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Percy Jackson e os Olimpianos: a série melhora o que já estava bom

A adaptação estreou no dia 20 de dezembro de 2023 na plataforma Disney+ e já se firmou como um grande sucesso

Júlia Ritt
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10 min readFeb 23, 2024

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Este texto foi escrito por Júlia Ritt e Laura Bender.

Reprodução: IMDb

Baseada na saga de livros homônima de Rick Riordan, a história de Percy Jackson finalmente chegou às telas, conquistando uma nova geração de fãs. A primeira temporada da série da Disney + adapta o best-seller “O Ladrão de Raios”, que dá início a narrativa. Co-produzida pelo autor Rick Riordan e sua esposa Becky, com 92% de aprovação da crítica na plataforma Rotten Tomatoes, a série também foi bem recebida pelos fãs do autor.

Walker Scobell (Percy Jackson)

Reprodução: Disney+

Nascido na Virgínia (EUA), hoje Walker tem 15 anos de idade e teve sua primeira grande oportunidade como ator no filme “O Projeto Adam” , da Netflix, em que atuou em conjunto com o ator Ryan Reynolds e foi indicado ao MTV Movie + TV Awards. Em 2022, Walker foi escolhido para interpretar Percy Jackson.

A responsabilidade de dar vida ao protagonista de uma série com uma legião de fãs nunca é fácil, ainda mais para um menino de 12 anos que está começando sua carreira no ramo da atuação. No entanto Walker, ao que parece, não teve muita dificuldade em levar para as telas a essência de seu personagem. Ele e Percy são praticamente a mesma pessoa.

Ele equilibra os dois lados de Percy Jackson: a criança travessa e o herói em ascensão. O arco do personagem o leva de um menino que não sabe quem é, rejeita sua parte no mundo mitológico e não se vê com importância para um que continua impertinente, mas que direciona sua revolta aos monstros e a Cronos. Percy percebe, até certo ponto, seu papel como filho de Poseidon, e colabora com os deuses, permanecendo crítico das ações dos poderosos.

Nos momentos em que o personagem entende sua ligação com o deus dos mares e experimenta seu poder, vislumbramos o que o protagonista pode se tornar: Walker começou a atuar porque queria ser um dos Vingadores, e prova que tem o potencial para ser um grande herói.

Esse garoto é um superastro. A tela o ama, e ele é tão bom, tão natural e tão dedicado a tudo. É realmente impressionante, e ele é um grande fã dos livros.”

— Rick Riordan, em entrevista para o Entertainment Weekly

Leah Sava Jeffries (Annabeth Chase)

Reprodução: Disney+

Leah nasceu em Detroit (EUA) e estreou em sua carreira de atriz no drama musical americano Empire (2015), além de fazer parte do thriller de ação Beast (2022). No mesmo ano, ela foi escalada como a filha de Atena, Annabeth Chase, e pela sua cor de pele sofreu ataques racistas de alguns internautas. As críticas infundadas não abalaram sua performance e nem a confiança de Rick Riordan em sua escolha. “Leah Jefferies é Annabeth Chase” , comentou o autor.

Com 14 anos, é impressionante que Leah já seja uma atriz tão talentosa e volátil. Não é fácil para uma adolescente entrar na pele de uma das personagens mais amadas da ficção e ainda fazer um trabalho bem feito, com doses de drama e comicidade certas, mas Leah consegue.

Annabeth é uma personagem complexa. Líder entre seus colegas, ela é forte e estrategista; suas falas são comedidas. Ela poderia facilmente ser confundida como uma adolescente fria, introvertida e orgulhosa demais para que o público infanto-juvenil se afeiçoasse a ela. Contudo, a realidade é que Annabeth é sensível, empática e apenas uma criança que quer — e muito — ter amigos para chamar de seus. Jefferies entende essa dualidade e consegue expressar a humanidade da personagem, em olhares e nas entrelinhas de seus gestos.

Pela sua atuação como Annabeth Chase, Leah foi indicada a 55º edição do prêmio NAACP Image Awards, na categoria “Melhor Performance Jovem”, cujas votações se encerram dia 10 de março.

“A resposta para a escolha da Leah tem sido majoritariamente positiva e entusiasmada, como deveria ser. Leah traz tanta energia e entusiasmo para esse papel, tanto da força de Annabeth. Ela será um exemplo para novas gerações de meninas que verão nela o tipo de heroína que gostariam de ser.”

