Faça mais com sua conta (Parte I)
Está a 01 coração de distância
Bianca estava atrasada, acabara de perder o ônibus que a levaria ao trabalho.
Por alguns segundos não soube o que fazer além de olhar fixamente para o celular e recuperar o ar que lhe fugiu enquanto correra. Depois, lembrara que havia esquecido de passar seu batom favorito.
Verificou se ele estava na bolsa, o primeiro sorriso da manhã veio ao ver o batom vermelho no fundo da mochila.
Vou de táxi? — pensou. — Muito caro, vai apertar no bolso. — Resolveu pedir um Uber.
João. 4.8 estrelas. Placa WWS 0894. Nissan Versa vermelho. Está há 03 minutos de distância.
Bianca batia o pé direito no chão enquanto esperava, seu óculos ainda estava embaçado pela pressa da corrida e, ainda ofegante, pensava que de jeito maneira deveria se atrasar a caminho do trabalho.
Entrara há pouco em uma agência de publicidade famosa da cidade e, pra ajudar, nesta manhã havia uma reunião marcada para o primeiro horário. Não podia perder a reunião, muito menos o tão sonhado emprego pós-faculdade.
Um carro vermelho se aproximava. Seria João? Bianca conferiu a placa e, para certificar, conferiu a foto do app com a face do motorista. Era João.
João, muito educado, cumprimentou Bianca e ofereceu algumas balinhas. Ela bem que queria uma bala, ainda mais porque não tomara café da manhã e estava morta de fome.
Lembrou de uma reportagem do jornal das 19h sobre soníferos em balas de Ubers. Por mais que João tivesse cara de ter boas intenções, achou melhor não aceitar.
A cara de boas intenções de João continha barba cheia, bem cuidada. Bianca tinha um tombo por barbas e por Joãos.
Percebera também que próximo ao olho direito havia uma pinta — ou cagada de mosquito, como Bianca ouvira seu avô dizer no almoço do último domingo.
Olhos castanhos, os quais Bianca fixou no momento em que João perguntara sobre o ar-condicionado e sobre a rota indicada pelo GPS. Bianca, olhando pr’aquelas jabuticabas oculares, disse que estava tudo certo.
Tudo certo somente agora, paralisada, ao ver João. Porque Bianca, há pouco, estava cansada e estressada pelo início do dia.
Paralisada, até esqueceu o estresse matinal. Silenciosa, aproveitou para ver João pelo retrovisor.
O rádio do carro estava ligado em uma estação que intercalava rock e MPB. A música que acabara de começar era uma das mais famosas da Elis. Bianca amava Elis.
Nos quase 10 minutos de corrida, João fez algum comentário sobre o clima. Bianca não tinha prestado muita atenção, pois só sabia olhar para a tatuagem do braço de João. Comentou — É mesmo, o tempo anda louco, mais chove do que faz Sol.
Conversa vai, conversa vem, tocou o horóscopo de Áries na Rádio. João falou sobre um tal de mapa astral, a moda do momento. Ela não sabia nada sobre signos, mas lembrou de uma amiga que disse que quem tem Marte em Virgem é super organizado. Para mostrar que sabia de algo, perguntou para ele se tinha Marte em Virgem. João disse que, segundo o Astros.com, não.
Ela olhou para o vidro do carro, um pouco sujo. Depois, olhou para o cabelo dele, estilo surfista, um pouco bagunçado. Pensou: realmente, ele não tem Marte em Virgem. Isso lhe rendeu o segundo sorriso do dia.
João e Bianca chegaram ao destino. Ela abriu a bolsa para pegar o dinheiro da corrida. Em seguida, se despediram e desejaram bom dia.
Ele, ao verificar a próxima corrida, percebeu que havia algo no tapete do carro. Era um batom vermelho.
Corrida vai, corrida vem, após um longo dia de trabalho, lembrou do batom achado pela manhã.
Será que é da moça do Marte em Virgem? Pensou. Precisava entrar em contato com ela.
[To be continued]
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