Cabeça vazia é oficina do carboidrato

As definições de ócio foram atualizadas…

Robson Felix
Cala a Sua Boca e Pega Logo a Saideira!
2 min readAug 11, 2016

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Tem coisas que minha mãe dizia que já não funcionam mais em um mundo pós-Uber.

Sua geração sofreu e sofre para se adaptar à realidade atual.

Carteira assinada, já era, por exemplo.

Ok, tudo bem… passar em concurso público ainda é sinal de estabilidade à vista, mas, nunca foi pra mim, então eu passo essa.

Minha mãe segue resistindo à tecnologia.

Até quando eu lhe pergunto quando ela vai se atualizar, sem obter resposta convincente.

“Não tenho tempo para isso, preciso ver minha televisão”, diz ela.

Tudo têm seu tempo, é a resposta que hoje dou a ela, mas que durante minha vida inteira ela me deu.

Agora a frase que ela dizia e que eu preciso concordar é que cabeça vazia é oficina do diabo.

Minha mente borbulha no ócio como um pintor se deleita com uma tela branca.

Os diabos de minha mente gritam todos por atenção, quando estou relaxado.

Pinço, não o que grita mais alto, mas o mais afinado.

Afinal, não era o próprio diabo o maestro da orquestra divina?

Ouço o que ele diz, não para ser simpático, mas por não saber fazer diferente.

Tento não me apegar aos meus diabinhos, apenas materializar suas obras.

Não creio no que meus diabos sussurram, apenas crio.

Não é por aplauso que eles carecem, mas de um canal.

Para tornarem seus pensamentos reais.

A mente cria, o desejo atrai e a fé realiza, diz um antigo mantra seicho-no-ie.

É preciso ter fé na vida para parir uma criação.

Fé de que algo precisa existir para tornar a vida mais bela, ou não.

O lugar da beleza, é o simples.

E o simples é a lapidação do complicado.

Sigo como um Manoel de Barros urbano, clamando pelo ócio.

Pois só nesse estado posso ouvir meus queridos diabinhos.

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