Rick Riordan, em seu blog

Aryan Simhadri (Grover Underwood)

Reprodução: Disney+

Nascido na Califórnia, hoje Aryan tem 17 anos e ganhou, em 2021, o prêmio Young Artist Award, pela sua melhor performance de ator jovem em “A Grande Luta”, um filme de streaming. Em 2022, participou do filme “Doze é Demais” e no mesmo ano foi escolhido para interpretar o sátiro Grover Underwood, melhor amigo de Percy e Annabeth.

Grover, apesar de muito amado, era um personagem um tanto simples nos livros e muitas vezes caía no papel de alívio cômico. Todavia, a série dá nova vida ao sátiro: ele ganha uma família, um destaque para o objetivo de sua vida — a busca pelo deus da natureza, Pã — e é estabelecido como o mediador entre Percy e Annabeth, que costumam se desentender. Aryan abraça a inocência, as inseguranças e a coragem de seu personagem e transmite uma personalidade leve que o categoriza como o porto seguro do trio.

“Ele me fez rir alto com sua entrega e seu ‘timing’. Ele tem uma mistura de doçura, humor e resistência interna que é perfeita para nosso sátiro favorito. Aryan é exatamente o cara certo para o trabalho!”

— Rick Riordan, em seu blog

Percy & Annabeth

Reprodução: Disney +

Os fãs dos livros já sabem que, ao longo da história, Percy e Annabeth se tornam um casal. No entanto, como a série está na primeira temporada, os semideuses ainda estão construindo o início de sua amizade, entre tapas e abraços. Ainda assim, é inegável que Leah (Annabeth) e Walker (Percy) conseguem demonstrar o rumo romântico que o relacionamento dos personagens tomará no futuro.

Percy traz uma nova perspectiva para o mundo que Annabeth já conhece tão bem. A diferença de pensamento, o seu desafio aos deuses, a sua impaciência com as injustiças que fazem parte do dia a dia dos meio-sangues, no início, causam conflito. Percy se recusa a jogar o jogo que é esperado dele, nega seu dever como semideus — vai contra as regras que, até então, regiam a vida de Annabeth.

Ao longo da missão, os personagens se aproximam ao compreenderem o ponto de vista um do outro, sobrevivendo juntos, muitas vezes graças aos conhecimentos de Annabeth. Ao admirar a coragem de Percy, ela percebe que pode ser mais do que um acessório na disputa de poder dos deuses. Em troca, Percy aprende as limitações e a estrutura da vida de herói, e compreende sua importância como filho de um dos três grandes.

As trocas de olhares entre Walker e Leah ao longo da série já deixam claro para os fãs que não leram os livros que eles ainda terão muita história juntos. Além disso, as ações dos semideuses reforçam para os fãs mais antigos que a sua relação, embora tenha começado apenas como uma amizade de duas crianças, já tinha muitos indícios de um futuro promissor — e levemente caótico.

“Ela treina Percy para sobreviver no mundo mitológico e, em troca, ele a ajuda a se reconectar com sua humanidade.”

— descrição dos personagens na chamada de elenco

A trilha sonora

Bear McCreary. Reprodução: IMDb

Composta por Bear McCreary em conjunto com a gravadora Sparks & Shadows, a trilha sonora da série faz jus a história de Percy Jackson. São músicas épicas, para uma história épica. Com títulos como “The Sea Does Not Like to Be Restrained”, “ Spirit of the Sea” e “Poseidon”, a trilha instrumental carrega uma imponência que combina com o lado clássico dos mitos nos quais a série é baseada.

A música-tema “Percy Jackson and the Olimpians” é característica e tem o potencial de se tornar reconhecida; atemporal, como deve ser a trilha principal do que pode se tornar uma saga que acompanhará gerações.

A trilha completa já está disponível no Spotify.

Deuses & Monstros

Reprodução: Disney+

É no mínimo difícil ter que interpretar um deus enquanto se é um humano. A série de Percy Jackson se atentou a esse fato e o usou para, inclusive, ajudar na imagem que os deuses passam para o seus filhos — se eles são seres tão poderosos, o que Hermes (Lin-Manuel Miranda) fazia em um cassino como qualquer outro humano entediado? Por que Ares (Adam Joseph Copeland) dirige sua moto como se fosse somente outro motoqueiro rebelde?

Essas questões também ajudam a explicar o motivo de a história de Percy Jackson ser tão popular. Ao humanizar seres como os deuses e os monstros da mitologia grega, o público entende quem eles são de forma mais rápida e associam sua imagem com elementos do cotidiano pop da atualidade. É mais fácil para uma criança ou adolescente reconhecer que Hefesto (Timothy Omundson) é o deus dos ferreiros se ele está vestido como um mecânico, assim como é mais fácil reconhecer que Zeus (Lance Reddick) é o rei dos deuses se ele está vestindo um terno como se fosse um CEO de uma grande empresa, que é nesse caso o Olimpo.

