MIS — Método de Inspeção Semiótica

Conheça o método de inspeção para avaliar a comunicabilidade de um sistema de informação utilizado por profissionais na área de Interação Humano-Computador (IHC) baseado na Teoria da Engenharia Semiótica.

Caíque Fortunato
Caíque Fortunato
6 min readOct 5, 2019

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Obs: A área de IHC é muito ampla e existem muitas pesquisas nas áreas citadas no texto, logo tentei resumir ao máximo informações e simplificar o método e entendimento. No entanto, é possível e recomendado aprofundar nos tópicos para ter uma melhor compreensão do assunto.

Interação Humano-Computador é uma área de estudo que envolve todos os aspectos relacionados com a interação entre usuários e sistemas. Uma vez que a interface é uma comunicação designer-usuário deve-se avaliar a qualidade da transmissão da solução do designer ao usuário, ou seja a comunicabilidade.

Existem vários métodos de avaliação baseados em comunicabilidade, entre eles o Método de Inspeção Semiótica (MIS) que tem como fundamentação a Teoria da Engenharia Semiótica, uma teoria que nos permite entender os fenômenos envolvidos no design, uso e avaliação de um sistema interativo, esclarecendo a natureza e aspectos envolvidos nestas atividades.

O Método de Inspeção Semiótica tem como objetivo identificar potenciais problemas na qualidade da comunicação designer-usuário, ou seja, potenciais problemas de comunicabilidade. Para isso, o método que é qualitativo e interpretativo inspeciona três diferentes níveis de comunicação usados na metacomunicação designer-usuário e reconstrói uma meta-mensagem.

“ Esta é a minha interpretação sobre quem você é, o que eu entendi que você quer ou precisa fazer, de que formas prefere fazê-lo e por quê. Este é portanto o sistema que projetei para você, e esta é a forma que você pode ou deve usá-lo para atingir os objetivos incorporados na minha visão.”

Basicamente o avaliador inspeciona a meta-mensagem examinando os signos utilizados pelo designer em sua comunicação em três níveis na seguinte ordem: Metalinguístico, Estático e Dinâmico.

Exemplo de signos: dinâmico, estático e metalinguístico
  • Os signos metalinguísticos se referem a outros signos da interface, sendo usados pelos designers para explicitamente comunicar aos usuários os significados codificados no sistema e como podem utiliza-los. Exemplo: tooltips, mensagens de erro, sistema de ajuda…
  • Os signos dinâmicos representam o comportamento do sistema e só podem ser percebidos através da interação com o sistema como ação disparada por um botão;
  • Os signos estáticos são aqueles que expressam o estado do sistema como estado dos botões, opções selecionadas.
Resumo do método e das etapas

→ Veja um exemplo de MIS e acompanhe lendo a teoria ←

Para acompanhar a teoria na prática você poderá ver o MIS que realizei para uma funcionalidade da plataforma de aprendizagem virtual da UFMG clicando aqui.

Preparação

Para começar a aplicação do MIS é necessário:

1 — Definir o objetivo e escopo da inspeção identificando partes que a equipe de design define como mais relevante, as partes que sejam críticas para o sucesso comercial da aplicação e as partes que representam as principais funções que o usuário sempre terá que executar.
2 — Inspeção informal: Identificar a quem o sistema se destina, quais as principais tarefas e objetivos a que o sistema se propõe;
3 — Criação de cenários de inspeção que motivem a intenção comunicativa.

Passo 1: Signos metalinguísticos

Exemplo de signo metalinguístico

Deverão ser identificados e analisados pelo avaliador, sob a ótica do perfil de usuário determinado na etapa de preparação, os signos metalinguísticos que estão envolvidos na interação previamente definida pelo cenário. Posteriormente à análise, a partir da coleta e interpretação dos dados levantados, a meta-mensagem dos signos metalinguísticos deverá ser reconstruída.

