Sobre física quântica e transporte publico

Pedro Drable
Caixa de Nada
3 min readFeb 9, 2017

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A física quântica é uma daquelas áreas tão confusas da ciência que por vezes nem os especialistas sabem bem o que seus experimentos querem dizer. É um negócio tão louco que até os postulados mais básicos são quase impossíveis de trazer pra nossa experiência no dia a dia. Por exemplo: a sobreposição quântica.

Na teoria, esse bagulho diz que um sistema físico existe em uma “sobreposição” de estados até que ocorra algum tipo de medição. Grosso modo, isso quer dizer que um elétron rodando em volta do núcleo de um átomo esta em todos os lugares da órbita ao mesmo tempo, até que alguém tente observar onde ele está. Ou seja: ato de observação muda a realidade do sistema.

Isso é muito difícil de imaginar fora de um universo microcósmico, o que gerou exercícios mentais interessantes, como o Gato de Schrödinger, homenageado na imagem do início do texto. Mas eu acho que encontrei uma sobreposição quântica bem palpável na minha vida: o 433.

Acontece que eu trabalhava em uma empresa enfiada num morro na Gloria, e o único ônibus que me servia era a porra do 433, que passava no ponto da São Francisco Xavier mais ou menos com a mesma frequência que o cometa Halley. Enquanto eu esperava o 433, uma manada de 432 passava, me fazendo desejar que o número não fizesse tanta diferença no trajeto e odiar a Glória com uma dedicação antes reservada apenas pra Santa Tereza (você não odeia Santa Tereza? Experimente trabalhar no alto daquele inferno sem carro).

Acontece que a empresa mudou de prédio, e agora reside num pedacinho charmoso e quieto de Botafogo. E agora eu pego ônibus no mesmo ponto, mas me serve o 432, e não mais o 433.

E ai, meu amigo, não tem uma caceta de um dia que eu não veja dois ou três 433 passando antes do 432 chegar.

Minhas duas teorias:

(a) um dos conceitos básicos da mecânica quântica pode ser comprovado pelo estado de superposição dos meus ônibus: o ato de eu observar a rua à procura de um faz automaticamente com que o outro apareça mais vezes.

(b) alguma força universal consciente e onipotente acha que eu tenho mais é que me foder mesmo.

To aqui torcendo pra ser a mecânica quântica.

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Pedro Drable
Caixa de Nada

Escrevo sobre coisas que eu entendo e não entendo, na maioria das vezes tentando me entender.