Ninguém pediu, mas esses são os meus Top 10 Filmes de 2020!
O ano acabou para as salas de cinema em março desse ano, infelizmente. Isso fez com que a indústria do cinema se reinventasse antes do momento que era previsto, pois seria inevitável com a ascensão das plataformas de streaming e consequente diminuição do número de espectadores nas salas físicas.
Porém, mesmo com a distribuição de filmes em 2020 ficando um tanto quanto confusa, ainda foi possível ter experiências fantásticas mesmo no sofá de casa.
Como eu disse, ninguém pediu por isso, mas publico aqui meu top 10 filmes de 2020. Levei em consideração apenas filmes que assisti pela primeira vez em 2020, sendo eles lançados em 2019 (com distribuição apenas esse ano no Brasil) ou em 2020 mesmo.
BORA!
Menção Honrosa: On The Rocks (Apple TV+, 2020)
O novo longa de Sofia Coppola (diretora de Lost in Translation) revela como uma trama simples pode ser base para discutir outros assuntos tão relevantes quanto.
A escritora Laura (Rashida Jones) passa a investigar com ajuda de seu pai Felix (Bill Murray) se seu marido Dean (Marlon Wayans) está traindo a esposa com quem tem 2 filhas. Porém, essa trama é apenas um palco para contar sobre uma complicada relação pai-filha e uma escritora com bloqueio criativo que ainda precisa criar suas duas pequenas filhas.
O filme não tenta ser um romance investigativo mas sim uma “dramédia” muito gostosa de se assistir com Bill Murray fazendo um personagem que seria desprezível se não tivesse tanto charme, humor e carinho por sua filha.
Gracioso, carinhoso e leve.
10. Palm Springs (Hulu, 2020)
Quem é fã das séries How I Met Your Mother e Brooklyn Nine-Nine certamente ficaria animado para ver um crossover entre elas.
O crossover não aconteceu, mas Andy Samberg e Cristin Milioti se juntaram para viver um casal (Nyles e Sarah) que vive uma comédia romântica existencial com toques de ficção científica.
O filme desenvolve a trama usando a mesma ideia de A Groundhog Day (Feitiço do Tempo) em que os personagens vivem o mesmo dia todos os dias. Porém, faz isso de maneira muito original e subverte alguns clichês de todos os gêneros que o filme poderia se encaixar. Nyles e Sarah precisam lidar com existencialismo, amor, vida e tempo, conceitos extremamente subjetivos mas abordados de uma maneira mais objetiva pelo roteiro de Andy Siara, porém abrindo pontas para a interpretação.
9. The Trial of Chicago 7 (Netflix, 2020)
Aaron Sorkin é gênio dos diálogos rápidos! E nada melhor do que um filme de julgamento para colocar em prática essa e outras características do roteirista e diretor de segunda viagem.
Chicago 7 tem um elenco fantástico cheio de nomes de peso: Sacha Baron Cohen, Eddie Redmayne, Jeremy Strong, Mark Rylance, Joseph Gordon-Levitt entre outros.
O filme conta uma história real, que admito não ter conhecimento prévio, e me fez pesquisar mais sobre ela, sobre seus personagens e as histórias de cada um. Há uma cena, em particular, que mostra os absurdos no sistema judicial dos Estados Unidos abordando um racismo deslavado desse. Uma das cenas mais desconfortáveis do ano que muito se deve ao trabalho de edição e direção.
Cheirinho de Oscar: A obra tem um bom roteiro (apesar de um final bonito, porém irreal), bem editado levando em conta diversas linhas do tempo e deve ser BEM reconhecido no Oscar desse ano.
8. Da 5 Bloods (Netflix, 2020)
Dono do cartaz mais LINDO do ano! Sinto que há muito tempo, os cartazes de filmes vem sendo cada vez mais comerciais e seguindo o padrão (horroroso) das cabeças flutuantes dos atores e atrizes mais bem pagos da produção. Só de curiosidade, pesquise o cartaz do Homem-Aranha: Homecoming para ver o desastre.
