a ser convocado para o alistamento, além da percepção e argumentação dos personagens do filme durante a época, que inaugurou uma nova era de questionamentos e manifestações políticas nos Estados Unidos.

O roteiro amplo fica por conta de David Hemingson, que se inspirou em suas próprias experiências durante seu período no colégio interno na adolescência, enquanto que a fluidez da direção de Alexander Payne, já premiado com duas estatuetas do Oscar (uma delas pela direção da sua primeira colaboração com Giamatti, Sideways — Entre Umas e Outras), não permite que o telespectador perceba o passar das horas.

Visualmente, o filme é um deleite para os olhos: é uma obra merecedora das grandes telas do cinema, que permitem a imersão na paisagem fria do colégio entre os tons nostálgicos, graças à cinematografia do dinamarquês Eigil Bryld.

A sintonia e excepcionalidade das atuações do trio principal estruturam o charme final de Os Rejeitados, conforme sustentam o equilíbrio entre a comédia e os momentos mais dramáticos do filme. Não há dúvidas de que o veterano Paul Giamatti e a brilhante Da’Vine Joy Randolph sejam considerados os preferidos para os principais prêmios nas categorias de atuação dos Oscar, em contraste com o recém-chegado Dominic Sessa, que em seu primeiro papel num longa-metragem, já venceu um considerável número de prêmios, incluindo o Critics Choice Awards na categoria de jovens atores estreantes na indústria.

O filme é um dos principais favoritos na temporada de premiações de 2024, já sendo premiado por Melhor Ator em Comédia ou Musical (Paul Giamatti) e Melhor Atriz Coadjuvante (Da’Vine Joy Randolph) nos prêmios Globo de Ouro e ainda segue forte na disputa, com cinco indicações ao Oscar, incluindo na categoria de Melhor Filme, e concorrendo em sete categorias dos BAFTA.

Os Rejeitados ainda não possui previsão de estreia nos serviços de streaming disponíveis no país.

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Georgia Cristina
Caderno 2

24 anos, estudante de Publicidade e Propaganda, apaixonada por cinema e idiomas, e acho que gosto de escrever também.