Música

Racionais MCs: das ruas de São Paulo para o mundo

Documentário Original Netflix conta a história do grupo de MCs que transformou a periferia através da arte expressiva. Racionais MCs, do Capão Redondo pro mundo.

Nicole Röhers
Caderno 2
Published in
3 min readDec 13, 2022

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Reprodução: Netflix

“O Racionais MCs tem uma missão e não vai parar, certo? A nossa música é da periferia, música de preto…De preto pra preto.”

- KL Jay, integrante do grupo Racionais MCs

Ainda no mês de novembro a plataforma de streaming do Netflix lançou o documentário biográfico da ascensão do grupo Racionais, dirigido por Juliana Vicente. O documentário reúne imagens e vídeos inéditos para relatar a história do lendário grupo. Durante uma hora e cinquenta e seis minutos o espectador viaja pela trajetória de Edi Rock, Mano Brown, Ice Blue e KL Jay.

Reprodução: Netflix

O filme inicia com uma realidade dura e ainda persistente no Brasil. A realidade da periferia que é tão negligenciada no governo brasileiro, onde o jovem não tem perspectiva de futuro ou de vida melhor. Foi com essa mentalidade que Mano Brown cresceu, e dentro dessa mente nasce uma necessidade de prosperar a favela. Assim, o documentário mostra a luta para a anti-marginalização que os Racionais MCs enfrentam.

Durante os anos de 1990 e 2000, o grupo transformou vidas de milhares de jovens brasileiros com o seu rap. A música e a arte que uniam a negritude, fortalecendo os sonhos da juventude negra e favelada. Letras de pura expressão, revolta e sede de mudança. Racionais lutaram pelos seus, sem o apoio da mídia e com toda violência policial ao seu redor. Uma arte de guerra e de esperança de dias melhores.

Ao tratar de violência policial, o documentário cumpre o papel de mostrar a realidade das ações dos agentes dentro da periferia e a influência da arte dos MCs. Nas letras cantadas temos trechos que expressam momentos como os que são mostrados no filme, onde pessoas — e até o próprio grupo — no show são espancadas pela polícia sem justificativa.

“60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais já sofreram violência policial. A cada quatro pessoas mortas pela polícia, três são negras. Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros. A cada quatro horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo. Aqui quem fala é Primo Preto, mais um sobrevivente.”

Capítulo 4, versículo 3 — Racionais MCs (1994)

Cada minuto assistido é digno de arrepio. O filme dirigido por Juliana Vicente tem qualidades surpreendentes de reunir um acervo visual muito forte e raro para ilustrar a história narrada pelos integrantes do grupo.

Reprodução: Netflix

Ao terminar o documentário, o que ficou na minha cabeça foi um pensamento constante de: “onde estaríamos se não tivéssemos tido Racionais MCs?”. O membro do grupo e vocalista principal, Mano Brown, conta que durante os shows ouvia relatos de jovens que ingressaram na universidade devido ao incentivo das letras do rap, que estavam procurando emprego para conseguir sair do crime. Racionais MCs é um ato político, que mostra como é preciso mais do que querer; agir é a melhor forma de fazer mudança.

Para quem é brasileiro, o documentário se mostra uma ótima forma de aprender sobre onde vivemos, sobre como chegamos até aqui e sobre o quanto a representatividade e a expressão são importantes — além de contar a história do grupo. E claro, “acreditar que sonhar sempre é preciso, é o que mantém os irmãos vivos”.

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