Ellen Forney e o transtorno bipolar…em quadrinhos

Lila Cruz
cafeinazine
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3 min readJan 4, 2017

Eu e Leo temos um ritual pouco convencional de troca de presentes de Natal. Nós vamos até nossa livraria preferida e escolhemos os livros que vamos dar um ao outro, sem mistérios. Foi numa das procuras pelo meu presente de Natal que encontrei o livro da quadrinista Ellen Forney. “Parafusos” (WMF Martins Fontes, R$39,90) me chamou a atenção por causa de seu subtítulo — “Mania, depressão, Michelangelo e eu”. Folheei o livro e não hesitei: levei pra casa.

A HQ é uma espécie de diário da Ellen sobre a descoberta e o tratamento de seu transtorno bipolar. Ellen, quadrinista de Seattle (EUA) descobriu a doença antes de completar 30 anos, e passou mais de 10 tentando descobrir a combinação ideal de remédios e hábitos que a levassem ao equilíbrio. Dos episódios de mania (com uma euforia absurdamente exagerada) aos de depressão profunda, Ellen consegue retratar tudo com delicadeza, seriedade e, ao mesmo tempo, bom humor.

Acho que o que eu curti mais no livro foi o modo como ele foi organizado. Não é uma HQ convencional, onde cada página tem seus quadros arrumados, organizadinhos, mesmo que algumas páginas sigam um modo tradicional de contar história. Ela dispôs a informação como quis, e achei que o processo de leitura ficou muito gostoso, mesmo se tratando de um tema tenso.

O mais difícil é acompanhar os momentos de depressão e os que tratam dos efeitos colaterais dos remédios, porque dá pra imaginar como deve ter sido difícil pra ela. Um dos momentos mais tensos é o em que ela descreve, com um traço muito simples, como era a rotina enquanto estava no processo depressivo, onde só tinha forças pra levantar da cama…e ir para o sofá.

Para quem se interessa pelo assunto ou para quem quer apenas ler um bom quadrinho, “Parafusos” é uma boa pedida. Acredito que fazer HQs sobre nossas dificuldades é uma coisa muito válida e corajosa. Ellen expôs sua doença e o modo como conseguiu encontrar paz de espírito, e pode ter ajudado muitos leitores por aí. E fez isso mostrando pra todo mundo que sofre de algum tipo de transtorno que não estamos eles não estão sozinhos: pelo menos 9 de 10 artistas sensacionais (inventei essa estatística, mas é por aí) sofriam ou sofrem de algum transtorno psicológico.

O Cafeína Recomenda!

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