Enfim, Da 5 Bloods é o novo joint de Spike Lee. Não chega a ser tão bom quanto BlackkKlansman (Infiltrado na Klan), porém é inovador sobre como ele trata um assunto já retratado em centenas de produções: a guerra do Vietnã.
Quatro veteranos negros da guerra voltam à terra vietnamita para buscar por um tesouro e os restos mortais do líder do grupo que morreu em batalha. Líder esse vivido por Chadwick Boseman, que todas as suas cenas parecem homenagens ao ator, uma mais bonita que a outra.
Mas quem rouba a cena é Delroy Lindo. O ator vive um dos 5 Bloods, negro, votante do Trump (dos que usa boné do Make America Great Again) porém com muita amargura e dualidade dentro de si. O personagem mais marcante do ano e que merece um reconhecimento no Oscar.
O filme discute sobre política, confiança, traumas, justiça e, principalmente, racismo (estamos falando de uma obra de Spike Lee, por favor né). Disponível na Netflix, vai lá assistir!
7. First Cow (2019)
Admito que não vi nem li nada sobre o filme antes de assistí-lo e fui surpreendido. Em 1820, Cookie (John Magaro) é um cozinheiro de mão cheia que encontra um homem que virá a ser seu melhor amigo, King Lu (Orion Lee) e juntos passam a vender biscoitos feitos com o leite roubado da única vaca da região. Acontece que a vaca pertence ao homem mais rico na comunidade.
Mas o filme não é sobre vacas, mas sim sobre amizade, ciclos, estratificação social, sonhos e lealdade. A história é contada levando em conta a inteligência do espectador (o que é sempre positivo), não lhe dá muitas explicações, cabendo a nós interpretar e cada um terá um filme diferente em mãos.
6. Sound of Metal (Amazon Prime, 2020)
Sempre admirei um bom final de filme (aquela última cena antes de subir os créditos, sabe?) e Sound of Metal (O Som do Silêncio) teve o melhor final que eu vi em 2020.
Riz Ahmed vive Ruben, um baterista e ex-viciado que começa a perder sua audição. Porém, um implante para que consiga recuperar parte da audição é extremamente caro e, enquanto não consegue pagar por ele, passa a viver em uma comunidade de surdos para aprender a lidar com sua nova condição.
O filme trata delicadamente sobre o assunto e toma as decisões certas para demonstrar frustração do protagonista nos níveis certos. Além disso, o elenco de apoio (Olivia Cooke e principalmente Paul Raci) são essenciais para a trama evoluir.
O som do filme é IMPECÁVEL. Quando Ruben fica surdo, o espectador também fica. Você consegue sentir junto com Ruben a angústia, frustração e decepção. E quando outras pessoas conversam entre si em língua de sinais, não há legendas para que nós fiquemos confusos junto com o personagem.
Assista no Amazon Prime (com fones de ouvido!), imperdível!
5. Hamilton (Disney+, 2020)
Muito se discute se o musical Hamilton pode ser considerado como cinema. Por mais que seja um espetáculo gravado, existe todo um trabalho de edição, direção e fotografia para trazer uma imersão em uma das maiores peças da Broadway e tornar mais acessível ao público. Não vou dizer se é cinema ou não, mas entrou na minha lista.
Hamilton salvou 2020 para muita gente. As músicas incríveis e as performances cativantes serviram de válvula de escape do que o mundo sofreu nesse último ano.
Admito que nunca fui uma pessoa do teatro, mas fiquei tão encantado com Hamilton que descobri um novo mundo recheado de talento e vontade de elevar a arte a um novo nível. Esse projeto de Lin-Manuel Miranda entrou para a história e deveria ser apreciado por todos.
