Cinema

Spencer: Mais do mesmo

Apesar de bem feito, o longa de Pablo Narrin não inova e deixa a desejar.

Maria Fernanda Freire
Published in
2 min readMar 8, 2022

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Spencer. (Reprodução: Diamond Fims.)

Quando assisti o trailer de Spencer, ainda em 2021, minha reação foi revirar os olhos. Mais uma produção sobre Diana. Não me parecia necessário explorar pela enésima vez a mesma história de sofrimento feminino. Nem mesmo a escalação de Kristen Stewart para o papel principal pôde me convencer de que aquela era uma boa ideia. Mas, quando a obra estreou no Brasil em fevereiro de 2022, um misto de tédio, calor e curiosidade me levou ao cinema. Entrei na sala receosa. Saí de lá frustrada.

Esclarecendo: o longa de Pablo Narrin não é ruim. A fotografia de aspecto limpo e cores claras é bonita. Os planos fechados na protagonista são interessantes. O figurino, maravilhoso. A atuação de Kristen Stewart é irretocável, e captura muito bem os trejeitos e maneirismos da Princesa de Gales. Entretanto, me incomoda profundamente a escolha de fazer — mais um — filme que mostra o sofrimento de Diana Spencer, e que explora a deterioração de sua saúde mental. Durante as quase duas horas do longa, os transtornos psicológicos da personagem principal, especialmente a bulimia, são temas recorrentes. Entendo perfeitamente a importância de discutir temáticas abordadas no filme, não estou questionando isso. Porém, toda vez que a história de Diana é retratada no audiovisual, o foco é sua dor. Acontece em Diana (2013), em The Crown (2016) e novamente em Spencer.

O excesso desse tipo de produção é, além de cansativo, prejudicial para a imagem que o público constrói dessa figura histórica. Diana Spencer era filha de um Conde. Tinha duas irmãs e dois irmãos. Era uma atleta e bailarina excepcional. Antes do casamento, trabalhou como babá, como auxiliar de limpeza e como instrutora de dança. Nuances como essas são pouco desenvolvidas nas produções que se propõem a contar sua história. Sim, Diana sofreu no ambiente hostil da família real, e é importante falar sobre isso. Mas ela era mais que uma vítima. Era uma mulher magnética e complexa. As representações de Diana no cinema estão constantemente em agonia, como se a parte mais relevante de sua existência fosse seu martírio. Infelizmente, esse é mais um filme que perpetua essa concepção.

No final, Spencer tenta se redimir, e apresenta uma sequência simbólica, na qual Diana passa o dia com os filhos, vivendo um dia tranquilo e agradável com eles. São momentos bonitos e ternos, que trazem um sopro de esperança depois de todo um filme frustrante. Foram cenas que me deixaram com a sensação de querer mais daquilo. Talvez na próxima.

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