Televisão

Viajando com os Gil reforça talento que vem de berço

A série documental acompanha a turnê da família pela Europa e Marrocos que celebra os 80 anos de Gilberto Gil

Vitória Silveira
Caderno 2
Published in
4 min readJul 12, 2023

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Pôster de divulgação da série Viajando com os Gil
Foto: Divulgação

A segunda temporada da série Família Gil, produzida pela Conspiração Filmes e dirigida por Andrucha Waddington, teve estreia no dia 30 de junho na Amazon Prime Video. Através de seis episódios, o reality acompanha a turnê histórica de Gilberto Gil e outros 26 membros da família, que durante 36 dias atravessaram dez países em 2022. Esta foi a primeira vez que somente a família esteve no palco, em 15 apresentações da turnê “Nós, A Gente”.

A produção explora de modo intimista a relação da família, que vai desde momentos de afeto até conflitos que surgem naturalmente a partir da convivência. Nesta temporada, é possível acompanhar os bastidores do show que foi organizado na temporada anterior, Em casa com os Gil, e o que acontece entre uma apresentação e outra pelo Velho Mundo. Alguns desses momentos são o casamento de Maria — filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha — , na Itália, o “perrengue chique” do extravio das malas em que estavam os instrumentos musicais, coletivas de imprensa, passeios turísticos e a participação da família na cerimônia Gnawa — ritual espiritual da música da África negra — , no Marrocos. Tudo isso repleto de muita musicalidade, do início ao fim.

Além dos sete filhos, 12 netos, uma bisneta e outros agregados à família, a série conta com a participação de figuras que se encontraram com o clã Gil durante a turnê internacional. Entre elas estão Marisa Monte, Xamã, Juliette, Fernanda Paes Leme e Thaynara OG.

Apesar do elenco ser extenso e cheio de personalidades únicas a serem exploradas — algumas delas já conhecidas pelo grande público, como Preta e Bela Gil — , é interessante como a série sabe exatamente como e, principalmente, quando dar foco a cada núcleo familiar, ao abordar seus diálogos e complexidades. A construção da narrativa é feita no timing certo, preenchendo os cerca de 40 minutos de tela de cada um dos episódios. Ao dar início, é inevitável o desejo de não parar mais de ver. Quando se dá por conta, a série já está finalizada.

O que não surpreende nem um pouco é o talento da dinastia que vem de berço. Para além dos belos vocais e talento com os instrumentos, os Gil ocupam o palco com carisma e emoção. As crianças — Sereno, Nino e Sol de Maria — fazem parte do show com uma guitarra e microfones falsos. Mesmo os integrantes da família que não cantam nem tocam, participam dos bastidores ao produzir o show. A energia artística e nostálgica é tão potente que ultrapassa a tela, fazendo com que você se sinta como um membro a mais da banda viajando pela Europa.

Diversas cenas são gravadas pelos próprios familiares através de um celular. Esta informalidade confere ao reality aproximação e intimidade com o público, que também são percebidas nos momentos de diálogos informais. Um assunto recorrente entre filhos e netos ao longo dos episódios é como cada um sente e lida com a pressão profissional de ser parte da família Gil.

Um elemento divertido a se destacar é quando o mesmo acontecimento continua em tempo e espaços diferentes, como por exemplo o momento do show em que o patriarca apresenta cada um dos familiares e, ao longo da cena, vão se alternando os palcos e países onde ocorreu.

Para quem somente agora viu o termo “reality” associado à família Gil e, pelo formato popular de televisão, imaginou brigas à la Keeping up with the Kardashians, pode se decepcionar. A série aborda com leveza e naturalidade o cotidiano da família e a sensibilidade que há mesmo nos conflitos. Fora das apresentações e ensaios, a música também se faz presente. Qualquer conversa dos Gil se encerra com uma cantoria, como uma verdadeira família musical.

Viajando com os Gil é um documento histórico de uma turnê também histórica. Como uma homenagem aos 80 anos do imortal da Academia Brasileira de Letras, Gilberto Gil, a série reforça a riqueza que existe no legado do artista, além de destacar ao público o principal elo que une a família, em suas quatro gerações: a arte. O reality serve como um lembrete da perenidade do trabalho de Gil, que não se finda nele, mas tem continuidade através dos frutos de sua árvore genealógica. Os elementos da dinâmica familiar e a atemporalidade das músicas só fazem enriquecer a obra, que definitivamente vale a pena ser assistida.

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