Priscilla: a vida além de Elvis Presley

Eduarda Souza
Caderno 2
3 min readFeb 4, 2024

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Dirigido por Sofia Coppola, o longa retrata o lado problemático da história do casal

Foto: A24

“Você é fã do Elvis?” — a pergunta feita a Priscilla Beaulieu logo nos primeiros minutos do filme seria respondida positivamente por qualquer jovem na década de 1960, afinal, Elvis Presley era um dos maiores nomes da música na época. Porém, entre as milhares de fãs do cantor, foi Priscilla, uma garota de 14 anos recém completos, a ser inserida nos bastidores do mundo de fama e conflitos que rodeavam a vida do músico.

A história de Priscilla, contada anteriormente pela própria no livro Elvis and Me, no qual o filme é inspirado, é retratada num ritmo lento, mas que prende o espectador pela sutileza que Sofia Coppola tende a trazer ao tratar de temas complicados em suas narrativas femininas. A personagem principal, que ganha vida através da performance delicada de Cailee Spaeny, expressa perfeitamente o amor e a solidão da jovem constantemente negligenciada emocionalmente. Em contraste com a placidez da personagem, o Elvis Presley de Jacob Elordi é barulhento, agitado, narcisista e temperamental.

Foto: Divulgação

A notável diferença de 10 anos de idade entre os dois é explorada na primeira metade do filme, com falas que questionam o por quê de o cantor escolher Priscilla ao invés de se relacionar com outras mulheres da sua idade. Embora seja o aspecto mais problemático da relação, não é o único: ao longo da trama, Elvis vai se tornando cada vez mais controlador, agressivo e instável, se afastando da esposa e se tornando alheio a sua própria vida de casado.

Embora à primeira vista possa parecer que existe uma falta de aprofundamento nos sentimentos dela, Coppola usa de elementos minuciosos para demonstrar que a vida de Priscilla em Graceland vai perdendo o encanto a medida que a personagem vai se tornando apenas uma coadjuvante em uma hisótia maior. Em momentos, a protagonista se vê tão isolada que se torna quase invisível até para quem asssite, um reflexo do ponto de vista do marido sobre ela.

O filme é de uma solitude claustrofóbica. Com Elvis sempre ausente em turnês e gravações, Priscilla parece somente uma peça que não consegue encontrar seu encaixe na vida de holofotes. Seu amor é deixado de lado, seus desejos são negados e sua vida está sempre sob o controle do marido. Os rumores frequentes sobre casos com cantoras e atrizes famosas e o descaso dele com as preocupações de Priscilla atenuam ainda mais a falta de pertencimento da jovem naquele mundo.

O casamento perde muito da aura de beleza icônica que recebeu ao longo dos anos quando o vemos de um ponto de vista que não tem a tendência de pintar Elvis Presley como uma figura grandiosa, mas sim como o homem que era longe da mídia. É irônico que, ao contrário da maioria das histórias de amor, o final feliz se dê justamente quando Priscilla dá um fim no relacionamento turbulento ao dizer que Elvis a perdeu para uma vida própria, que pertence somente a ela.

Sofia Coppola não falha em, novamente, contar uma história que gera facilmente um sentimente de reconhecimento ou empatia pela figura feminina central. É impossível não se sentir minimamente chocado ou indignado pelas memórias de Priscilla Beaulieu Presley, mas, ao mesmo tempo, encantado com a forma que são trazidas a vida.

Foto: A24

Em Porto Alegre, o filme está em cartaz na Cinemateca Paulo Amorim e estará disponível na MUBI em 1º de março.

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