Séries

“Toda Luz Que Não Podemos Ver” me deixou no escuro

Minissérie de quatro episódios estreou dia 2 de novembro na Netflix

Laura C. Bender
Published in
4 min readDec 13, 2023

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Reprodução: Netflix

Baseada no livro homônimo de Anthony Doerr, a minissérie “Toda Luz Que Não Podemos Ver” lançada pela Netflix, tem tudo para ser uma obra que emociona os telespectadores, especialmente os fãs de romances ambientados na Segunda Guerra Mundial: uma moça corajosa, um soldado incompreendido, algo que os une fortemente e um sistema que os separa.

Contudo, à medida que os capítulos da série avançam, percebi que a Netflix — mais uma vez — não soube aproveitar a oportunidade. Com a direção trivial de Shawn Levy (O Projeto Adam) e o roteiro dramático de Steven Knight (Peaky Blinders), a narrativa se debruça sobre os protagonistas e coadjuvantes para que eles carreguem todo o peso dos episódios em suas performances. Graças a isso, os desfalques de elenco da minissérie ficam gritantes, já que alguns atores conseguem interpretar seus papéis com êxito, mas outros, não.

Falando nos atores, “Toda Luz Que Não Podemos Ver” tem três protagonistas: Marie-Laure LeBlanc, a garota cega que luta para sobreviver na França tomada pela Alemanha nazista, Werner Pfenning, um soldado alemão que não nasceu para lutar, e o rádio, meio de comunicação que une os dois.

Marie-Laure, interpretada por Aria Mia Loberti, é uma das únicas coisas surpreendentes nessa minissérie. A atriz, que estreou nas telas com essa produção, dá vida a uma protagonista curiosa, inteligente e corajosa. Não há referências fictícias de outras garotas cegas que desafiam nazistas ao transmitirem broadcasts ilegalmente, e que ainda protegem um diamante precioso das garras do Führer. Também vale mencionar que, assim como sua personagem, Loberti possui deficiência visual. Por isso, tenho certeza que Marie é única, e o fato de a atriz conseguir transmitir essa originalidade em sua atuação mostra que a Netflix obteve ao menos um acerto ao escalá-la para o papel.

Reprodução: Netflix / Aria Mia Loberti como Marie-Laure LeBlanc

Porém, não posso afirmar o mesmo de Louis Hofmann, ator que interpreta Werner Pfenning. Seu personagem é um órfão apaixonado pelo rádio, que chama a atenção do governo hitlerista por sua genialidade e torna-se um soldado do Terceiro Reich. Hofmann dá a Werner um sorriso simpático, mas, infelizmente, sua atuação não nos emociona tanto quanto a de Loberti — e seu personagem também não é de grande ajuda para que o ator consiga torná-lo original. Existem muitas referências em filmes e livros de soldados nazistas que, na verdade, estão em conflito com o próprio regime que são obrigados a defender. Werner, com a exceção de sua paixão pelo rádio, é igual a todos eles. Sua determinação e coragem me tiraram, no máximo, uma pequena satisfação, mas nenhuma surpresa.

Reprodução: Netflix / Louis Hofmann como Werner Pfenning

Além disso, há o terceiro protagonista: o rádio, que não é interpretado por nenhum ator propriamente, mas está presente desde o início e exerce diversas funções dentro da trama. Ele não só é o veículo que permite Marie realizar suas transmissões ilegais, mas também é o símbolo da união entre Marie e Werner desde sua infância, mesmo que os dois não se conhecessem. A questão é que Marie e Werner escutavam o mesmo programa de rádio na frequência 13.10, e esse fato é o ponto de partida da relação dos dois. Por isso, o rádio é tão importante. Ele é, de certa forma, a luz perdida em “Toda Luz Que Não Podemos Ver”.

Mas, como a narrativa não sobrevive somente com protagonistas, a minissérie também tem uma gama de personagens secundários. Entre eles estão Daniel LeBlanc, pai de Marie, interpretado por Mark Ruffalo (Hulk), Etienne LeBlanc, interpretado por Hugh Laurie (House), e o grande vilão da trama, o sargento Reinhold von Rumpel, de Lars Eidinger (High Life). Todos esses personagens — especialmente o de Lars — poderiam ser melhor aproveitados com mais tempo de tela, mas a Netflix os deixou apenas caricatos, com a desculpa de que eles são, na verdade, misteriosos.

Porém, ainda cabe uma menção aos pontos positivos da trama, além da atuação de Aria Loberti: o cenário da França na Segunda Guerra. A minissérie reconstrói muito bem o local de Saint-Malo, uma cidadezinha francesa destruída pelos bombardeios, apostando em uma cenografia e fotografia que retratam ao telespectador como era, em cores e imagens, viver nessa época tomada por medo e apreensão, resistência e humanidade. As bandeiras, os figurinos, os prédios e paisagens, tudo está onde deveria estar.

Então, fica nítido que “Toda Luz Que Não Podemos Ver”, apesar de contar com a atuação de Aria Loberti, a presença marcante do rádio e uma cenografia e fotografia bem elaboradas, não pode se sustentar apenas nisso. Muitos elementos entretêm o público, mas muitos deixam a desejar. Até mesmo o final, que é tão entediante quanto o resto da narrativa ao tentar fazer o telespectador se emocionar e derramar uma lágrima, conseguiu somente fazer os créditos subirem e eu desligar a televisão. Nada fica. Nada emociona. “Toda Luz Que Não Podemos Ver”, antes mesmo de terminar, já me deixou no escuro.

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