Henrique Capeleiro Maia
Cadernos da Teimosia
2 min readAug 17, 2016

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O meu “teorema do macaco infinito”

Um chimpanzé sentado à beira de uma máquina de escrever, ca. 1907

Segundo o teorema do macaco infinito, “um macaco batendo ao acaso nas teclas de uma máquina de escrever ao longo de uma quantidade de tempo infinita quase certamente iria produzir um determinado texto, tal como as obras completas de William Shakespeare.” And there it goes. Não é o meu objetivo aqui ficar a discutir a validade do teorema. Não sou matematicamente competente para fazê-lo.

Não se tratando da matemática, trata-se, sim, de demonstrar que eu, o autor que vos escreve, sou esse tal macaco do teorema acima proposto. Ou seja, eu sou o tal macaco que, ao escrever coisas ao acaso num teclado, acaba, eventualmente, por “produzir um determinado texto”, excerto ou paráfrase de uma obra de algum autor conhecido. Sim, sou esse macaco; e vou demonstrá-lo.

A história da escrita é também a história do humano — o primata que escreve. Sendo que todos os escritores, conhecidos ou não, da história eram macacos, e sendo que todos esses macacos iam, ao acaso, experimentando com a escrita, eventualmente, um desses macacos acaba “por produzir [o tal] determinado texto” a que alude o teorema.

Portanto, eu, e todos os outros, somos o tal macaco a escrever ao acaso sem limite no tempo. Eventualmente, um de nós, eu ou qualquer um dos outros, acaba por tropeçar no “determinado texto”, dando assim razão ao teorema.

É facto histórico; e tem os dois pés assentes na biologia. Eu, o macaco que escreve ao acaso. Filosofia como acidente, exercício arbitrário da escrita. Havendo quem escreva, com paciência, lá calha. O protagonista não sendo o grego macaco — mas o acaso do seu texto.

Originally published at filovida.org on August 17, 2016.

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