[IHC] Engenharia Semiótica

Conheça um pouco da Engenharia Semiótica, teoria que permitiu a criação dos métodos de avaliação de comunicabilidade MIS e MAC

Caíque Fortunato
Caíque Fortunato
5 min readNov 26, 2019

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Clarisse Sieckenius é renomeada professora da PUC-Rio onde faz pesquisas na área de interação humano-computador (IHC). Uma de suas pesquisas resultou no desenvolvimento da Engenharia Semiótica (EngSem), teoria bastante importante quando se fala de comunicabilidade e que gerou vários grupos de pesquisa como o SERG (PUC-Rio) e o PENSi (UFMG) onde pude ser integrante e desenvolver pesquisas na área. Basicamente, a EngSem vê a IHC como uma comunicação mediada por computador entre designers e usuários em tempo de interação e é dela que irei falar neste texto.

Imagem que representa uma síntese da Engenharia Semiótica

Introdução e definição da EngSem

A Engenharia Semiótica é uma teoria centrada na comunicação que caracteriza a interação humano-computador como um caso particular de comunicação humana mediada por sistemas computacionais (de Souza, 2005). Assim, o foco da investigação é a comunicação entre designers, usuários e sistemas.

A EngSem caracteriza aplicações computacionais como artefatos de meta comunicação: artefatos que comunicam uma mensagem do designer para os usuários sobre a comunicação usuário-sistema. Assim, será buscado compreender os fenômenos envolvidos no desing, uso e avaliação de um sistema interativo.

Não é objetivo desta teoria prever os resultados de uma ação ou levar o designer a buscar uma solução correta para um problema e sim esclarecer a natureza e aspectos envolvidos nestas atividades.

Engenharia Semiótica e a Comunicabilidade

Um sistema comunica ao usuário a visão do designer (sobre quem ele é, o que quer fazer, como e por quê), assim pode-se afirmar que o sistema é preposto do designer. Como consequência, a Engenharia Semiótica vê o sistema representando o designer como uma meta comunicação dele para o usuário em tempo de interação de forma unidirecional e indireta.

Uma vez que a interface é uma comunicação projetista-usuário deve-se avaliar a qualidade da transmissão da solução do projetista ao usuário, ou seja: a comunicabilidade.

A comunicabilidade é uma propriedade do sistema (ou preposto do designer) de transmitir ao usuário de forma organizada e consistente (eficiência) a lógica, a intenção e os princípios de design, realizando assim sua finalidade junto ao usuário (eficácia).

Semiótica

Com os pilares da teoria já estabelecidos podemos então falar sobre semiótica que é uma disciplina que estuda signos, significação e comunicação.

  • Signo é tudo aquilo que possui significado para alguém;
  • Significação é um processo através do qual expressão e conteúdo de signos são estabelecidos com base em convenções sociais e culturais conhecidas das pessoas que vão utilizá-los, produzindo e interpretando signos. Um sistema de significação é a codificação entre expressão e conteúdo;
  • Comunicação é o processo através do qual produtores de signos utilizam sistemas de significação para escolher formas de representar (expressão) seus significados pretendidos (conteúdo) de modo a alcançar uma variedade de objetivos (intenção).
Semiótica

Classificação de Signos na Engenharia Semiótica

Na visão da Engenharia Semiótica, a interface de um sistema interativo, é composta por diversas mensagens codificadas pelo designer para comunicar aos usuários os comandos e funcionalidades e como ele pode interagir com o sistema. Tais mensagens codificadas são os signos presentes nas interfaces mediando a comunicação entre o designer e o usuário.

Neste contexto, a Engenharia Semiótica propõe uma classificação de signos específica para a linguagem de interface de um sistema interativo em três níveis: metalinguístico, estático e dinâmico.

