Eu fiz a travessia…

…não sei pra onde, mas eu (juro que) fiz

Robson Felix
Cala a Sua Boca e Pega Logo a Saideira!
10 min readAug 13, 2016

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Pois é…

…eu acho que esse papo torto de Saturno retrógrado em Sagitário, mexeu um pouco comigo, viu?

Eu já falei que sou muito impressionável, não falei?

Pois é… então?

Eu venho sentido uns lances estranhos ultimamente, depois que Saturno me deu aquele sacode, sabe?

Tipo…

… eu acho que eu tô me lembrando qual é a minha onda aqui na terra.

Sabe aquele papo banguela do segredo no ouvido do anjo Saturno, quando a gente desce no tobogã, direto do outro mundo, para nascer?

Pois é, acho que eu descobri qualéra o segredo que eu não conseguia me lembrar.

E vou te falar que tava fácil, viu?

O meu segredo sempre esteve por perto.

Saturno estava com a razão, como sempre.

Explico.

Eu me lembrei, outro dia, que quando criança — tipo oito, dez anos — eu fazia um jornalzinho caseiro.

O zine era editado (digo, datilografado e colado em uma folha de papel ofício) por mim em colunas (sociais, é claro), composto por pequenas notas, dispostas em três colunas, que eu nomeei de Jornal Tijuca Tropical (vê que coisa?).

“Toda criança brinca de tudo”, dirão os mais céticos.

“Pela sua lógica invertida todo mundo seria médico, certo?”, piscarão vitoriosos, uns pros outros, os provocadores mais raivosos.

Mas, não é disso que eu falo, não.

Só estou aqui juntando, em retrospecto, alguns fatos isolados de minha própria vida, para dar significado ao que venho sentindo, depois do “pega pra capá” que Saturno me deu, sabe?

Sem muitas pretensões futurísticas.

Acho que por isso que chamam este interregno da vida de meia idade.

A próxima vez que eu fizer um balanço, tão profundo assim, de minha própria vida, deve ser pra morrer.

Com certeza será.

Pois bem…

A vida foi seguindo a sua verdade, e aos vinte e poucos anos eu fui morar em um hotel (tipo albergue? pousada, será?), em Santa Teresa.

Mas, por que cargas d’água estou contando isso?

Ah, tá…

(“Para reforçar sua tese enviesada”, babarão os haters)

Eu buscava em Santa Teresa, aos vinte e poucos anos, a profundidade dos quarenta, hoje eu entendo bem disso.

Tenho lembranças, por toda minha vida (desde a época do zine) da minha ânsia em envelhecer rapidamente.

Não envelhecer (somente) fisicamente, mas acumulando (boas) experiências, experienciando tudo o que a vida poderia vir a me dar.

Foi nessa fase aí (mais ou menos) que eu passei a escrever.

Eu passava noites (ébrias) em claro, escrevendo o que eu experimentava em minha (curta) vida.

E, também, quase morri com água no pulmão, de tanta melancolia.

Pois, bem…corta para o ano passado.

Juntando todo esse caldo existencial (resumindo)…

…no ano passado, lancei um livro físico chamado Flor de Sal — Memórias de um hedonista, o meu livro de estreia.

Flor de Sal era uma trilogia, que virou uma tetralogia, que virou uma série e que, por pouco, não virou um grande ‘nada’.

Foram mais de cinco anos concebendo, conceituando, escrevendo, burilando e revisando (com o preciosismo dos estreantes) aquele livro que não queria nascer menor do que a minha vida.

Depois veio a via crúcis (é assim que se escreve? é, porque tá sublinhado em vermelho nessa bagaça de corretor) de buscar, e não conseguir, uma editora que topasse a sua publicação.

Logo na sequência, veio o caminho em espiral da autopublicação (o que foi produtivo pois nesta rota de colisão com a utopia, eu aprendi a fazer de tudo um pouco na produção de um livro… da imagem de capa, às orelhas e textos de apresentação), até encontrar alguém disposto a negociar um bom termo para ambos os lados.

Depois de um imbróglio danado, finalmente o livro I de Flor de Sal, foi lançado no final de julho do ano passado (na lua azul) no Oi Futuro de Ipanema, em meio à uma crise (financeira e existencial).

