Sobre estresse, tempo e bonequinhos de argila

Pedro Drable
Caixa de Nada
Published in
3 min readSep 27, 2016

Volta e meia eu me pego num surto de adrenalina ao contrário.

Em vez daquela sensação de “mais uma xícara de café e eu resolvo esse problema aí da Palestina”, eu sinto um cansaço feat. ansiedade que me faz ter plena convicção de que não vai rolar. Não vai dar tempo. Não vai ter como.

Geralmente essas sensações são associadas a trabalho mas, na real, pode ser com qualquer coisa. Outro dia mesmo eu desliguei o meu videogame porque tava hiperventilando com uma sequência de partidas em que eu não performei tão bem quanto queria. Não faz muito, parei de tentar tirar uma música no violão porque meu mindinho teimava em não se mover pra onde eu planejei cuidadosamente que ele fosse.

Acho que muito disso tem a ver com a forma que a gente encara nossa relação de “performance ao longo do tempo”. Somos uma geração inteira de multitaskers/overachievers/workaholics/ insira-aqui-seu-termo-em-inglês, movidos a prazos pequenos e grandes doses de cafeína. Estamos todos trabalhando muito, pensando muito, entregando muito, nos estressando muito, mudando de tarefa de 2 em 2 minutos e sem tempo pra sintonizar outras funções do cérebro. Mesmo quando não estamos no trabalho, continuamos no mindset de trabalho.

Acho que é aí que mora a raiz do meu estresse: nessa busca eterna de controle sobre os resultados de alguns processos que, convenhamos, não são tão controláveis assim. Em fazer isso tudo caber num cronograma que não comporta bem as etapas necessárias pra que as coisas aconteçam como eu gostaria.

Eu percebi que me ajuda muito praticar alguma coisa em que eu dependa só de mim, com total autonomia de tempo, de processo e de resultado. No meu caso, um trabalho manual.

O que me encanta sobre trabalhos manuais em geral é que eles fazem a gente relembrar e aceitar não só as nossas limitações mas as limitações do mundo que cerca a gente. Algumas peças precisam de dias pra “secar”, e não tem como agilizar isso. Algumas técnicas precisam de etapas e mais etapas de repetição e, se você quer aquele resultado, bem, vai ter que passar pelo processo. E às vezes, você vai passar por isso tudo pra descobrir um erro que cometeu lá no início, fazendo o projeto inteiro ter que recomeçar do zero.

Mas tá tudo bem.

Tudo bem porque você pode começar de novo. Você pode refazer quantas vezes quiser até chegar lá. Ou você pode chegar perto de “chegar lá” e aprender pro próximo projeto. E tudo bem também.

No meio do dia, não dá pra parar tudo que você tá fazendo e correr atrás de um tijolo de argila ou de um bloco de madeira pra dar uma acalmada. Por isso, quando eu to pilhado demais no trabalho, paro e assisto a um vídeo de trabalho manual. Me faz lembrar desses sentimentos e tentar colocar as coisas em perspectiva. Seja em um projeto pessoal, no trabalho ou em qualquer outro aspecto da vida, às vezes não vai dar tempo. Às vezes não vai ter como. É assim mesmo. Algumas coisas simplesmente levam o tempo que elas precisam levar. E não tem muito o que fazer pra mudar isso.

E tudo bem.

Meu trabalho manual amador: bonecos de argila de PVC. Tá perfeito? Não. Precisa estar? Não mesmo.

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Pedro Drable
Caixa de Nada

Escrevo sobre coisas que eu entendo e não entendo, na maioria das vezes tentando me entender.