Crítica

Um lugar bem longe daqui tenta se agarrar à atuação de Daisy Edgar-Jones para salvar a trama

Baseado na obra de Delia Owens, o filme deixa a desejar no mistério que promete ser

Cecilia Martini
Published in
3 min readSep 1, 2022

--

Daisy Edgar-Jones como Kya | Reprodução: Sony Pictures

Um lugar bem longe daqui, adaptado da obra de Delia Owens, acompanha a história de Kya (Daisy Edgar-Jones) — conhecida como a Menina do Brejo em sua cidade, Barkley Cove na Carolina do Norte. Alternando entre seu passado, como uma criança que cresce com um pai abusivo, e o presente, como a principal suspeita em um assassinato local, a adaptação é dirigida por Olivia Newman. Ao longo do filme, desenvolve-se a narrativa que mostra como a jovem chegou a situação em que se encontra, bem como seu subsequente julgamento por um crime que aparentemente não cometeu.

Como ponto alto do longa é possível citar, sem dúvidas, sua fotografia. Com suas belas paisagens do pântano e as cenas de um pôr do sol que parece uma pintura, a atmosfera que se cria é de um lugar quase místico. Tudo isso conversa muito bem com a figura da personagem de Daisy Edgar-Jones, uma pessoa reclusa encarada por seus conterrâneos como uma lenda urbana — além de alguém que não merece ser incluída na comunidade.

Reprodução: Sony Pictures

Para além do lindo plano de fundo do filme, no entanto, a trama não surpreende muito. A narrativa, que se propõe logo no início como um mistério, quando o corpo de Chase Andrews (Harris Dickinson), o queridinho da cidade, é encontrado no brejo, acaba parecendo apenas um romance adolescente sem grandes revelações — contando até com um triângulo amoroso que também inclui o amigo de infância da protagonista Tate (Taylor John Smith). As cenas que se passam no tribunal — protagonizadas por Tom Milton (David Strathairn), advogado de Kya — , parecem servir apenas para preencher lacunas deixadas no enredo, de tão fora de contexto e pouco exploradas que são. Além disso, a narração feita por Kya parece uma forma preguiçosa de reproduzir a história exatamente como no livro, sem uma maior preocupação em produzir um filme de qualidade o bastante para se sustentar sozinho.

Reprodução: Sony Pictures

Mesmo com as condições adversas sob as quais a personagem de Kya cresce e os temas sérios abordados para contar sua trajetória, o desenvolvimento da personagem ainda parece raso e impessoal, assim como o de todos os outros que fazem parte da história. Um dos possíveis motivos para isso pode ser o ritmo dos acontecimentos, que parece extremamente apressado. Ainda que a atuação de Daisy Edgar-Jones seja impressionante — talvez por ser boa apesar das circunstâncias — ela continua não sendo o bastante para segurar o filme em suas costas. Contudo, destaca-se também a performance de Jojo Regina, atriz que interpreta Kya quando criança. Jojo é muito bem sucedida na forma como retrata a parte mais dura da história da protagonista em sua infância conturbada.

Jojo Regina como Kya | Reprodução: Sony Pictures

A adaptação, mesmo que um pouco decepcionante — o que pode ser reflexo da expectativa frente ao sucesso do livro — consegue emocionar em alguns momentos. Sua ambientação merece destaque, bem como a linda trilha sonora, que conta com uma canção original de Taylor Swift, Carolina.

Um lugar bem longe daqui chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (01)

--

--