CINEMA

“Vidas Passadas” e a saudade daquilo que nunca iremos viver

Estreia da diretora Celine Song explora a dor de um sentimento desencontrado — e o que acontece quando esse encontro ocorre tarde demais.

Diogo Duarte
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2 min readJan 25, 2024

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Foto: MUBI

Nora (Greta Lee), uma imigrante sul-coreana que se mudou quando criança para a América do Norte, vive em Nova Iorque onde tenta seguir a carreira de escritora. Um dia, em uma conversa por telefone com a mãe, ela decide procurar Hae Sung (Teo Yoo) — seu melhor amigo de infância, do qual não tinha notícias desde que deixou a Coréia do Sul — no Facebook. Ela entra em contato e os dois passam a se falar diariamente por videochamada. Depois de um tempo, ao perceberem estar em momentos completamente diferentes na vida, param de conversar. Porém, tudo muda quando ele vai visitá-la em Nova Iorque, 12 anos após a última vez que haviam trocado mensagens.

Sucesso no Festival de Sundance e consenso positivo entre a crítica, o filme se distancia da crescente tendência na qual o sucesso da atuação dos protagonistas depende totalmente de cenas dramáticas, cheias de gritos exagerados e choro excessivo — as chamadas “Oscar bait”. Em entrevista ao The Hollywood Reporter, a diretora Celine Song revelou que, para ela, era muito importante que “o filme vivesse no rosto dos atores”. Assim, o impacto emocional das performances se encontra nos detalhes. A linguagem corporal e as expressões faciais dos atores denotam aquilo que, às vezes, assim como fora da ficção, não conseguimos explicar apenas por meio das palavras.

Outro acerto indiscutível de “Vidas Passadas”, da produtora A24, é a trilha sonora. Quase um personagem por si só, as músicas, unidas ao estilo visual singular do filme, criam uma atmosfera imersiva que prende o espectador durante os 106 minutos de duração do longa.

O caráter semi-autobiográfico da produção é outro ponto positivo. Baseado parcialmente nas experiências de vida da própria diretora, o filme consegue se diferenciar dos outros milhares de filmes de romance já lançados por conta de sua originalidade. A intencionalidade com a qual temas como a experiência do imigrante, o amor não-correspondido e a memória afetiva aparecem no filme é exatamente o que o torna verdadeiramente único.

Sendo assim, “Vidas Passadas” transcende uma simples história de drama ao oferecer ao espectador uma experiência significativa e marcante. No fim das contas, esse é o cinema que importa. Traduzir a complexidade das relações humanas e dos conflitos causados pelo ressurgimento de um amor passado não é tarefa fácil, mas Song a cumpre com maestria e muita personalidade.

O filme, indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Dramático, chega aos cinemas brasileiros no dia 25 de janeiro de 2024.

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Diogo Duarte
Caderno 2

Estudante de Jornalismo (UFRGS). Estagiário de Economia no Correio do Povo. https://letterboxd.com/diogobduarte/