Sobre sermos maravilhosas

CAETANA
CAETANA MAG
Published in
5 min readSep 4, 2017

Eu gosto de pensar na Caetana como um ponto de encontro entre mulheres, além de uma produtora. É sempre emocionante quando marcamos uma reunião com alguma mulher. Ela abre as portas de suas casas para nós, ou vice-versa e tudo flui muito naturalmente. Talvez porque esse seja um ambiente seguro.

Não tem jogos de interesses, brigas de ego. Apenas afeto e vontade de compartilhar.

Há algumas semanas fomos entrevistar a Graziela Meyer. Há algum tempo estávamos interessadas em saber mais sobre seu negócio, o “Maravilhosas Corpo de Baile: Ame Seu Corpo Dançando”.

“Coletivo de minas maravilhosas em busca de uma relação de amor, leveza e liberdade com seus corpos. Aulas de Pole & Dança, shows, workshops e aulonas especiais: a gente faz!”

O “Maravilhosas” não é sobre ser fitness. Muito menos sobre fazer pole para ficar magra. Graziela resolveu focar em outro tipo de cliente. As clientes que não se sentem confortáveis em ambientes em que esse é o foco. O foco é esquecer a mentira que nos contam: de que nossos corpos são inadequados.

Nas aulas, o corpo passa a ser um instrumento de trabalho e não mais um objeto. Então o formato de seu corpo importa para outras coisas, muito mais importantes do que servir à um padrão estabelecido pela sociedade. Você passa a aproveitá-lo para a dança e isso é uma vantagem. “Sua história e sua vida construíram esse corpo, então ele vai criar a tua dança, que é só tua. Autoral”. E isso é uma coisa extremamente revolucionária.

Ela começou a fazer pole justamente para um processo de auto descobrimento do corpo. Graziela, como todas nós, nunca se sentiu encaixada e nem no padrão. A primeira vez que fez a aula, foi de brincadeira, porque se achava esquisita demais para isso. Quando a professora a filmou pela primeira vez, deu um clique. Ela era maravilhosa sim. E não tinha nada de esquisito em seu corpo.

E ela percebe que esse mesmo processo, acontece com as alunas do “Maravilhosas”. Uma chavinha vira em suas mentes e elas começam a se olhar de um jeito muito mais generoso que antes. Começa a fagulha do amor próprio, da aceitação. E as amigas delas percebem e começam a querer isso também. É assim que novas alunas chegam. Uma grande rede de mulheres está se criando por isso. E é lindo.

O ÍNICIO

Tudo começou quando Graziela e as amigas estavam em casa e começaram a dançar de brincadeira, criar coreografias e filmar umas às outras. As amigas falaram que ela precisava dar uma aula disso. Então, quando se mudou pra São Paulo (ela é de Floripa), montou o primeiro workshop. A imagem de divulgação era uma foto linda de bailarinas gordas que faziam um espetáculo de dança incrível. A frase que descrevia o workshop era “Ame seu corpo dançando”. Procurou um estúdio para realizar e a dona topou. Primeiro ela achou que só as amigas iriam, mas a primeira turma fechou e logo em seguida já tinha mais duas turmas.

Foi quando percebeu que as mulheres buscavam isso. Um local seguro, livre de padrões. Um local onde pudessem aceitar seus corpos de uma maneira positiva.

Mesmo assim, quando foi buscar lugares para ter um estúdio próprio, viu que não era assim tão fácil. O preconceito é enraizado, em locais que muitas vezes nem percebemos. Quando foi alugar um local para as aulas, percebeu que muitas pessoas não queriam alugar, por associarem o pole dance a algo negativo.

REDE DE MULHERES

Durante a entrevista, a Grazi falou pra gente: “tudo que eu faço é muito feminista”. Pensamos no quão importante é essa frase.

Logo nos primeiros workshops, ela tentava explicar que aquele era um espaço seguro. Que não eram rivais, como faziam a gente achar que éramos. Mas logo depois percebeu que isso não era necessário. Que as meninas, quando chegavam ali, se sentiam seguras e acolhidas. Porque é da personalidade feminina cuidar e ser amiga uma das outras.

Quando você junta mulheres, tudo acontece muito mais rápido, com fluidez e respeito. Justamente por termos essa forma de amar muito intensa em nós. Alguma hora, na história, quiseram apagar isso na gente. Muito provavelmente porque nossos laços umas com às outras são tão fortes, que são capazes de abalar toda uma estrutura.

A melhor parte de estarmos vivendo esse momento agora, é sabermos que vamos sim abalar a estrutura. Para construir um futuro muito mais digno para as meninas. E isso começa em ações que muitas vezes nem pensamos que têm esse propósito. O “Maravilhosas” é uma dessas ações. Imagine um mundo em que as mulheres se amam, se aceitam? Que não precisem perder tempo ficando em padrões socialmente impostos? E então, começarem a usar esse tempo para criar, para amar. Acender todas as coisas dentro de nós que foram apagadas, para criar discussões e lutas para um local seguro e justo para nós.

Precisamos, urgentemente, ver nossos corpos como instrumentos. Como casas. Não como objetos para o próximo. Essa forma de entrar em contato com nós é algo muito poderoso. Não podemos esquecer disso. Jamais.

Ame seu corpo. Você é maravilhosa.

--

--

CAETANA
CAETANA MAG

Caetana é uma plataforma da energia feminina. Gestamos futuros de mulheres e criamos conteúdos potentes em empatia. Assim parimos um mundo novo