“Shiva Baby” (2020), de Emma Seligman — Divulgação

Cinema

Shiva Baby e o uso da desordem como forma de entretenimento

Emma Seligman mistura o caos e o humor em seu primeiro filme

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3 min readDec 9, 2021

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Adaptado de um curta-metragem de mesmo nome, “Shiva Baby”, longa de estreia da canadense Emma Seligman, retrata o dia em que a universitária Danielle (Rachel Sennott) esbarra em seu sugar daddy acompanhado de sua esposa e filho em um shivá — o velório dos judeus. Além deste inoportuno encontro, ela também se depara com sua ex-namorada Maya (Molly Gordon) e alguns parentes inconvenientes na mesma casa. Com isso, a estudante precisa achar um jeito de sustentar todas as histórias falsas que criou sem que seja descoberta pelas pessoas presentes.

“Shiva Baby” (2020), de Emma Seligman — Divulgação

Lançado em 2020 no Festival Internacional de Cinema de Toronto, o filme já é aclamado por equilibrar o humor ácido e o sofrimento em breves 77 minutos de duração com um roteiro que conquista os espectadores ao misturar, de maneira orgânica, as situações hilárias e tensas durante a cerimônia de despedida judaica. Os personagens são bem escritos e reforçam a autenticidade de “Shiva Baby”, pois, por mais que tenham personalidades caricatas, as falas e as relações pessoais são construídas naturalmente no ambiente em que estão inseridos, sem tornar as convivências forçadas — e boa parte disso é decorrente dos atores que se sentiram a vontade com os papéis que desempenharam—. Vale pontuar a naturalidade do roteiro acerca da construção da bissexualidade de Danielle, desenvolvida para o desenrolar de sua relação com Maya, sem fazer um queerbaiting desnecessário e artificial.

Assim como o roteiro, a direção de Seligman é uma peça fundamental para o sucesso do filme. Fazendo o uso de planos fechados nos rostos dos vários personagens em um único ambiente, a diretora conseguiu transmitir a sensação de sufocamento da estudante, destacando a claustrofobia sentida por Danielle, que, a cada minuto, estava sendo pressionada pelas suas próprias mentiras e pelos parentes a respeito de sua vida acadêmica, profissional e amorosa, além dos inúmeros comentários a respeito de seu corpo, aparência e outras questões levantadas em reuniões de família. A trilha sonora também é inserida como uma maneira de premeditar um momento de apreensão nesses emaranhados de acontecimentos caóticos, contribuindo para o grande desconforto que paira sobre o enredo do longa-metragem.

“Shiva Baby” (2020), de Emma Seligman — Divulgação

“Shiva Baby” é, portanto, um filme minimalista em sua essência, com poucos cenários, personagens e uma premissa simples. Porém, há um contraste com os acontecimentos exagerados ao longo dos 77 minutos de exibição, pois acompanhamos as consequências das ações de Danielle se tornarem uma grande bola de neve desgovernada na cerimônia judaica. E é justamente esse equilíbrio que faz o longa-metragem ser singular e se destacar entre os filmes do gênero, tornando Emma Seligman uma diretora em ascensão que surpreende e diverte os espectadores com seu excêntrico filme de estreia.

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Estudante de Jornalismo na UFRGS. Fascinado pela rua e suas diferentes histórias. Também escrevo tweets. Gay. Ele/dele.