Feito isso, era só comemorar, não acham?

Eu deveria estar feliz, correto?

Ao menos eu deveria ter ficado um tempinho deitado em berço esplêndido (leia-se com o boi na sombra), esperando o Nobel reconhecer o meu talento, correto?

Mas, a ressaca existencial veio rápido.

A partir do momento em que foram impressas, as letras daquele livro me empurraram para quem eu já não era mais.

Já ouviu falar que as palavras são nossas prisioneiras até serem pronunciadas, não é? Uma vez pronunciadas, o jogo se inverte e viramos reféns das palavras, diz o ditado.

Olha, foi difícil, viu?

Foi difícil entender que aquele livro já nasceu no passado de um mundo atômico que eu não fazia mais parte, e que eu não deveria empreender toda a minha vida em busca de publicar (fisicamente) o que quer que fosse.

Eu entendi que eu precisava focar na produção de conteúdo escrito sem me importar com a plataforma.

Eu deveria trabalhar com volume, método, disciplina e foco na produção.

O resto viria depois, concluí.

Foi difícil, mas eu entendi que era essa a minha natureza.

Pausa para ir ao banheiro.

Até aí tudo bem?

Você ainda está aí?

Tá acompanhando o raciocínio enviesado?

Pois bem…

Livro lançado, e agora?

O que fazer?

Eu me sentiria confortável para me declarar escritor a partir do lançamento do meu livro de estreia?

A partir da primeira publicação eu já poderia cogitar uma cadeira para ser um imortal da ABL?

Por que será que eu não me achava no direito de me autointitular escritor sem ter lançado nem um livro?

Essa é fácil…

O ESCRITOR é aquele que ESCREVE, certo?

Então por que eu não me via um escritor?

Eu não me sentia confortável em me declarar escritor, porque EU NÃO ESCREVIA porra nenhuma.

Entendeu a lógica?

Eu sentia vergonha de me dizer escritor (e realmente eu não merecia o título), pois eu não escrevia.

“Ah, mas você escreveu um livro.”, diriam os lovers.

Sim, mas um escrevi um livro em pedra.

Não existia ali, e não existe até hoje, o frescor das minhas novas percepções, sensibilidades recém adquiridas, não há em meu livro de estreia nenhum cheiro de chuva que vem como um buquê junto com as novas descobertas da vida.

Não, mesmo.

A edição física de Flor de Sal — Memórias de um hedonista — livro I, é algo que me remete a quem eu já não sou mais.

Eu fui o meu livro de estreia há cinco anos atrás (ah, tá… sei, sei… pleonasmo, não é? pois vai ficar assim mesmo, viu, haters?).

Entendeu?

Aí, conversando com uma grande amiga, primeira leitora de tudo o que escrevo (primeira crítica também), sobre essa minha angústia literária, ela me sugeriu escrever para alguma publicação digital.

Sutilmente ela me sugeriu (meio que me dando um toque Saturniano, sabe?), que eu precisava ganhar agilidade mental para escrever com volume, pois além de nossa língua estar viva e sempre em mutação, ela disse, só a habitualidade me daria disciplina, consciência de minha persona escritor, estilo ao escrever, além de volume de produção, na linha do tempo, para que eu fizesse o que bem entendesse.

Pausa para um café?

Eu nunca fui muito amigo dos (antigos) blogs, sabe?

Eu achava tudo aquilo muito egoico, vaidoso, meio ‘meu querido diário’, meio ‘minhas neuroses vomitadas, lê aí’ … e ao mesmo tempo o ambiente dos blogs (antigos, será?) era esquisito, complicado de programar, me sugerindo um beco escuro, ermo, abandonado, largado às traças, sem vida…

Não quero falar mal dos bloggers, não, mas conheço pessoas bem interessantes que escrevem blogs há cinco, dez anos, e você vai ver, o caboclo possui (hoje) sete seguidores (e todos da família).

Não que seguidores contem para algumas coisa, mas é necessária uma interação com o leitor, senão a obra literária não estará completa.

O meu leitor é (e será sempre) o co-autor de tudo o que eu escrevo, isso eu aprendi muito cedo.

