Coleção os Sete Pecados

Inveja

Robson Felix
Cala a Sua Boca e Pega Logo a Saideira!
2 min readAug 8, 2016

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Sim, eu sinto inveja.

Pouca, mas sinto.

Mentira, sinto muita inveja.

Invejo, de um pouco, tudo.

Pode ser um gesto, um andar, uma letra cursiva, um ponto na fala.

Me lembro de que na infância eu roubava a maneira como as outras crianças desenhavam as letras. Até hoje não tenho uma identidade escrita, que possa ser reconhecida como minha letra.

Sou cópia de tudo o que roubei.

Sou assim na vida.

Roubo desavergonhadamente.

Porém, sou um ladrão honesto.

Devolvo o bem roubado com juros e correções.

Nem sempre dá tempo.

Não deu.

As vezes o alvo de nossa inveja não espera o troco.

Foi assim com a gente.

De qualquer forma: obrigado, poeta, Vander Lee.

Eu queria ter escrito essa letra com você, mas tudo bem.

A gente compõe algo uma outra hora.

Mentira.

Eu queria ter escrito essa letra, sozinho.

A definição de inveja se esconde naquele sentimento de que você quer ter o objeto invejado e não deseja que o outro também o possua.

De qualquer forma você se foi, e minha inveja, agora, é branca.

Mesmo que digam que isso “non ecquiste”.

Meu Jardim (Vander Lee)
Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores;
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores;
Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores;
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores;
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho;
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho;
Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho;
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho;
Estou podando meu jardim;
Estou cuidando bem de mim.

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