Reflexões a custa da insônia.

Elder Malaquias
Cafe Livros
Published in
4 min readMay 26, 2018

Ou sobre nossas rédeas sociais.

Photo by rawpixel on Unsplash

Sartre certa feita disse que “o inferno são os outros”, sendo assim podemos considerar as redes sociais como uma obra dantesca.

Essa hiperatividade, hiper-vigilância, conectividade e imensa necessidade de ser amado (somos covardes nos moldes do dramaturgo Nelson Rodrigues) cria um ambiente hostil para relacionamentos interpessoais, seja esta; amizade, familiar, namoro, casamento e qualquer outro tipo de arranjo.

Tomas Hobbes definiu o estado como um imenso leviatã, onde cada homem cedia uma parte de sua liberdade em troca de proteção (segurança) deste imenso monstro contra os outros homens. No século 21 graças a toda modernidade liquida a que estamos imersos, podemos pensar as redes sociais como um neo-leviatã, remodelado não só para ficar com uma parte da nossa liberdade, como também nossa intimidade e privacidade em abundância, uma vez que o bordão de “quem não é visto não é lembrado” se adequa de forma serena aos nossos tempos modernos.

Agora onde estão os males disso? A mitigação da nossa liberdade em prol de uma rede social ou várias destas, alimenta uma situação onde as pessoas tendem a ter que se explicarem do por que postaram algo, por que curtiram algo, por que usaram tal rede social, por que não usaram, várias questões a serem respondidos sem qualquer embasamento lógico, uma explicação cansativa e exaustiva para pessoas que muitas das vezes na verdade nem nos conhecemos.

Estranhos no ninho. Os algoritmos intermedeiam as relações humanas. “Há algo de podre no reino da Dinamarca”.

A sociedade adquiriu um câncer de pulmão e continua fumando carteiras de cigarros por dia, já que sabemos que nossos dados privados são vendidos a quem pagar mais e continuamos como ovelhas saltitantes rumo ao abate, só posso acreditar que de fato somos idiotas.

Estamos nos explicando, pelo que não devemos explicar, somente para satisfazer o desejo alheio de posse e não próprio, regulamentamos a inveja com a publicidade da nossa vida (que deve ser ressaltado é um nicho de mercado) e sucumbimos ao vício de querer estar “por dentro” de tudo, sendo que na verdade estamos “por dentro” de nada, percebe como estamos doentes?

Uma viagem só passa a ser uma viagem quando compartilhada nas redes sociais, do mesmo jeito que um almoço só aparenta ser um almoço caso esteja por aí na rede, o que falar das outras coisas?

Para não dizer que não falei das flores, as redes sociais permitem que mantenhamos contato com as pessoas que estão longe, mas isso não é salvo conduto para fazer o mesmo com as que estão perto.

Take our pills, compartilhe, mostre, curta, tome parte da vida alheia e comente, vai! vai roda a roleta russa, a máquina de caça níqueis apelidada de feed de notícias, seja o que querem de você, se filie a uma causa que no fundo não é a sua, faça parte de um grupo que não lhe represente, seja qualquer coisa, seja foda, leia o que te mandam, menos o que você quer.

Talvez o inferno não seja só os outros, talvez o inferno seja nos mesmos dentro dessa roda vida, seguindo a manada, amando nos moldes dos outros, vivendo como os outros vivem, mostrando, exibindo o que não somos, afinal de contas ser o que se quer é um ato político e ninguém gosta mesmo de política(ao menos é o que dizem).

Não acho que se excluir resolva o problema, talvez desinstalar os aplicativos, trocar meia hora de internet por uma caminhada, tentar proteger a sua privacidade e de seus amigos, um desafio consigo mesmo, um uso consciente e moderado da tecnologia, um paliativo para uma doença já ancorada, devendo ser ressaltado que atualmente evita-se a pessoa “tete a tete” e descasca o pau na rede social.

Existe um conto oriental que diz que a carpa (koi) que consegue nadar contra a corrente do Rio (Huang Ho) e chega a sua fonte (Montanha Jishinha) se transforma em um dragão. Que possamos cada dia mais ousar a pensar (sapere aude) e nadar contra essa corrente.

Por hoje é só nobre coleguinhas.

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Elder Malaquias
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Escrevedor. Autor do Romance “Sob o Signo de Helena” disponível na Amazon| Instagram: @eldermalaquias