Driblando a retranca

Luísa Almeida, 19 anos, dá suas impressões sobre o crescer mulher gostando de futebol.

CAETANA
CAETANA MAG
5 min readJul 11, 2018

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Luísa, aos 11 anos, entrando em campo com o Galo.

Conhecemos Luísa pelo twitter. Nessa copa, sua irreverência e conhecimento sobre os times e jogadores chamaram a atenção de vários perfis. Inclusive do nosso, que sabe muito pouco de futebol. Conseguimos acompanhar seus comentários durante o jogo sem dificuldade, e rimos com os memes e sua empolgação. Luísa nos provocou fascínio e curiosidade. Nessa época de tanto futebol, seleções, gols perdidos e Neymar caindo, nos surgiu a seguinte dúvida: Como deve ser para uma garota crescer com essa paixão em um país que ainda trata o futebol como “coisa de homem”?

Convidamos Luísa para falar um pouco sobre sua paixão e como ela ainda tem que enfrentar um adversário sempre retrancado: o machismo.

Luísa cobriu os jogos para o clube de sua cidade, o Esporte Clube Democrata.

Certa vez, minha prima de dez anos de idade me perguntou: “Lulu, porquê não existe futebol de mulher?”. E essa frase veio como um tiro bem no meio da minha cara. Em todos os meus 19 anos de vida eu sempre amei e vivi futebol. Sempre busquei traçar o meu lugar dentro do futebol e merecer tudo o que eu já conquistei até hoje — isso com apenas dezenove anos de idade. É claro que eu e você sabemos que existe “futebol de mulher”, que esse esporte não é condicionado a um sexo específico. Sabemos que nosso lugar, como mulheres, é onde nós quisermos, inclusive dentro do futebol. No entanto, esquecemos de uma parte fundamental dentro da nossa luta diária por respeito e inclusão dentro do futebol: alertar às nossas crianças, nossas meninas, que elas também terão que lutar contra o machismo para conseguirem esse lugar também. E, principalmente, esquecemos de lutar juntamente com elas.

Minha prima de dez anos de idade não está errada em me fazer essa pergunta, uma vez que ela está crescendo em uma sociedade machista e misógina, que não enxerga o lugar da mulher dentro do futebol. Precisamos mostrar, lutar e contar a nossa história; traçar uma rede de vivências juntamente com todas as meninas e mulheres, para que possamos ocupar o nosso lugar por direito. Por isso, pensei em contar um pouquinho da minha trajetória dentro desse esporte maravilhoso.

Como disse aí em cima, eu sempre respirei futebol. Aos sete eu já era uma das melhores da minha escola a jogar bola. E não, é claro que os meninos não me deixavam jogar. ​Com dez, onze anos eu já acompanhava, sozinha, o melhor time da história, que é o Barcelona de 2009. Cresci vendo o Barça jogar por livre e espontânea vontade, não foi ninguém que sentou minha bunda na cadeira e me “explicou” (alô ​mansplaining) o que era aquele time e porque era um timaço. Aos 11 anos eu entrei em campo com os jogadores do Galo, meu time, quando foram jogar na minha cidade.

Aos 15 eu já usava meu twitter pra falar ​exclusivamente de futebol. Com 16 anos eu comecei a colecionar o álbum de figurinhas da Copa do Mundo de 2014 sozinha. E não completei, já que os meninos da minha sala não trocavam figurinhas comigo, só com os outros meninos.

Aos 18, comecei a filmar e tirar foto para o clube de futebol da minha cidade (Esporte Clube Democrata). No mesmo ano, eu tive minha primeira foto futebolística publicada nada mais nada menos que no site da CBF, a maior instituição de futebol brasileiro. E cobri toda a campanha do Democrata para ser campeão mineiro do Módulo II.

A foto de Luísa no site oficial da CBF.

Hoje em dia eu uso o meu Twitter (@itsluisaalmeida) pra falar exclusivamente sobre futebol e quase todos os campeonatos do mundo praticamente, até mesmo o EscocezãoTM que ninguém nunca nem viu. E mais recente, dentro da minha trajetória dentro do futebol, fui convidada para ministrar um curso na minha universidade sobre História e Futebol durante a Semana de História. Além de estar produzindo um documentário (ELAS — Ainda Que Tardia) sobre a torcida feminina do Galo, Cruzeiro e América durante a época da ditadura militar no Brasil.

Isso tudo que escrevo não é com intenção de me gabar, ou até mesmo, me mostrar superior a qualquer menina. Mas sim, para mostrar à minha priminha de dez anos de idade, às outras meninas que gostam de futebol e às outras mulheres que nós temos que ter o nosso lugar dentro do futebol garantido. E já que não serão os homens que nos darão esse lugar de fala lá dentro, que possamos empoderar e incentivar nossas amigas e parceiras que tentam, todos os dias, lutar mais e mais para conseguir o nosso reconhecimento dentro e fora das quatro linhas do campo de futebol.

Luísa Almeida é mineira e escreve diariamente em seu twitter e instagram:
twitter.com/ItsLuisaAlmeida e instagram.com/ItsLuisaAlmeida
Contato: itsluisaalmeida@gmail.com

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