CINEMA

Para “Pobres Criaturas”, surreal é apelido

Com 11 indicações ao Oscar, nova comédia estrelada por Emma Stone testa os limites entre o tosco e o genial.

Diogo Duarte
Published in
2 min readFeb 3, 2024

--

Foto: Digital Trends

Gostando ou não, é impossível dizer que os filmes do cineasta grego Yorgos Lanthimos são superficiais. Dono de sucessos como “A Favorita” e “O Lagosta”, o diretor utiliza todos os recursos à sua disposição para que seus filmes concretizem sua visão ousada e fora-do-comum. Lentes olho-de-peixe, ângulos abertos e sequências alucinantes são apenas alguns dos artifícios que se tornaram marca registrada de suas produções, que raramente agradam o público de forma unânime.

Recentemente, Yorgos disse ao The Guardian que seus filmes são todos crianças problemáticas. E “Pobres Criaturas”, uma releitura baseada na obra de Frankenstein, é possivelmente a mais problemática — e brilhante — entre todas elas.

Em uma Londres retro-futurista, uma jovem é trazida de volta à vida pelo cientista Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe) e tem seu cérebro substituído pelo o do feto que gestava antes de morrer. Com o corpo de uma adulta e o cérebro de um bebê, Bella (Emma Stone) embarca em uma viagem de libertação para encontrar seu lugar em um mundo cheio de regras e convenções sociais que não lhe caem bem.

Dentre os inúmeros acertos do filme, talvez o mais inquestionável seja a atuação colossal de Emma Stone, que cumpre o dificílimo papel de transmitir ao espectador a inocência e o deslumbramento de alguém que embarca em uma jornada pelo mundo sem saber nada sobre ele. De cenas nas quais está aprendendo a falar até sequências em que está “pulando furiosamente”, Stone mostra sua versatilidade e seu comprometimento com o caráter surreal da narrativa da qual é protagonista.

Outro destaque da produção são os cenários, que ajudam a desenvolver a atmosfera caótica e extravagante do filme de maneira brilhante. Aqui, Londres, Lisboa, Alexandria e Paris são retratadas de forma que parecem ter saído de um parque de diversões, cheias de cores saturadas e de detalhes que nos fazem não saber para onde olhar.

Além de terrivelmente engraçada, a jornada de Bella em busca de sua liberdade é também esclarecedora, no sentido de que demonstra como uma vida desatada daquilo que é esperado de nós pelas outras pessoas é capaz de nos oferecer um sentido muito maior do que qualquer aprovação social.

Assim, “Pobres Criaturas” se estabelece como um dos melhores filmes do ano, oferecendo uma experiência imersiva e verdadeiramente única a quem o assiste. Por meio do surreal, Lanthimos retrata temas relevantes e cria uma comédia que transborda criatividade e cinema da melhor qualidade.

O filme estreia no dia 1º de fevereiro nos cinemas brasileiros.

--

--

Diogo Duarte
Caderno 2

Estudante de Jornalismo (UFRGS). Estagiário de Economia no Correio do Povo. https://letterboxd.com/diogobduarte/