Domingo

Apesar das aparências eu sou uma manteiga derretida. Me faço de durão, de malandro, de insensível, mas essas máscaras não resistem ao menor teste. Na real eu me emociono com facilidade, talvez por ser provido de uma sensibilidade exacerbada próxima da empatia. Minha capacidade de sentir a dor do outro é impressionante. Quando criança eu era um “menino dos ossos de vidro”, tudo me sensibilizava. Se visse um mendigo ou um aleijado (politicamente incorreto, eu sei) na rua, eu caía em prantos. Tive que endurecer meu coração para não continuar sofrendo. Aprendi a sobreviver em um mundo de expiações, onde não existem coitados, só aprendizado. Endureci. Mas, não perdi a ternura, devo acrescentar. Uma prova disso é que, volta e meia, meus olhos ainda “suam” quando vejo pedidos de casamento na programação da TV aberta, aos domingos. Fazer o quê, se esse sou eu? Prazer. Obrigado. De nada.