O empata-rolê (9)

Fernando Alves Medeiros
Cafés e Blablablás
2 min readAug 13, 2023

Eu nunca tinha visto nem escutado nada parecido com aquilo. Levou algum tempo para os meus olhos e ouvidos se situarem. A levada era estranhamente agradável e as imagens, ao mesmo tempo inteligentes e tortas, eram divertidas, eram hipnotizantes, eram sedutoras. Foi um baque indescritível. Que música era aquela?

Era Banana Man, da banda americana Tally Hall.

Detalhe do clipe “Banana Man” (2005), da banda americana Tally Hall.

A música parecia um rico buffet de ritmos, gostos e texturas. Deixei-me ficar à deriva sobre aquelas águas sonoras. Depois do estranhamento inicial, foi fácil gostar…

Foi, sem dúvida, o único momento daquela noite (e, quem sabe, de todas as outras interações minhas com aqueles dois) em que eu, sem esforço masoquista, estava razoavelmente integrado e de fato me divertindo. Os egos do Lohan e do meu amigo eram enormes e, por serem enormes, tinham sempre essa dinâmica engolidora, atropeladora, anuladora, uniformizadora. A troca era raridade. Eles eram o dono do rolê, e eu deveria correr sempre para acompanhá-los, ceder nas minhas discordâncias, negar a minha vibe, me despersonalizar se fosse preciso. Não era de ontem que o universo deles era um mosaico sufocante de babaquices problemáticas e pílulas politicamente corretas. Às vezes eu me sentia rodeado de padres que decidiram se tornar comediantes de humor pesado, mas que não passaram ainda da transição. Ou seria justamente o contrário?

Mas ali, naquele instante quase mágico, nem lá, nem cá: por alguns minutos, uma leveza muito suave pairou sobre nós. Por alguns minutos, eu pude esquecer de todas as nossas diferenças. E eles, acredito, esqueceram também das minhas.

Breve, porém, foi a leveza que se instaurou; nem cinco minutos. A música mal acabou quando o dedo nervoso de meu amigo enfiou o Gimme Danger dos Stooges, a banda-fetiche dos dois. Lohan tirou do nada um baseado. Acenderam, me ofereceram, eu recusei conforme o protocolo. Os mesmos olhares estranhos, o mesmo clima ruim calculado. E se eu roubasse o controle? Tocar um Raça Negra ali seria um baita gesto político. As grossas volutas da fumaça adocicada chegavam mais e mais ao meu rosto. Mesmo com isso, era evidente a caretice do rolê, o vácuo da programação, a frustração que era perder Metrópolis por toda aquela bosta. Nem uns pães de queijo, nem umas gatinhas loucas, nem uns alcoólicos para a gente misturar. Só diamba e tevê. Sequer havia um cafezinho quente para dizer que eu também possuía a minha droga-coxinha.

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