Literatura

Todo dia a mesma noite: a história não contada da boate Kiss

O livro de Daniela Arbex conta a história de diferentes famílias que possuem a dor como denominador comum

Vitória Silveira
Caderno 2
Published in
2 min readJan 8, 2023

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Reprodução: Roendo Livros

A importância de não esquecer uma tragédia. Através de um olhar sensível, a obra da jornalista Daniela Arbex cumpre este papel ao sintetizar a madrugada de 27 de janeiro de 2013, quando 242 jovens morreram — e mais de 600 ficaram feridos — no incêndio da boate Kiss, no município de Santa Maria. A tragédia é considerada a segunda maior da história do país, pelo número de vítimas.

O livro, publicado em 19 de janeiro de 2018, reúne depoimentos angustiantes de vítimas sobreviventes, familiares de vítimas, profissionais de saúde e demais envolvidos no incêndio, a fim de reconstruir a fatídica madrugada em diferentes perspectivas. Além disso, a obra relata a indignação após a tragédia e como aqueles que sobreviveram seguiram suas vidas, revivendo todos os dias a noite do incêndio. A narrativa carregada de emoção é capaz de transportar o leitor para a trágica data através dos relatos de testemunhas.

“Este livro é uma recusa ao esquecimento. Ao tomá-lo nas mãos, você estará participando do imenso esforço coletivo para fazer da memória um instrumento de conforto e respeito à dor alheia”, diz o jornalista Marcelo Canellas, responsável pelo prefácio. Por meio da obra, a autora admiravelmente dá às vítimas da Kiss um nome, uma identidade e uma história, humanizando o que outrora era somente um número. A partir disso, se resume o objetivo do livro em fazer da memória das vítimas um compromisso social.

A escrita potente, característica de Arbex, conduz o leitor de maneira fluida a uma história instigante. A descrição detalhada da autora é capaz de prender a atenção de qualquer pessoa ao ler a obra. Apesar de retratar uma narrativa densa e profunda, de maneira empática, a escrita dá um ritmo envolvente ao livro.

Todo dia a mesma noite, através de uma leitura dolorosa, apresenta a função de denúncia social que um livro é capaz de evidenciar, eternizando um acontecimento para que este não seja esquecido nem banalizado.

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