Stoner

Eder Alex
Café Com Traça
Published in
3 min readMay 25, 2015

(John Williams)

Quando terminei de ler as últimas páginas de “Stoner”, fiquei um bom tempo tentando me recompor antes de me levantar da mesa do café onde eu estava. Se eu não chorei de soluçar, foi por mero esforço de manter o decoro no ambiente silencioso, pois a vontade real era a de desabar num pranto constrangedor e abraçar a moça do caixa. Acho que isso não acontecia desde o livro do Karl Ove, ou quem sabe o da Chimamanda.

É bem difícil saber se a leitura desse livro teria esse mesmo peso de bigorna no peito de alguém que não é da área das letras. É possível que sim, dado o tom universal da trajetória de William Stoner, um sujeito que cresceu na área rural e que, ao chegar à universidade, teve a sua vida completamente mudada ao se apaixonar pela literatura e se tornar professor.

Mas caso você já tenha sido mordido pelo bicho da poesia, das pilhas de livros espalhadas pela casa, então não há escapatória, meu amigo, pois o livro irá lhe destruir emocionalmente.

Só não espere emoções fáceis e momentos grandiosos, pois o livro trata do banal, do cotidiano e arranca do corriqueiro, de uma conversa de bar, por exemplo, os significados profundos daquilo que nos compõe, daquilo que pensamos que somos ou poderíamos ser. O que, afinal, preenche o nosso vazio e nos permite seguir em frente sem considerar o suicídio quando o relógio desperta toda manhã?

Tal como no filme “Boyhood”, nada muito grandioso acontece, então qualquer expectativa por um clímax impressionante é frustrada pela sobriedade com que John Williams conduz a história, sempre de maneira simples, mas nunca sendo simplista. Aliás, todo o conflito envolvendo o corpo docente (meu deus, um dos professores é tão, mas tão filho da puta…) faz lembrar os melhores momentos de “Indignação”, do Philip Roth, dado o embate intelectual/moral que nos dá nos nervos e faz a gente torcer pro troço descambar pra porradaria.

Enfim, ao longo do meio século que acompanhamos, o que vemos é um retrato sincero e comovente da vida de um homem comum, cheio de falhas e de virtudes. Professor Stoner é esforçado, mas não é brilhante. Ele é humilde, mas em alguns momentos se mostra orgulhoso. Lida bem com livros, mas nem tanto com pessoas. É honesto, mas também mente. Enfim, Stoner não é especial, não é uma alma elevada, ele é apenas um cara qualquer, assim como eu e você. Talvez por isso o livro seja tão tocante.

O melhor de tudo é que John Williams não apresenta a literatura como a tábua da salvação da vida infeliz de Stoner (o casamento dele é um desastre, por exemplo). Os livros o transformam, o fazem ser quem ele é, mas não o salvam de nada (afinal, precisamos ser salvos do quê?), pois no fim das contas nada nos livra do sofrimento de enfrentar o tempo, a solidão e a inexorabilidade de existir. Nem mesmo o amor.

Nota: 5/5

Título: Stoner
Autor: John Williams

Tradutor: Marcos Maffei
Editora: Rádio Londres

Ano: 2015
Número de Páginas: 320

Originally published at cafecomtraca.blogspot.com.br.

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