A solidão humana e os fragmentos da loucura em “O Farol”

O suspense de Robert Eggers entrega mistério, tensão e aquela pitada de “o que acabou de acontecer?” em cada cena

Gabriela Prado
caixadesaturno
4 min readApr 3, 2022

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william dafoe e robert pattinson no longa “O Farol”
William Dafoe e Robert Pattinson em “O Farol” | Imagem: divulgação/Amazon Prime Video/A24

Com William Dafoe, nosso Duende Verde da Marvel, e Robert Pattinson, nosso mais novo Batman da DC, “O Farol” foi lançado em 2019 e está atualmente disponível no Amazon Prime Video, entregando o que seu diretor, Robert Eggers — de “A Bruxa” — é especialista em fazer: confundir a mente humana através dela mesma.

A narrativa se passa em 1800 e acompanha o faroleiro Thomas Wake (Dafoe) e o lenhador Ephraim Winslow (Pattinson) durante a “residência” de Winslow na casa do farol, o qual está em sua fase de aprendiz de faroleiro e acaba ficando responsável por reparos na casa e organização do local às ordens de Wake.

Por ser todo em preto e branco, o filme já em seu começo deixa aquela sensação de desconforto, combinada com a baixa iluminação das cenas coerente à época em que se passa. E essa sensação de desconforto também é muito perceptível pelos diálogos primeiramente rasos e frios entre os personagens.

Wake já teve outros zeladores, por assim dizer, da casa do farol, mas nenhum deles aguentou ficar por muito tempo por conta da solidão do local e a possível insanidade que desenvolviam ali, alucinando com sereias no escuro mar que se revolta de tempos em tempos.

E o farol é mantido fechado para o novato Winslow, despertando nele a curiosidade em saber como é o local e o que acontece ali, coisas que somente seu chefe, Wake, sabe e sente.

A transparência das emoções

A trama vai acontecendo e vemos a mente humana se fragmentar quando sujeita à solidão, à escassez de alimentos e à necessidade de criar um diálogo com a única pessoa presente com você na ilha isolada, além da tendência ao alcoolismo quase que obrigatória, visto que não há o que se fazer ali a não ser resistir ao mar e ao tempo.

Thomas Wake, personagem de William Dafoe | Imagem: divulgação/Amazon Prime Video/A24

William Dafoe e Robert Pattinson são grandes e excelentes atores, isso é um fato, e conhecemos cada um deles por papéis distintos, mas que conseguiram combinar neste longa-metragem suas facetas mais psicóticas e dramáticas.

Ephraim Winslow, personagem de Robert Pattinson | Imagem: divulgação/Amazon Prime Video/A24

Mas meu destaque vai para Rob, meu crush desde a saga Crepúsculo. Se nela vimos sua face galã e centrado, em “O Farol” sentimos algo sombrio e mentiroso em seu personagem, cada vez mais latente em cada passo, em cada gesto e em cada olhar — os olhares nesse filme são extremamente necessários para sentirmos o salgado da água do mar e o azedo da angústia dos personagens.

A trilha sonora é um caso à parte, pois consegue acompanhar cada mudança de humor e clima entre Wake e Ephraim, deixando o espectador agonizando por uma conclusão — ou esperando jumpscares. E sobre eles, o único spoiler que posso dar é: não existem. O terror é muito mais psicológico do que visual ou sonoro.

Outro ponto muito positivo do longa é a forma em que as referências foram utilizadas. Eggers tem uma propensão a misturar mitologia e histórias folclóricas às suas produções sinuosas e peculiares — e em “O Farol” elas não poderiam ser mais coerentes com a narrativa. Cada pincelada de referência se atrela fortemente às emoções dos personagens e aos cenários escuros e palpáveis da ilha.

Não consigo identificar nenhum defeito no filme, nem mesmo aquele toque maroto de Eggers em não explicar, claramente, o que realmente aconteceu. Mas esse é também o brilho especial da produção.

Fui surpreendida pelo desfecho e gostei muito mais do que achei que gostaria. Cada traço e cada mínimo som criaram a atmosfera perfeita para assistir ao longa que fala sobre humanidade, insanidade, mar e curiosidade. É o combo perfeito para quem gosta de suspense, terror psicológico e lendas.

Foi muito difícil escrever esta crítica sem dar nenhum spoiler, então não perca seu tempo e confira esse filmaço com atores incríveis e história que vai te fazer lembrar dela por um bom tempo. Assista ao trailer e me conta o que achou nos comentários. Sem dar spoiler, ein?

Trailer de “O Farol”, de 2019 | Vídeo: divulgação/YouTube

Nota: 10

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