Reprodução: Mundo Geek

A outra face do mundo mágico onde Percy é inserido se revela com os monstros, como o Minotauro e a Medusa (Jessica Parker Kennedy), que têm como objetivo desafiar o poder olimpiano. Essas criaturas trazem o aspecto apavorante de ser um semideus e nas telas são levadas à vida pelo uso de tecnologia CGI. Enfrentados por semideuses muito jovens — Percy, Annabeth e Grover — possuem uma caricatura que por vezes beira o cômico, ao serem vistos pelos olhos dos jovens.

Sally & Poseidon

Reprodução: Disney+

Um relacionamento que ganhou um protagonismo inédito nas telas foi o de Sally Jackson (Virginia Kull) e Poseidon (Toby Stephens), pais de Percy. Com a nova perspectiva cinematográfica, os roteiristas optaram por usar mais minutos de tela para contar a história, adicionando cenas que não existiam nos livros.

Observando os acontecimentos fora da perspectiva de Percy, pudemos acompanhar as dificuldades de Sally em criar uma criança disléxica, com TDAH e cuja origem é semi-divina. Em seu esforço de proteger o filho, Sally sabe quando é hora de agir, lutar por ele, e também sabe que protegê-lo algumas vezes é prepará-lo para lutar sozinho. Diferente dos livros, na série ela não faz só o papel de mãe, é uma personagem que sofre adversidades, mas as enfrenta com uma coragem e determinação que sempre existiram em Sally, não só depois que Poseidon entrou em sua vida.

Já Poseidon reflete o comportamento de um deus e seu domínio. Com uma voz calma e postura imponente, Toby Stephens mostra que sabe que o personagem que interpreta não pode ser retratado simplesmente como um humano severo, e sim como um deus que tem o poder dos mares em suas mãos. Entretanto, não tem o poder necessário para ficar ao lado de quem mais deseja e está a mercê de seu irmão mais poderoso — Zeus.

A surpresa de ver que a primeira temporada da série destacou tanto o relacionamento dos dois foi positiva. Em uma única cena, os atores foram capazes de transmitir a angústia, a saudade e ainda, mesmo depois de 12 anos, o amor que sentiam um pelo outro — e isso sem nem se encararem nos olhos. É claro que o roteiro de Andrew Miller também merece um grande crédito pelos diálogos entre Poseidon e Sally, o deus e a mortal.

Luke Castellan (Charlie Bushnell)

Reprodução: Disney+

Quando Percy Jackson começa sua jornada no mundo mitológico, a primeira pessoa que o acolhe é Luke Castellan, interpretado por Charlie Bushnell. Luke, filho de Hermes, é o primeiro amigo semideus do protagonista, que o admira como exemplo de herói que alcançou a glória perante os deuses — ou é o que parece. Na verdade, Luke secretamente traça um plano para findar a era de ouro olimpiana, custe o que custar.

Luke Castellan é um personagem que espelha Percy Jackson. Ele é o que Percy se tornaria caso não tivesse crescido com uma mãe amorosa e amigos leais ao seu lado. É o grande antagonista na narrativa; um peão que deseja estar no comando de tudo, um vilão e uma vítima. Ele faz o que acha certo — e seus argumentos são realmente convincentes — e tenta trazer Percy e Annabeth para o lado de Cronos, sem sucesso. É triste ver Percy ser o que Luke poderia se tornar; é um alívio ver que Percy não se transforma em Luke.

O desfecho

Rick e Becky Riordan na premiere da série. Reprodução: D23

Não podemos falar que a série de Percy Jackson foi uma adaptação ruim dos livros. O roteiro de Rick Riordan e Jonathan E. Steinberg (Black Sails) teve um grande papel nisso, ao adaptar os diálogos, os cenários e a essência dos personagens, aprofundando partes da história que não foram tão bem desenvolvidas na narrativa original e adicionando novas cenas para surpreender tanto os fãs mais antigos quanto os mais novos.

“A mensagem principal de Percy Jackson sempre foi que diferença é força. Existe poder na diversidade. As coisas que nos distinguem uns dos outros são muitas vezes marcas da nossa grandeza individual. Você nunca deve julgar alguém por o quão bem ela entra em suas noções preconcebidas. Aquela criança neurodivergente que foi expulsa de seis escolas, por exemplo, pode muito bem ser o filho de Poseidon. Qualquer um pode ser um herói”

— Rick Riordan, em seu blog

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