4. Booksmart (2019)
Ouso dizer que essa é a melhor comédia de ensino médio que já foi feita! Booksmart foi o primeiro filme que assisti em 2020 e o que mais reassisti durante o ano.
O filme é o primeiro longa de Olivia Wilde (a Thirteen de House, lembra?) e já ficou marcada na indústria por seu trabalho em Booksmart.
A obra retrata duas adolescentes no último dia de aula do ensino médio que passaram os últimos anos apenas estudando para passar nas melhores universidades e nunca aproveitaram uma festa de colegial. Então Molly e Amy decidem aproveitar a última noite antes da formatura.
Booksmart é muito engraçado, moderno, discute assuntos importantes e me trouxe uma nostalgia enorme dos tempos de colégio. Recomendo demais, 10/10!
3. Dick Johnson is Dead (Netflix, 2020)
Com a medalha de bronze, ficou o documentário Dick Johnson is Dead (As Mortes de Dick Johnson) da Netflix.
Cara, esse documentário é tudo que eu não esperava. A documentarista Kirsten Johnson resolve encenar como seu pai Richard (Dick) poderia morrer (por exemplo com um micro-ondas caindo do céu em sua cabeça), em uma tentativa de talvez se preparar para a real perda de seu pai.
Porém, o que eu não esperava é que Dick sofre de Alzheimer e está cada vez mais perdendo sua memória. O documentário passa a não ser só sobre as encenações, mas sim sobre a relação de uma filha perdendo o pai para o Alzheimer e das memórias de Dick sobre sua esposa que também morreu após perder tanto para a mesma doença.
É lindo, inesperado e imprevisível. Vale muito a experiência que está disponível no Netflix!
2. Never Rarely Sometimes Always (2020)
Esse filme é um soco no estômago.
Never Rarely Sometimes Always (Nunca Raramente Às Vezes Sempre) conta a história de Autumn (Sidney Flanigan), uma adolescente do interior da Pensilvânia que descobre estar grávida e vai para Nova Iorque junto de sua prima Skylar (Talia Ryder) para realizar um aborto (proibido em seu estado de origem).
Escondidas dos pais, com o pouco dinheiro que têm, Autumn e Skylar usam dos metrôs, estações de ônibus, pessoas desconhecidas e estratégias de real sobrevivência para conseguirem sobreviver dentro da cidade grande.
Mesmo sob tanto estresse e conflitos que duvidam da relação familiar delas, Autumn e Skylar, não soltam a mão uma da outra. Inclusive uma das cenas mais bonitas do ano envolve elas dando as mãos (ou alguns dedos).
Porém a cena do ano, é a que dá nome ao título da obra. É uma cena difícil porém delicada, exigente porém carinhosa, que cava feridas porém que traz um desabafo necessário. A cena toda fica com a câmera no rosto da protagonista que deve responder uma série de perguntas para entender do seu caso e dar todo o suporte necessário. E que atuação incrível da atriz de primeira viagem Sidney Flanigan me deixou na ponta da cadeira.
Filme necessário, difícil e carinhoso.
1. Parasite (2019)
Não tinha como ser diferente, Parasita é o melhor filme de 2019 e o melhor que vi em 2020!
O vencedor histórico do Oscar de Melhor Filme sendo o primeiro em língua não-inglesa a vencer o prêmio conta a história de como uma família pobre da Coréia do Sul consegue se infiltrar dentro de uma mansão e passa a trabalhar dentro dela.
O filme aborda diversos gêneros: comédia, suspense, drama e até filme de slasher! E a cena do pêssego ficou com o posto de segunda melhor cena do ano perdendo para a de Never Rarely Sometimes Always.
Vamos perder o preconceito de assistirmos filmes que não são hollywoodianos para começarmos a descobrir filmes incríveis como Parasita!
“Once you overcome the one-inch tall barrier of subtitles, you will be introduced to so many more amazing films.” (Bong Joon-Ho, diretor de Parasita)