  • Signos estáticos: são aqueles que podem ser interpretados independentemente de relações causais ou temporais onde o contexto de interpretação é limitado aos elementos presentes na interface em um dado momento. Resumidamente expressam o estado do sistema como rótulos, imagens, itens de menu, campos e botões de formulários, etc.
  • Signos dinâmicos: só podem ser percebidos através da interação com o sistema por representar seu comportamento. Ou seja, estão relacionados aos aspectos temporais e causais da interface. Exemplos: ação disparada por um botão, impacto de se selecionar um determinado valor a um atributo, entre outros.
  • Signos metalinguísticos: Referem-se e explicam os outros signos, fornecendo informações de como os outros signos podem ser utilizados durante a interação como manuais, materiais de divulgação, instruções, avisos e mensagens de erro.

Design como comunicação

A Engenharia Semiótica utiliza o modelo de espaço de comunicação proposto por Jakobson (1960), estruturado em termos de contexto, receptor, código, emissor, mensagem e canal.

Design como comunicação

Para projetar a meta mensagem, o designer deverá tomar decisões sobre cada elemento do espaço de design de IHC respondendo perguntas como:

  • Quem é o emissor?
  • Quem é o receptor?
  • Qual é o contexto da comunicação?
  • Qual é o código da comunicação?
  • Qual é o canal?
  • Qual é a mensagem?

Mesmo que as interfaces de sistemas compartilhem diversos padrões interativos, cada sistema possui uma linguagem interativa diferente e única cuja semântica é determinada pelo modelo semântico que é único do sistema.

Pode-se afirmar então que o designer deverá se posicionar como um interlocutor engajado em ajudar os seus usuários a entenderem e compreenderem a meta mensagem.

Aqui está o meu entendimento sobre quem você é, o que eu aprendi sobre o que você quer ou precisa fazer, de quais maneiras e porquê. Este é, portanto, o sistema que eu desenhei para você e esta é a maneira que você pode utiliza-lo para conseguir os propósitos que estão dentro desta visão. (de Souza 2005)

A EngSem considera a comunicabilidade de um sistema interativo fundamental para que os usuários façam um bom uso da tecnologia. O conhecimento dos aspectos estratégicos da tecnologia se tornam ainda mais importantes em circunstâncias imprevistas ou infrequentes, em que não basta saber como usar o sistema, mas também é necessário saber por que se pode ou deve utilizar o sistema de uma determinada maneira em uma determinada situação

Avaliando a comunicabilidade através da Engenharia Semiótica

“Assim que o usuário percebe o que o designer quis passar, a comunicação fica bem mais fácil.” (Márcio Douglas)

Existem dois métodos de avaliação da comunicabilidade de um sistema interativo baseados na Teoria da Engenharia Semiótica: Método de Avaliação da Comunicabilidade (MAC) e o Método de Inspeção Semiótica (MIS). Ambos são qualitativos e interpretativos, mas enquanto o MIS se concentra na mensagem enviada pelo designer, o MAC se concentra em como esta mensagem está sendo recebida e entendida pelo usuário.

Referências

Barbosa, S.D.J.; Silva, B.S. Interação Humano-Computador. Ed. Campus, 2010. (Livro texto: Capítulo 3 — seção 3.8 — Engenharia Semiótica);

Prates, R. O. ; Barbosa, S. D. J. Introdução à Teoria e Prática da Interação Humano Computador fundamentada na Engenharia Semiótica. Em: T.Kowaltowski e K. K. Breitman (Org.). Jornada de Atualização em Informática do Congresso da Sociedade Brasileira de Computação. SBC 2007.

Leitão, Silveira e de Souza, 2013 Uma Introdução à Engenharia Semiótica: Conceitos e Métodos. Texto do Minicurso apresentado no IHC 2013.

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Caíque Fortunato
Caíque Fortunato

Dev apaixonado por tecnologia. Troco filmes por livros (não se for do MCU/Pixar), gosto de escutar músicas/podcasts, escrever, fazer uns rabiscos e jogar.