“Projeto Secreto: A Gaiola das Loucas” volta aos palcos do Porto Verão Alegre com muita comédia, performance e reflexão
O Centro Histórico Cultural Santa Casa recebeu, nesta sexta-feira (27), mais uma edição da peça que completa oito anos de sucesso. Esta é a 6º vez que o espetáculo ganha vida no festival. A equipe da Gaiola divide com o público muita história e expectativa para essa nova temporada.
A obra “Projeto Secreto: A Gaiola das Loucas”, que estreou em 2015, é uma homenagem às pessoas que foram precursoras do movimento drag em Porto Alegre e tem como base um texto francês dos anos 70 — adaptado por Leandro Ribeiro, diretor da peça. O roteiro se baseia na discussão de assuntos que buscam refletir “o que é família?” e quais as concepções que a nossa sociedade cultiva sobre esse tema. Durante a peça, a trama procura se comunicar e mexer com o público de uma forma natural, como em uma conversa, assim, fazendo os espectadores se sentirem dentro da discussão também, sendo um sinal para refletirem sobre suas próprias crenças de uma forma lúdica, simpática, próxima e engraçada. O espetáculo começa antes de iniciar. Desde o momento em que o público entra na sala do teatro, juntamente com o jogo de luzes, o cenário e a música — coordenada pelo energético e dançarino sonoplasta — o público se insere na boate que compõe a peça, ou melhor, na Gaiola das Loucas. As pessoas que assistem entram de cabeça e chegam para se alocar dançando com a música do local, que é original dos anos 70 e 80.
“Família é tudo”
A Gaiola das Loucas é um projeto secreto onde o que se mais deseja é espalhar o que acreditam, o que são e o que sonham e sentem para a população. Eles são vivos, livres e enxergam o mundo com mais encanto. No início do espetáculo, dois dos atores falam com a platéia sobre o tema da peça: o que é família. Eles citam que “família é tudo” e que família é, principalmente, “tudo que o coração bate mais forte”. O teatro se enche de emoção e se surpreende a cada passo que a trama dá. Os aplausos, as danças, as risadas altas, os gritos ficam por parte da plateia, enquanto que a máquina de emoções e a permanência da alta energia vibrante da peça fica entre o sonoplasta e os atores no palco.
Cobertura de catarse cômica com recheio de crítica social
“A comédia tem um poder muito forte de fazer com que as pessoas esqueçam, nem que seja por um segundo, os problemas”, reflete Alexsander Madeira, que interpreta Jean na peça.
Alexsander, que integra o elenco da peça desde 2019, destaca que, assim como o texto também vai se adaptando e se atualizando, a equipe procura beber dessa fonte política, das notícias e das atualidades para não perder essa característica de ser uma crítica social. Durante o espetáculo, é perceptível o quanto o texto está entrelaçado com o atual momento do país, os dilemas e como o roteiro se atualiza constantemente, mantendo a peça viva a cada nova temporada. A Gaiola das Loucas engloba tudo o que o teatro representa, é aberta, interage com seu público, se assemelha com um musical, contém performances que traduzem o sentimento dos personagens cena a cena, além de a todo momento quebrar a quarta parede do teatro e compartilhar suas indignações e seus reais sentimentos com a platéia. Além disso, a identificação com o cotidiano, os dramas pessoais familiares são escancarados de uma forma cômica e muito bem interpretada. A todo o momento nota-se na expressão de cada personagem algo que fala sobre os seus pensamentos, o que nos leva a se encantar com cada detalhe da apresentação.
Segundo Alex, a comédia tem um poder muito forte de fazer com que as pessoas esqueçam, nem que sejam por um segundo, os problemas, a vida e entrem de certa forma numa catarse ao estar ali, naquele momento, prestando atenção naquela história e mergulhando junto, dessa maneira, fazendo uma reflexão sobre os dias atuais. “O espectador que já assistiu a peça vai notar que o enredo continua o mesmo, porque a história e o texto seguem, porém ele vai poder perceber o amadurecimento da peça e também todas as nuances que são acrescentadas em cada nova temporada”, afirma o ator.
Nova produção e busca por recordes
A produção não ficou de fora das novidades e este ano conta com o comando da estudante de relações públicas da UFRGS, Duda Cunha. “O maior desafio é pessoal, é minha primeira produção profissional fora da academia. Está sendo um grande aprendizado colocar em prática toda teoria que tenho visto durante a graduação e espero que corra tudo bem nos três dias de apresentações”. Para 2023, Duda também cita que um dos desafios é trazer ao palco uma temporada que supere as anteriores. “Estamos muito ansiosos para rever o público. Estão todos convidados a se juntarem a nós em algum dos dias lá no Teatro”, comenta a produtora.
Segundo Leandro Ribeiro, diretor do projeto, o público pode esperar um espetáculo ainda mais dinâmico do que as outras edições, pois são mais atores no palco, haverá novas dublagens e muita crítica política e social. “É um prato cheio para a comédia”, destaca Leandro.
O espetáculo ainda estará em cartaz nos dias: 28 e 29 de janeiro, no Centro Histórico Cultural Santa Casa (CHC), às 20h. Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do local ou através do site do Porto Verão Alegre.
Escrito por Daniela Lacerda