But today, but today, but today, I don’t know why
I feel a little more blue than then…
Em 1971, Caetano, exilado, lançou um novo disco com nome velho: “Caetano Veloso”. Eu, aqui em São Paulo, fui deixado por Tina. “O cara da faculdade”. Um barbudo metido a Che Guevara, que não sabia pegar em uma guitarra, muito menos bater um prego. O sindicalista classe-média ganhou minha pequena. Está certo, eu também era barbudo, quer dizer, quem não era? Mas não usava boina, não me metia com charutos. Abria escondido o armário de bebidas do meu pai, fumava um baseado. Quem não fumava? Tina. O tal fulano, certeza que sim. Ele já fora a Londres, conhecera Paris. Era um pouco mais velho e assistira a festivais sessentistas, enquanto eu ainda estava na escola. Fazia-se de intelectual, politizado. Para mim: um porra-louca que nunca faria parte de uma banda.
Acho que um intelectual é um cara inteligente que não sabe tocar guitarra e precisa de um empurrãozinho para comer alguém. Caso soubessem fazer uma linha simples num contra-baixo seriam todos músicos. É isso que penso sobre intelectuais. Até 1971 não tinham essa pecha comigo, mas depois daquele cara, não posso evitar. Eu tinha uma banda, claro. Quem não tinha? O cara da faculdade.
Tina disse que eu não estava preparado para ter alguém comigo. Compreendi o recado. Abracei tais palavras. Eu não estava mesmo e nos anos seguintes não fiz questão de consertar tal despreparo. Não houve sequer uma só garota ao meu lado durante décadas. Mas houve por cima, por baixo, e em posições que não sei bem nomear.
Ele se tornou jornalista. Mas nunca perdeu o emprego, nunca foi exilado, nenhuma tortura ou censura. Nada disso que a gente sabe que acontece. O que me faz crer que ele era mesmo uma fraude. Ela, dona de casa. Bem feito! O barbudo liberal foi se convertendo no tio do churrasco. Nos anos seguintes, fiz de tudo. Ou quase. Nunca a piada do pavê. Marília disse que sou um “cinquentão descolado”. Esta é de outra época, por isso mesmo, história para outro dia.