Mergulhei, mas sangrei ao bater no fundo

Matheus Moreira
Not So Basic
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2 min readJun 29, 2018

Sentir-se insuficiente é doloroso. Às vezes caminho pelas ruas do dia a dia sabendo que o mundo está um caos, que meu coração chora e me angustia ninguém perceber.

Os carros seguem seus rumos, as pessoas olham para você e enxergam tudo, menos a sua dor. Você é um ser humano que sofre e a única pessoa que sabe disso é você.

Você viveu para ir a mais enterros que a maior parte dos seus amigos. Sabe bem quanto vale uma pessoa querida na sua vida, porque você já perdeu muitas. Porém, não há nada que você possa fazer para que as pessoas que ama te amem da mesma maneira. Nada que você faça ou diga impedirá quem quiser ir embora de ir embora e quem quiser se afastar de se afastar.

O pior de tudo é que você não quer impedir ninguém de ir. Você reza sozinho, durante a madrugada, para que as pessoas decidam voltar. Pelo menos aquelas que ainda estão vivas.

Isso tudo leva a questionamentos como: eu valho a pena? Como superar a perda quando ela insiste em voltar a chover sob sua vida? O que eu estou fazendo de errado?

Quem sabe?

O luto (assim como a luta) fazem parte da minha vida. Porém estou cansado de enterros e despedidas. Estou perdido na geração que não demonstra, que não se esforça, que abre mão antes de abrir o coração.

Mas mesmo assim eu mergulhei

Desde criança gostei de nadar, mergulhava fundo. Pulava sem saber como boiar na parte mais profunda de qualquer piscina, lago ou rio. Eu aprendi a nadar sozinho e rapidamente. Eu sempre mergulhei de cabeça, até a primeira vez que dei de cara com o fundo e sangrei.

Mas isso nunca me impediu dizer que amo quem amo, de pular dos lugares mais altos que conheço para um “desculpa, mas você é intenso demais”.

Eu tenho incontáveis cicatrizes. Eu tentei ser um bom nadador, mas eu sempre nadei contra a corrente. “Barcos contra corrente” se tornou meu norte. cobre minha costela, meu peito e meu coração para que eu não me esqueça jamais de que não estou errado em amar, me dedicar, me esforçar, me desculpar, sentir.

Eu tentei ser como água, mas acabei me afogando. Ninguém entrou no mar para me salvar. Não havia ninguém lá. Eu acordei na praia, sozinho, e caminhei de volta para a cidade.

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Matheus Moreira
Not So Basic

Repórter de Cidades na Folha de S. Paulo, 24 anos.