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Renfield: nem Bram Stoker teria imaginado o Drácula nessa história

Filme que estreou em maio de 2023 conta com Nicholas Hoult e Nicolas Cage em uma obra cômica e sangrenta

Laura C. Bender
Caderno 2
Published in
3 min readDec 26, 2023

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Foto: Divulgação

“Eu trabalho para o Drácula”

Desde que apareceu pela primeira vez no livro de Bram Stoker, o personagem do Conde Drácula se firmou como o vampiro mais famoso de todos os tempos. Ao longo dos séculos, surgiram inúmeras outras obras que reescreveram sua história e o imaginaram em diferentes contextos, sejam eles mais contemporâneos, ou não.

Uma dessas obras é, de certa forma, “Renfield: Dando o Sangue Pelo Chefe”. Contudo, o filme se distingue das demais releituras de Drácula, já que sua proposta é outra — e muito mais cômica. Agora, ao invés de ser Drácula o protagonista, quem brilha sob os holofotes é um personagem original, criado somente para essa trama: Robert Montague Renfield, o assistente do vampiro.

Interpretado por Nicholas Hoult, que leva seu personagem do choro ao riso em uma atuação notável, Renfield é um personagem fascinante, sarcástico e completamente traumatizado. Antes um simples corretor de seguros, ele foi enfeitiçado pelos encantos de Drácula e aceitou ser seu servo, definindo como seria sua vida pelos próximos séculos. Vivendo ao lado do vampiro por anos, Renfield aprendeu a satisfazer as necessidades de seu mestre e se valeu dos poderes de Drácula, ao comer insetos — sim, insetos — para adquirir a força sobre humana do vampiro e tornar seu trabalho menos difícil.

Já Drácula, interpretado por Nicolas Cage, que está esplêndido nesse papel dramático, é um vilão caricato. Mas isso não o impede de ser um personagem extraordinário ao longo do filme. Cage, com seus anos de prática em atuação, consegue transformar o vampiro mais famoso de todos em um ser das trevas vilanesco que almeja a dominação mundial.

A história do filme começa de verdade quando Renfield, através de um grupo de apoio, percebe que sua vida pode ser muito mais do que apenas comer insetos e servir um vampiro narcisista ao trazê-lo corpos para se alimentar, além de cuidar do lugar onde os dois viviam. No entanto, ele não sabia o caos que sua vida iria se tornar ao tomar essa decisão.

Chega a ser engraçado como, de repente, o filme deixa de ser somente sobre um vampiro e seu assistente e começa a juntar uma família mafiosa — os Lobo — , uma policial determinada a vingar seu pai — Rebecca Quincy, interpretada por Awkwafina — , sessões de terapia em grupo e sangue. Muito sangue. Essa é uma mistura que poderia ter dado absurdamente errado, mas que não foi tão ruim. Pelo contrário, cada um desses elementos possui sua dose certa para preencher o tempo de uma hora e 45 minutos dessa comédia sangrenta, mas divertida.

Então, posso afirmar que “Renfield: Dando o Sangue Pelo Chefe” foi uma boa surpresa. O filme foi, em geral, um entretenimento curto que me tirou boas risadas. Ele tem um sabor de Sessão da Tarde, tendo momentos engraçados e momentos mais profundos, que abordam assuntos negligenciados como relacionamentos tóxicos e dependência emocional.

Por isso, a trajetória de Renfield reflete a realidade de pessoas que estão presas em relações abusivas e que querem se libertar — já que às vezes os humanos narcisistas podem ser até pior que os vampiros — , mas sem perder o gosto por uma história de humor e sangue, que nem mesmo Bram Stoker conseguiria ter imaginado.

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