Página virada (?)
Uma história sobre canções perdidas, livros interrompidos e histórias inacabadas.
Quando se viram pela primeira vez, em um barzinho do Largo da Ordem, ele usou uma camiseta estampada com As Quatro Estações. Ela usou um vestido vermelho ou azul ou verde que ele não lembrava, nem ela.
Fabiana não gostava de Legião e nem do Renato Russo. Depois de conhecer Dario, baixou todos os CDs e não ouvia outra coisa em 2014.
Fabiana, sempre muito pauleira, gostava mesmo do metal progressivo de Dream Theater e Jethro Tull. Balançava com o instrumental, mas pirava mesmo nas letras. Dario ficava balançado também.
Como uma típica amante da poesia curitibana, Fabi adorava os versos de Leminski e também se emocionava com as composições do poeta e da amada, Alice Ruiz.
Mais chegado em contos, Dario a presenteou com um dos livros mais famosos do Vampiro de Curitiba, Dalton Trevisan.
Depois, apresentou os escritos de Cristóvão Tezza. Fabiana gostou tanto d’O Fotógrafo que saiu tirando foto de tudo, do mundo e de Dario, que nunca foi chegado em registros ou em qualquer tipo de lembrança.
Alguns meses depois, a câmera ficou desfocada. As imagens já não eram tão nítidas e nem tão bonitas como as anteriores. A poesia de Leminski deixara de ser tão interessante e a paciência para ouvir os 43 minutos da mais famosa do Jethro Tull já não existia. Sentiam falta de outras músicas. Queriam ler outros livros. Já não estavam na mesma página.
Ele decidiu se afastar. Ela o bloqueou em todas as redes sociais, no e-mail e até mesmo nos SMSs e nas chamadas de celular. Cortou contato com todos os amigos em comum e, em seguida, mudou de cidade.
Meses depois, ele procurou ela. Mas não conseguiu achar, não conseguiu.
Arrependido pelo adeus, esboçou o início de uma carta que enviaria assim que descobrisse o endereço de destino.
“Escrevo-te essas mal traçadas linhas meu amor, porque veio a saudade visitar meu coração. Espero que desculpe os meus erros, por favor, nas frases desta carta que é uma prova de afeição.”
A Carta, nas vozes de Renato Russo e Erasmo Carlos, era a canção-tema do casal e, agora, fazia parte do pedido de desculpas e do desejo de boa sorte. Algo lhe dizia que não a encontraria novamente.
Dario viciou em outras canções e viajou em outros livros. Passaram-se quatro anos e ele ainda não tinha descoberto o endereço, muito menos terminado a carta. Todas as vezes que se aproximava da caneta, paralisava.
Dario nunca gostou de lembranças, mas não queria esquecer Fabiana.
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