Uno e as Regras da Casa

Pedro Drable
Caixa de Nada
Published in
5 min readNov 25, 2015

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Todo mundo sabe que um jogo de Uno (ou do bom e velho Can-Can) é capaz de gerar conflitos que ultrapassam gerações. Quantas amizades terminaram em um +4 acumulado? Quantos romances? Casamentos? Famílias?

Pra pessoas comuns, esse inocente jogo de cartas pode ser uma aventura perigosa. Mas alguns inconsequentes jogam versões ainda mais arriscadas. Entre os meus amigos, o potencial de discórdia de um Uno baunilha é pouco. A gente gosta de colocar a amizade em jogo a cada carta que bate na mesa. Por isso, a gente joga Uno com Regras da Casa.

Pra quem nunca experimentou, é como uma versão extreme de Uno, em que cada jogada pode render uma gargalhada ou uma facada no pâncreas, dependendo da disposição da galera. E fazer seu Uno com Regras da Casa é fácil: é só escolher algumas cartas que seriam “neutras” e adicionar efeitos capazes de acabar com a lógica do jogo. Além disso, algumas regras podem ser flexibilizadas ou simplesmente ignoradas em nome do caos generalizado. Nesse texto, vou explicar as regras adicionais da nossa versão hardcore de Uno.

Mas esteja avisado: se um Uno comum já tem um grande potencial de treta, essa versão leva as coisas pra outro patamar. Jogue por sua conta e risco.

Uno com Regras da Casa — Drable Edition

Regra 1: O Corte
No Uno normal, os jogadores devem esperar sua vez pra descartar uma carta que tenha o mesmo número, símbolo ou cor da carta que está na mesa (fora as cartas especiais). No nosso Uno, nem sempre. Caso você tenha uma carta exatamente igual à que está no bolo de descarte (mesma cor e mesmo número/símbolo), pode furar a fila e "cortar a mesa", jogando sua carta na frente dos outros. Isso significa que o próximo a jogar é a pessoa que vem depois de você. Em uma mesa grande, seu corte pode pular a vez de 3 ou 4 pessoas, dependendo de onde você está sentado.

"Mas e se o jogador da vez e o “cortante” jogarem ao mesmo tempo?"

Isso não existe. Duas cartas não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo. Vale a carta que tocar o topo do bolo de descarte primeiro.

Essa regra vale pra qualquer carta colorida (inclusive +2, que acumula pro próximo jogador, e +1, que acumula pro jogador anterior a você). Não vale para as cartas especiais pretas.

Regra 2: Cinco e o Copo D'água
Outra carta inofensiva que vira um pesadelo nas mãos do jogador certo. No nosso Uno, sempre que alguém descarta um Cinco, todos os jogadores devem colocar suas cartas na mesa, viradas pra baixo, como no famigerado "Copo D'água" (outro jogo que já resultou em muitas brigas e problemas urinários para crianças desse Brasil). A punição pra pessoa que baixar sua mão por último é comprar duas cartas do monte.

Dica: jogue o Cinco e baixe suas cartas sem alarde. Veja o desespero crescer nos olhos dos outros jogadores assim que cada um deles percebe o que está acontecendo.

Regra 3: Zero e a lei do silêncio
A carta com o número Zero não tem nenhum efeito no Uno comum. No nosso, sempre que um Zero de qualquer cor cai na mesa, todos os jogadores devem ficar em silêncio até que outro Zero seja descartado. Quem falar, rir ou emitir qualquer tipo de vocalização tem que comprar duas cartas do bolo pra cada infração. (não precisa contar palavra: um "Ué, por que tá todo mundo tão quieto?" rende apenas duas cartas de punição)

Regra 4: Tá por uma? Insulte um amigo.
No grupo original que desenvolveu essas regras, tem um cara chamado Bernard. Ele é uma das melhores pessoas que eu conheço, sempre cordial e amigável. Por essas e outras, a gente escolheu o Bernard como alvo de uma das regras. Sabe aquela história de dizer "Uno" quando você está com apenas uma carta nas mãos? Pois é: lá em casa a gente xinga o Bernard. Pode ser qualquer coisa, desde um apelido jocoso a uma recordação constrangedora do passado dele. O problema é que nem todas as pessoas têm um Bernard por perto, e nem sempre nós podemos contar com ele no jogo. Por isso, a regra agora abrange todos os jogadores. Ou seja: se você está por uma, avise e insulte um amigo da mesa. Quem não cumprir a regra compra duas cartas assim que a infração for percebida por outro jogador.

"Pera, mas e se estiver na Lei do Silêncio?"

Seja criativo: use linguagem corporal para insultar seu amigo.

Regra 5: O jogo não acaba quando você bate.
Então você finalmente descartou sua última carta. Bom, amiguinho, agora o jogo começa. No nosso Uno, uma pessoa só vence o jogo quando chega a sua vez e ela não tem mais cartas para jogar. Ou seja: você precisa passar uma mesa inteira do jogo sem ser obrigado a comprar mais cartas. Nesse momento, entra em voga uma regra de ouro: sempre que alguém está pra vencer, todos os outros jogadores podem combinar jogadas e estratégias pra fazer essa pessoa comprar cartas. Desde que ninguém use cartas "roubadas" do monte, qualquer acordo entre os jogadores restantes é válido. Em outras palavras: a mesa inteira passa a jogar contra você.

"Vale combinar de jogar +2 até chegar no cara?"

Óbvio, desde que as pessoas tenham cartas +2 suficientes pra isso.

"Vale jogar +4 mesmo tendo carta pra descartar no lugar?"

Bom, isso é um blefe do jogo. Vale em qualquer circunstância, mas tem seus riscos.

"Vale alguém jogar um Cinco e esse cara não ter como colocar as cartas na mesa porque ele não tem mais nada nas mãos?"

Se ligou no perigo que é o Cinco nesse jogo? Agora você tá pegando o esquema.

Enfim, essa regra final faz com que ganhar um jogo de Uno seja uma tarefa quase impossível, mesmo que ninguém esteja roubando. E transforma o processo até a vitória em um teste de nervos, capaz de abalar o mais sólido dos vínculos emocionais.

Essa é a minha versão de Uno com Regras da Casa. Recomendo jogar em um ambiente arejado, confortável e sem objetos cortantes por perto. Pode ter certeza que essas regras adicionais vão render muito mais diversão para o seu jogo. E, provavelmente, muito menos amigos.

E você? Tem umas regras da casa pra dividir?

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Pedro Drable
Caixa de Nada

Escrevo sobre coisas que eu entendo e não entendo, na maioria das vezes tentando me entender.