Sonata em Mim Menor, Op. 1
Quase que Andante
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4 min readNov 2, 2016
<lento>
<quase>
Frase. Curta. Bruma. Quase.
Quase que uma frase. Som.
Soa a frase. Soa Quase.
<pausa> </pausa>
Mais Frase. Menos bruma. Mais quase.
Quase que bruma, quase que frase.
Soa a frase ou sou a bruma?
<pausa> </pausa>
Quase que é frase. Não é bruma; nem quase.
Frase, bruma, bruma que é frase.
Soa a frase, soa a bruma, sou quase.
<pausa> </pausa>
</quase>
</lento>
<andante>
<impaciente>
Quando? Quando era a pergunta que ficava
enquanto perguntava: quando? Entretanto,
quando perguntava quando, entre o quando
e o tanto quanto perguntava, quando não
respondia ao quanto era perguntado. Quando?
</impaciente>
<enamorado>
Naquela tarde de fim de outono, o sol ia baixo
pedindo do horizonte o fogoso abraço que as
nuvens coroavam. A brisa, fresca, prometia ao
de leve a noite fria da abóboda estrelada que
aos poucos se convidava. Não havia motivo;
tampouco se percebia como. O que aconteceu quase
que podia ser escrito. Tudo estava presente —
exceto o poeta que já partira.
</enamorado>
<impacientemente enamorado>
Naquela tarde de fim de outono, a brisa, fresca,
não convidava. Quando havia motivo, a pergunta
estava ausente. O poeta, enquanto não respondia,
pedia do horizonte o fogoso abraço que lhe faltava.
O sol, as nuvens, a noite fria. Tarde percebia que
era tarde para a pergunta: quando?
</impacientemente enamorado>
<impaciente>
Quando? Quando era a pergunta que ficava
enquanto perguntava: quando? Entretanto,
quando perguntava quando, entre o quando
e o tanto quanto perguntava, quando não
respondia ao quanto era perguntado. Quanto?
</impaciente>
<enamorado>
Naquela tarde no fim do outono, o sol ia baixo
pedindo o horizonte no fogoso abraço que as
nuvens coroavam. A brisa, fresca, prometida ao
de leve à noite fria da abóboda estrelada,
aos poucos se convidava. Não havia motivo;
tampouco se percebia como. Quase que aconteceu
o que podia ser escrito. Tudo estava presente —
exceto o poeta que partira.
</enamorado>
<impacientemente enamorado>
Naquela tarde, naquele fim do outono, o sol, baixo
pedia o horizonte no fogoso abraço que as
nuvens coroavam. A brisa fresca, prometida, perguntava
de leve, aos poucos, à noite fria que entretanto
na abóboda estrelada não respondia. Não havia quando;
tampouco se percebia quanto. Quase que aconteceu
entre o tanto que podia ser escrito. Tudo era pergunta —
exceto o que o poeta havia perguntado.
</impacientemente enamorado>
<quase que enamorado quase que impaciente>
Quando? Quando, quando, quando? Naquela tarde...
O Outono pedia o horizonte prometido.
A pergunta ficava: o poeta partira?
Entretanto, a noite fria, estrelada, pedia,
sem motivo, por um sol fogoso que aos poucos lhe fugia.
Quanto mais se percebia a pergunta, mais o abraço
se escapava entre o tanto que não era perguntado.
Poeta, lhe dizia, deixa escrito, coroa com nuvens tantas
quantas as leves promessas suspiradas pela brisa. O sol, lá em baixo, presente em tudo quanto
se percebia, quase que numa frase em bruma
se fazia. A noite reclamava, perguntava tanto
quanto respondia, e na abóboda estrelada não
encontrava motivo que justificasse. Leve, como
a brisa, fogoso como o horizonte, o outono,
naquela tarde, chegava ao fim.
Quanto à pergunta, tanto o poeta quanto
a noite não respondiam, tampouco percebiam
a pergunta. Não havia motivo nem como; era a pergunta,
a frase, a bruma. E uma a uma, entretanto, entre o quando
e o tanto quanto era perguntado, o poeta, a noite, a brisa,
o frio sem motivo, o abraço fogoso, tudo estava presente,
exceto o frio, a noite, a brisa, o poeta e a pergunta.
Quanto mais as nuvens os cercavam naquela fria tarde
de outono, o sol, ao de leve, percebia como tudo
podia ser escrito. Bruma, bruma, impaciente
lhe perguntava, seria possível estar presente
quando o poeta o abraçasse?
Numa frase curta, enquanto o sol ia pedindo,
o poeta respondia à pergunta num som que era
quase quase tudo. Fim do outono, a brisa prometida
não correspondia nem soprava. O horizonte da noite fria
não percebia, tampouco respondia e a brisa,
ao de leve, num abraço que só as nuvens compreendiam,
percebia que o presente estava escrito
e que noite já partira.
Quando? Quando era a pergunta que ficava.
Quando? Quando não respondia ao quanto era perguntado.
Quando, era a pergunta. Quanto, quanto fora perguntado.
Quando?
Quando?
Quando?
Quase...
Quase que soa...
Quase que soa a frase...
</quase que enamorado quase que impaciente>
<impaciente>
Quando? Quando era a pergunta que ficava
enquanto perguntava: quando? Entretanto,
quando perguntava quando, entre o quando
e o tanto quanto perguntava, quando não
respondia ao quanto era perguntado. Quando?
</impaciente>
<enamorado>
Naquela tarde de fim de outono, o sol ia baixo
pedindo do horizonte o fogoso abraço que as
nuvens coroavam. A brisa, fresca, prometia
a noite fria que aos poucos se convidava.
Não, não havia motivo; tampouco se percebia
o que acontecia. Quase que podia ser escrito.
Quase que presente. O poeta que já partira.
</enamorado>
<impacientemente enamorado>
Naquela tarde, fim de outono, a brisa não convidava.
Quando havia motivo, a pergunta estava ausente.
O poeta não respondia. O horizonte era o abraço
que lhe faltava. A noite fria tarde percebia que
era tarde para a pergunta que fazia.
</impacientemente enamorado>
<impaciente>
Quando? Quando era a pergunta que ficava
enquanto perguntava: quando? E não respondia.
</impaciente>
<enamorado>
Naquela tarde era o fim. O outono pedia o fogoso
abraço a brisa, fresca, prometia. À noite, a abóboda
estrelada não tinha motivo. Quase, quase que aconteceu
ficar escrito. O poeta estava finalmente presente.
A noite havia terminado.
</enamorado>
<impacientemente enamorado>
O sol ia baixo. A noite era fria.
Quase que bruma. Quase que frase.
Quando?
Quase.
<pausa>
</pausa>
Quase.
<pausa>
</pausa>
Quase.
</impacientemente enamorado>
</andante>