Passo 2: Signos estáticos

Exemplo de signo estático

Mais uma vez, assim como feito com os signos metalinguísticos, os signos estáticos deverão ser identificados e analisados para, em seguida, se realizar a reconstrução da meta-mensagem dos signos estáticos. Assim será possível verificar se os elementos fundamentais e visíveis da interface são compreensíveis e atentam ao perfil e objetivos identificados no passo anterior.

Passo 3: Signos dinâmicos

Exemplo de signo dinâmico

Por fim, a última categoria de signos, a dos signos dinâmicos, também deverá ser analisada e ter sua meta-mensagem reconstruída. Assim, deverá ser observado os feedbacks das ações dos usuários, se são compreensíveis e atentem ao perfil e objetivos propostos.

Passo 4: Contraste das meta-mensagens

Contraste das metamensagens do MIS — Passo 4

Signos examinados nos 3 níveis têm diferentes poderes de expressão o que é esperado já que fazem uso de diferentes sistemas de significação, além disso a meta-mensagem gerada em cada nível não devem ser idênticas, mas sim consistentes.

Ao contrastar as meta-mensagens definidas nos passos 1, 2 e 3 o avaliador deve explorar se há a possibilidade de usuários
atribuírem significados contraditórios ou ambíguos nos signos que constituem as 3 mensagens.

Perguntas que podem te guiar neste passo:
1 — É plausível que o usuário interprete este signo ou mensagem de forma diferente? Como? Por quê?
2 — Esta interpretação está consistente com a intenção de design?
3 — A cadeia interpretativa me lembra outras cadeias interpretativas que gerei durante a inspeção? Quais? interpretativas que gerei durante a inspeção? Quais? Por quê?
4 — As classes de signos estáticos e dinâmicos podem ser identificados pela análise? Quais?
5 — Existem signos estáticos ou dinâmicos que estão na classe errada de acordo com as classes propostas em 4? Isto pode afetar a comunicação com o sistema? Como?

Passo 5: Apreciando a qualidade

Integrando a inspeção

O avaliador produz um relatório contendo sua apreciação final da meta-mensagem resultante de sua inspeção.

O relatório deve conter uma breve apresentação do método, critérios de seleção de que partes do artefato a inspecionar e apresentação e explicação sobre os problemas de comunicabilidade encontrados que possam dificultar ou prevenir o usuário de entender a mensagem pretendida pelo designer, e interagir produtivamente com o artefato. Para cada um dos três níveis de comunicação aconselha-se listar e justificar os signos relevantes, identificar sistemas de signos e classes de signos utilizados e criar uma versão unificada da metacomunicação designer-usuário.

Avaliador

Não tem número ótimo definido, basta 1 para identificar os potenciais problemas. Em contrapartida todos os avaliadores devem ser especialistas em IHC e em Engenharia Semiótica uma vez que quanto maior o conhecimento melhores serão os resultados obtidos na inspeção. Além disso, o avaliador tem como papel ser “advogado” dos usuários uma vez que podem entender os interesses dos usuários e usam seu conhecimento técnico para beneficiá-lo.

Custos do método:

  • O avaliador deve ter conhecimento não apenas de IHC mas também de Engenharia Semiótica;
  • Tempo de inspeção e geração do material pode ser longo.

Benefícios:

  • Permite a identificação de pontos fortes e fracos da metacomunicação da metacomunicação;
  • Permite o levantamento de hipóteses relacionados à intenção relacionada ao problema ;
  • Teoricamente independente da tecnologia utilizada.

Informações extraídas do material de estudo disponibilizado pela pesquisadora em Engenharia Semiótica Raquel O. Prates (PhD) e do material da aula 12 do assunto da PUC-Rio.

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Caíque Fortunato
Caíque Fortunato

Dev apaixonado por tecnologia. Troco filmes por livros (não se for do MCU/Pixar), gosto de escutar músicas/podcasts, escrever, fazer uns rabiscos e jogar.