A Caneta da vaidade

Sobre rever conceitos

Robson Felix
Cala a Sua Boca e Pega Logo a Saideira!
1 min readJul 28, 2016

--

Saí apressado do banco e uma mulher negra com uma criança no colo vendia canetas. Do alto de minha vaidade social comprei para “ajudá-la”. Dois Reais. Não vou ficar mais pobre por isso, pensei. Ademais, caneta nunca é demais para um escritor, justifiquei mentalmente aquele investimento inesperado frente à uma crise financeira violenta que embaralha, de forma nunca vista antes, as classes sociais estabelecidas por letras. Cheguei apertado para ir ao banheiro e larguei a caneta ao lado da privada. Dia desses a pia do banheiro entupiu e utilizei a tal “caneta da vaidade” para desentupí-la. Mas, nunca a tinha usado até então. Hoje sentado no “trono” precisei anotar alguma coisa e procurei com os olhos a caneta — comprada com aquele meu gesto magnânimo para ajudar a pobre mulher negra — que ainda jazia indiferente sobre a pia. Qual não foi meu espanto ao destampá-la e perceber que sua ponta fina 1.0 era uma maravilha e deslizava sobre o papel como óleo na frigideira. Admirado, refleti como subestimamos as coisas populares e, preconceituosos que somos, nunca acreditamos que coisas boas virão de pessoas de nível mais baixo que o nosso.

Preciso, urgentemente, rever meus conceitos.

Obrigado, caneta.

--

--