Mônica Retek
Café com Unicórnios
2 min readFeb 6, 2017

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Sobre ser quem sou e o banco do passageiro

Um gelo na barriga, um aperto no peito, um corpo que treme. Sensação de que algo muito ruim está por vir, ou que já veio e arrastou todas as coisas boas consigo. Não sobrou nada.

Uma inquietude, uma vontade incontrolável de deitar e se cobrir com todas as cobertas da casa, mas não por frio, nem por sono, muito menos por aconchego. Talvez para sentir que toda essa angústia (será que posso chamar assim?) estará enterrada e que dali não sairá. Mas isso dura só até o corpo tremente dizer — silenciosamente aos berros — que não consegue ficar ali. E então você sai, se desenterra e desenterra junto toda a agonia. E ela perdura.

Falta o ar, falta crença. Em si, no outro, no mundo.

“Eu não quero estar aqui”, grita o peito em busca de ajuda. “Me tirem daqui”, chora a mente aprisionada num corpo que já não obedece.

E o conjunto sofre. Corpo e alma doentes por um não conseguirem controlar um ao outro. Eu sou um conjunto: dolorido para mim, doloroso para os outros.

Meu corpo diz para minha mente não se preocupar. Minha mente diz que nada disso faz sentido. E ela o convence de que não importa a multidão ao redor, estarei sempre sozinha. Que não importa as tantas cores que eu use, sempre serei invisível. Que não importa o trabalho que eu faça, sempre terá alguém fazendo muito melhor que eu. E o corpo não consegue parar de sentir enquanto a mente não para de pensar. Então você desiste. Desiste de se ver, de ver os amigos, de ver o sol, e fecha os olhos para a vida que está passando.

E quando somos capazes de admitir para nós mesmos que perdemos o controle de nossas vidas é quando vamos em busca de uma solução rápida e indolor. E essa solução é triste. Porque é triste encontrar sua razão em uma pílula. Uma fórmula que desligará sua mente e seu corpo para que você finalmente descanse da eterna luta entre eles. Você não quer que isso se torne um hábito — ou vício. Você quer ter sua vida, corpo e alma, sob seu próprio controle. Mas só é capaz de tomar o controle se essa pílula estiver ao seu lado, te guiando pelo banco do passageiro.

Um “crec” na cartela, um gole de água e certo tempo depois e está tudo bem, estou finalmente descansada dessa luta. Corpo leve, cabeça limpa e silenciosa.

Eu precisei de uma pílula para vencer esta briga, mas só dessa vez. Ou até que comece a próxima batalha.

Mônica Retek, durante uma crise de ansiedade.

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