A harmonia entre as HQs e o filme de Scott Pilgrim

Incrivelmente, os seis volumes da HQ foram bem transferidos para a produção cinematográfica de 2010

Gabriela Prado
caixadesaturno
5 min readMay 7, 2020

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Imagem: divulgação/Universal Pictures

Com seis HQs, escritas e ilustradas por Bryan Lee O’malley, e um filme — disponível na Netflix, “Scott Pilgrim contra o mundo” (“Scott Pilgrim vs. the World”) é um entretenimento atemporal, sólido e diversificado. Surpreendentemente, as HQs foram muito bem adaptadas para as telas, o que faz com que a experiência de assistir e depois ler as HQs — como eu fiz — seja válida e totalmente positiva.

O filme dirigido por Edgar Wright, mesmo diretor de “Todo Mundo Quase Morto”, tem em seu elenco Michael Cera — de “Juno” — , Mary Elizabeth Winstead — de “Premonição 3” e “Aves de Rapina” — e Jason Schwartzman — de “O Grande Hotel Budapeste” e “Moonrise Kingdom”, além de Kieran Culkin, Anna Kendrick, Alison Pill, Chris Evans, Brie Larson, Mae Whitman, Aubrey Plaza, Mark Webber, Ellen Wong e Johnny Simmons.

E não é só pelo elenco de peso e conhecido que o filme se sustenta.

Os detalhes da produção cinematográfica

O filme em si, pelo trailer, não parece ser nada fora do comum, mas é quando ele começa que você nota sua singularidade. Os gráficos e os elementos de “Scott Pilgrim contra o mundo” se superam e imitam um jogo de videogame, o que é bem interessante quando você escolhe despretensiosamente um filme para ver. É, também, um detalhe importante que foi adaptado para o cinema muito bem feito.

Imagem: divulgação/Universal Pictures

E esses detalhes são coerentes com as HQs, cheias de onomatopeias e ilustrações bem figurativas, além de emoção e movimento — e tudo em preto e branco, contrastando com a explosão de cores do filme.

Ramona Flowers (imagem: divulgação/Universal Pictures)

Em cada cena do filme há uma surpresa em relação aos acontecimentos, acompanhados das atuações cômicas — e até um pouco satíricas — e dos elementos relacionados a jogos. Ramona Flowers, interpretada por Mary Elizabeth Winstead, basicamente rouba as cenas, principalmente por seu característico cabelo rosa — que ela muda de cor há cada 10 dias — e sua feição blasé.

Nas HQs, obviamente, não vemos as cores do cabelo de Ramona, mas ela comenta sobre sua rotina de mudá-lo e isso acaba se tornando uma das características dela que faz com que Scott Pilgrim, claramente inseguro, entre em pânico, pois ela é decidida, age por impulso e “sem drama nem nada”.

Mas no decorrer da história acabamos criando empatia por Scott e também por Ramona, pois ambos sofrem com a situação global do filme: os sete ex-namorados do Mal de Ramona querem derrotar Scott e impedi-lo de ficar com ela. Por mais bobo e superficial que pareça, “Scott Pilgrim contra o mundo” fala sobre superar relacionamentos, a lidar com o passado e a entender que cada um está numa batalha diferente todos os dias.

A magia das HQs e a profundidade oculta dos acontecimentos

Imagem: divulgação

Claro que seis volumes de HQ não seriam todos passados para o filme, pois isso resultaria em uma produção extremamente longa, mas sim, os seis volumes foram muito bem readequados para o cinema sem perder o essencial da história, mas ocultando detalhes que são mais aprofundados na leitura — se você optá-la por fazer.

Foto: Gabriela Prado

Alguns assuntos apenas mencionados no filme — como o fato de Kim e Scott já terem namorado e a forma com a qual Knives Chau lidou com o término com Scott— são narrados com mais relevância e desenvolvimento nas HQs, mostrando também o passado de Scott e dos outros personagens, enriquecendo a descoberta da história como um todo.

Foto: Gabriela Prado

Nas HQs, sentimos muito mais as emoções em relação ao que acontece com os personagens da trama e também vemos, lemos e presenciamos ainda mais drama, o que no filme é um pouco camuflado por frases de efeito e humor peculiar — o qual se mantém nas HQs, até com um pouco mais de graça. Porém, as músicas do filme ganham das músicas da HQ, a começar por termos Brie Larson cantando “Black Sheep”, da banda Metric.

E além da música, nas HQs nós vemos os personagens com outros olhos: nos quadrinhos, Ramona não é tão misteriosa e séria como no filme e Knives Chau não é tão louca obsessiva por Scott nas ilustrações em preto e branco. Isso mostra como adaptações cinematográficas precisam ajustar-se ao meio e às formas de consumo de entretenimento (na mesma época, meados de 2010, filmes com teor mais cômico e puxados para o gênero besteirol eram febre).

Outro fator importante para discutir é a representatividade LGBTQI+, a qual se desenrola mais nas HQs e sem tanto estereótipos como no filme, com um dos personagens se revelando gay — o que não acontece no filme (mas memso assim há a utilização de termos pejorativos em todas as produções de Scott Pilgrim). Uma continuação do filme seria muito adequada e com certeza seria muito bem recebida.

A possibilidade de explorar o universo repleto de comédia, humor, romance, música, design, games e aventuras de “Scott Pilgrim contra o mundo”, podendo focar mais nos pequenos detalhes e aprofundamentos existentes nas HQs e retornando às telas a conexão entre os personagens, é uma incógnita, mas é bom pensar que há um filme que até pode relacionar-se com a vida real — exceto a parte das moedas.

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