Lizz Lunney, quadrinhos e humor filosófico

Lila Cruz
cafeinazine
Published in
5 min readJan 4, 2017
Foto do site da autora: lizzlunney.com

A gente conheceu a Lizz Lunney num mochilão onde tivemos a oportunidade de ir à Orbital Comics, em Londres. Lá existe um espaço enorme pra publicação independente, e foi onde estavam os zines muito bem elaborados (e muito divertidos) da Lizz. A autora, que atualmente vive em Berlim mas nasceu em Birmingham, na Inglaterra, tem um vasto número de zines e HQs publicados por ela mesma, e junto com suas publicações, uma quantidade incrível de personagens malucos: Lizz faz histórias com Brócolis, um gato depressivo (o seu personagem mais famoso), peixes, coelhos, nuvens com rosto, dinossauros, unicórnios…

E nem só de HQs vive a autora inglesa. Lizz também já ilustrou diversas revistas — entre elas a Computer Arts e a também inglesa Offlife, além de realizar trabalhos para restaurantes, cafés, cartões postais, blogs e muitos outros.

Nessa entrevista, conversamos com a Lizz sobre seus personagens, sobre auto-publicação, diferenças no cenário independente entre Brasil e Europa, entre outras coisas.

Cafeína Zine: Sobre o que você curte falar em seus quadrinhos?

Lizz Lunney: Vida e morte. Meus quadrinhos são todos sobre humor filosófico. Eu uso personagens em situações engraçadas para refletir os meus pensamentos sobre o mundo em que vivemos e em sobre como as pessoas se comportam.

Quadrinho publicado no lizzlizz.com

Cafeína: Como você desenvolve suas revistas em quadrinhos?

Lizz: Elas normalmente reúnem pequenas histórias em tirinhas baseadas em personagens específicos como o Romantic Bison, Leaning Rabbit e Dullbog, o Bulldog, mas às vezes os quadrinhos serão uma história maior sobre uma ideia em particular. Eu estou sempre trabalhando em novas ideias para quadrinhos, para que eles estejam sempre evoluindo.

Cafeína: Como você publica seus quadrinhos na Inglaterra? É mais barato imprimir e publicar de maneira independente?

Lizz: Eu tenho um estúdio para onde envio todos os meus quadrinhos e publico, mas agora estou em Berlim e estou mais num momento de colocar meus quadrinhos online ou distribuir pelo meu Fun Club (https://www.patreon.com/lizzlizz). Não é barato imprimir e publicar de maneira independente — eu normalmente compro quantidades entre 500 e 100 cópias de cada quadrinho, o que pode ser bem caro a depender do método de impressão. Mas é uma ótima maneira de fazer com que seu trabalho chegue em lojas, e de vender online você mesmo. Para aqueles que querem tentar começar a publicar independente, eu recomendo começar com quantidades menores, como 50 ou algo em torno disso, e depois ir vendo como elas vão saindo.

Pacotes recebidos pelos membros do Fun Club que contribuem com valores a partir de cinco libras

Cafeína: Como você distribui seus quadrinhos nas lojas?

Lizz: Eu entro em contato com elas individualmente e peço. Algumas vezes é melhor ir até a loja e levar alguns exemplares para perguntar pessoalmente, mas outras vezes eu só envio um email e depois vejo se eles considerariam tê-los no estoque.

Cafeína: Aqui no Brasil a cena de quadrinhos independentes está crescendo, mas ainda é muito difícil viver apenas da produção de ilustrações e quadrinhos. Você acredita que um artista na Europa consegue viver com a venda de suas HQs e trabalhos com ilustração e quadrinhos?

Lizz: Não, normalmente não. A maior parte dos artistas tem outra forma de renda. Eu trabalho na indústria de animação e sou ilustradora para uma empresa de cartões postais, e faço e publico quadrinhos quando posso. Eu também faço um monte de exposições, workshops e palestras.

Cafeína: Nas lojas de Quadrinhos de Londres nós notamos que a maior parte das HQs e zines independentes são bem baratas (a maioria dos quadrinhos que encontramos custava abaixo de sete libras). Isso é real para um gênero específico ou para todos os tipos de quadrinhos? Você acha que é bom para o artista?

Lizz: Eu normalmente coloco o preço de meus quadrinhos para fazê-los baratos o suficiente para que as pessoas o comprem para presentear alguém ou guardar como um pequeno souvenir. Eu acho que preço depende da quantidade de exemplares impressa pelo artista e quais os outros custos que ele vai ter, como o valor que a loja fica do total. Não é maravilhoso para o artista mas eu acredito que as pessoas não pagarão muito por um livreto pequeno, não importa o quão maravilhoso ele seja!

Lizzneyland, da HQ At the Theme Park

Cafeína: Como está o mercado para o artista em Londres e Berlim?

Lizz: Está pequeno, mas crescendo a medida que as pessoas percebem que os quadrinhos são apenas um meio de expressar uma ideia ou uma história e mais adultos passam a comprar quadrinhos, não só crianças. É um mercado em crescimento, mas ainda não é tão estabelecido como em países comoa França ou Japão, onde você pode ver quadrinhos na maior parte das livrarias mainstream e não só em lojas especializadas.

Cafeína: Fale um pouco de seus outros trabalhos além dos quadrinhos.

Lizz: Trabalho na criação de personagens na indústria de animação e também fazendo os workshops e palestras. Eu não vejo esses trabalhos como diferentes porque eles são partes do que eu faço, que é desenhar e ter ideias. Eu costumava ter outros empregos de meio período que não eram relacionados com quadrinhos, por oito anos, na verdade! Eu estou trabalhando num quadrinho agora mesmo sobre esses empregos de meio período que tive que me sustentaram enquanto eu trabalhei com meus trabalhos criativos.

Cafeína: Quais são seus planos para produção de quadrinhos em 2015?

Lizz: Estou trabalhando numa série de quadrinhos chamada Street Dawgs, sobre uma gangue de cães selvagens batalhando diariamente com desafios como os vícios, depressão e a vida nas ruas. Também estou trabalhando em alguns quadrinhos específicos para editoras e em minhas HQs cotidianas online.

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Para encontrar mais do trabalho de Lizz, acesse: lizzlizz.com, ou o twitter e o instagram da autora, @lizzlizz.

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