Apresentação das Propostas do Bom Senso F.C.

Eduardo Tega
Caderno de Campo
Published in
5 min readMar 19, 2014
BSFC

Dia importante para o futebol brasileiro: evento de apresentação das propostas do Bom Senso (Jogo Limpo Financeiro e Calendário), no último dia 17 de março. Na foto: Rafael Silva, Juan, Alex, Rogério Ceni, Chatô e este que vos escreve.

Texto do Paulo André, divulgado através de um vídeo, na abertura do evento:

“É um prazer estar aqui com vocês. É claro eu gostaria de estar fisicamente presente para poder cumprimenta-los e participar das discussões sobre melhorias para o nosso futebol mas perdi o voo e não conseguirei chegar a tempo. rs. Não tenho dúvida de que o dia de hoje ficará marcado e será fundamental para sacramentar as boas intenções do Bom Senso para com o futebol brasileiro.

Quando eu liguei para o Alex a primeira vez, em meados de setembro do ano passado, chegamos a uma conclusão em menos de um minuto. O futebol praticado no Brasil está ruim. Devo lembrá-los que naquele momento estávamos jogando às quartas e aos domingos há mais de 10 semanas consecutivas. Estávamos fisicamente cansados, mentalmente sobrecarregados… Mas aquela conversa tratava de algo bem mais importante.

O que mais me chamou a atenção naquela conversa foi ver a paixão com que o Alex falava sobre o futebol brasileiro. Paulo, ele dizia, o potencial é gigantesco mas extremamente mal explorado. Precisamos fazer alguma coisa. E assim começou essa ideia de ligar para os principais jogadores do país e pedir a participação deles neste processo de discussão de melhorias para o futebol brasileiro. Como vocês bem sabem, de lá para cá, muita coisa aconteceu…

Cruzamos os braços, sentamos no chão e esperamos uma resposta da CBF e das Federações que até agora não aconteceu. Reunimos mais de 1000 atletas para reivindicar melhorias, não só para a categoria, mas principalmente, para salvar o nosso querido futebol.

Eu particularmente já cansei de explicar que o Bom Senso não tem papel de Sindicato de Atletas. O Bom Senso é um movimento PRÓ FUTEBOL. Ele está muito mais próximo de ser uma “entidade sombra” da CBF, que é quem deveria fazer esse papel de proteger e desenvolver o patrimônio público que é o futebol brasileiro, do que de ser um sindicato de atletas que busca mais empregos e salários em dia.

Para a CBF falta projeto, compromisso, responsabilidade, paixão e visão.

E nós jogadores que poderíamos só jogar futebol decidimos fazer mais do que isso. Resolvemos parar de reclamar e apontar os culpados e colocamos as mãos na massa para produzir esse material que será apresentado para vocês hoje. Que ele sirva ao menos para forçar o futuro presidente da CBF, seja ele quem for, a se comprometer e apresentar um projeto para os próximos 4 anos de sua gestão.

Esta é a nossa contribuição à saúde e ao fortalecimento do futebol brasileiro.

É evidente e lógico que não há espaço para todos e tantos aspirantes a jogador de futebol no nosso país. Mas independente disso, não podemos mais aceitar tamanha irresponsabilidade fiscal e salarial praticada por clubes sem que seja tomada uma medida exemplar por parte das Federações e da Confederação Brasileira de Futebol. O Fairplay financeiro proposto pela Federação Paulista em parceria com o sindicato dos atletas é insuficiente, é ineficaz.

Eu agradeço, em nome do Bom Senso, a boa vontade do Sr. Marco Polo Del Nero e do Sr. Rinaldo Martorelli pela tentativa louvável de colocar fim ao não cumprimento dos contratos dos jogadores mas peço a ambos que reconheçam que infelizmente esse modelo não funcionou como deveria.

E é aí que mora o perigo.

Porque provavelmente por esse motivo de não funcionar tão bem, é que os clubes e a CBF querem aplicar o modelo em todo o Brasil. A quem estamos tentando enganar?

Já passou da hora de evoluir. Passou da hora de fecharmos o cerco contra os corruptos, contra os mau pagadores. Mesmo que fechar o cerco, senhores dirigentes, signifique um risco político e menos votos na próxima eleição.

Saibam vocês que fechar o cerco significa defender o futebol brasileiro, significa defender os clubes brasileiros e defender o produto do qual a maioria das pessoas que está aí nesta sala vive e sobrevive, que é o nosso querido futebol. Um futebol forte, um futebol de qualidade.

E para concluir este assunto, falarei pela enésima vez: Se os clubes começarem a gastar apenas o que arrecadam, a primeira consequência será a regulação do salário dos atletas. E quando eu digo regulação eu quero dizer que é bem provável que haja uma redução. E qual o problema disso? Pergunte a qualquer jogador que está presente no seminário sobre isso e veja o que ele tem a dizer. Outra coisa, se alguns clubes jogarem um pouco menos e alguém acreditar que isso reduzirá suas receitas saibam que quem mais sofrerá com isso são os próprios atletas pois o mercado há de ajustar as contas. Porém, e gostaria que gravassem isso em suas cabeças para me cobrarem lá na frente, eu sou otimista e acredito num aumento considerável de arrecadação dos clubes com a valorização do produto futebol… Quem viver verá!

Deixo uma pergunta para vocês: Se os atletas aceitam cortar na sua própria carne por um futebol mais sustentável, qual é a resposta dos dirigentes quando tentamos responsabilizar o gestor pela má gestão? Porque não aceitam isso? …

Bom, e para não me estender ainda mais preciso falar rapidamente sobre o calendário. Voces hão de convir que não dá mais para aceitar a desculpa de que o Brasil é um país de dimensões continentais e, por esse motivo, desistir de lutar por um calendário mais democrático e inclusivo, que fomente, estruture e desenvolva regiões sem tanta tradição no esporte.

Os campeonatos estaduais foram importantíssimos e contribuíram muito para a construção do futebol pentacampeão do mundo. Não há como negar. Assim como não podemos negar que a máquina de escrever, o 286, 386 e o 486 (aqueles computadores que vcs se lembram bem) foram extremamente eficazes em algum momento da história para que o homem pudesse escrever grandes textos e livros. Só que a genialidade para escrever está na cabeça dos homens e mulheres, assim como a genialidade para se jogar futebol está no pé do brasileiro e não em um formato de campeonato que não funciona mais. Esse saudosismo não pode nos impedir de seguir em frente. Ou alguém aqui ainda usa alguma dessas relíquias para trabalhar?

O estadual é importante, faz parte da cultura do torcedor, alimenta as rivalidades regionais. Ele não pode acabar. Mas ele também não pode continuar como está. Espero que o Eduardo Tega e o meu querido amigo Chateaubriand consigam apresentar a nossa proposta de calendário com maestria.

Lembrando que a ideia do Bom Senso na produção desse calendário foi não mexer nem alterar nenhum formato das competições internacionais (como a Libertadores ou a Sulamericana) pois seria impossível conseguir essas mudanças com a urgência que o futebol brasileiro precisa. Se pensarmos em internacionalização das marcas, fortalecimento dos clubes brasileiros pelo mundo, etc… provavelmente teríamos ou teremos que adequar o nosso calendário ao europeu e pressionar radicalmente a Comenbol para ajustar as datas de suas principais competições. Não é o caso neste momento. A nossa prioridade é fortalecer o campeonato Brasileiro e torna-lo tão qualificado e exclusivo quanto os principais campeonatos europeus.

Mais uma vez agradeço a presença de todos e espero revê-los em breve.”

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Eduardo Tega
Caderno de Campo

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