Bom, daí você já sabe… conheci o Medium e logo gostei bastante.

Gostei de tudo por aqui no Medium, do ambiente minimalista — propício para leitura — da luz baixa, do jazz ao fundo… enfim, eu me identifiquei com a rede social de pessoas interessantes e interessadas na produção escrita e na leitura de textos estimulantes e conflitantes entre si.

Na sequencia, seguindo as dicas da minha amiga, algum tempo depois, eu criei as minhas próprias publicações, divididas em crônicas, poesias, sacanagem, opinião, resenha de livros e (é claro que não poderia faltar) a minha menina dos olhos, a série: Flor de Sal — memórias de um hedonista (onde serão publicados todos os livros — são quatro até agora — capítulo por capítulo, semana por semana), resolvendo a minha questão com textos (e língua) vivos(a).

Os cronogramas de atualização (resolvendo a questão da habitualidade), as viagens com imagens que eu tenho gostado muito de fazer (um plus criativo), o compromisso e disciplina em escrever com frequência, com fechamentos rígidos (mais ou menos, vai…), desenvolvendo a minha sagacidade criativa para pensar em temas para escrever algo durante quatro dias por semana ao longo de não sei quanto tempo.

Ao longo do processo eu aprendi a anotar uma ideia em um rascunho, direto no Medium abandonando toda e qualquer caderneta de anotação, bloquinho, papelzinho, ou coisa que o valham.

Aprendi também a digitar no celular com uma velocidade compatível com a que eu tenho em um teclado convencional (pra isso — ao menos — serviu o curso de datilografia).

Essas habilidades vieram à reboque da habitualidade que a disciplina impõe.

Na esteira dos acontecimentos eu entendi que eu sou um escritor do futuro, e como tal eu poderia usar e arriscar na linguagem, no método, nos meios não convencionais; para exercer a escrita, e isso inclui novas plataformas e tecnologias.

Mas, sem sacanagem…

…eu diria, hoje, que eu estou muito mais para um produtor de conteúdo (escrito, será?) do que para um escritor, no sentido mais clássico.

Não penso mais em escrever visando a publicação em livros físicos (ou atômicos, como eu prefiro chamá-los).

Eu, hoje em dia, penso somente no conteúdo, não mais na plataforma.

No ritmo ensandecido em que estou escrevendo para as minhas próprias publicações (de quatro a seis textos por semana), daqui a uns dois anos eu vou ter muito material para lançar quantos livros eu quiser, a partir de uma organização (minha ou de quem que seja) levando em consideração a vocação natural do texto (poesia, prosa, etc…), afinidades temáticas ou qualquer outro critério escolhido.

Falando com essa minha querida amiga (e crítica ferrenha não só do meu trabalho, mas também grande defensora de minha biografia), hoje mesmo ao telefone sobre todo esse amadurecimento por que venho passado, ela me perguntou algo sobre quantidade de seguidores, aceitação do meu estilo (meio ‘maledito’, ela disse) e das publicações pelos leitores/seguidores, do processo de divulgação nas redes sociais… essas coisas pragmáticas que fazem parte da vida de um produtor de conteúdo, sabe?

E eu fiquei pensando e percebi que simplesmente não sabia responder aos questionamentos dela.

E sabe por quê?

Porque realmente isso não me interessa mais em nada.

O meu centro de gravidade mudou, eu completei um ciclo.

Eu voltei a ser aquele menino de dez anos que fazia o seu jornalzinho em casa, entendeu?

Eu transcendi a linha do ego, da vaidade, da sobrevivência, da pobreza, da vergonha na cara, do respeito próprio, enfim…. eu fiz a travessia! (não te falei?)

Uma vez presentes no ambiente certo (o que eu acho que o Medium é, com certeza) meus textos serão preservados e a minha única preocupação deve ser escrever (além de pensar em imagens para todas publicações, mas isso é um plus criativo que eu aprecio).

Não quero mais implorar por joinhas em redes sociais.

Já fiz muito isso na vida (e quem não o fez?), mas isso era o meu ego tentando pegar carona em minha missão de vida.

E vou te falar, tenho muito orgulho de meus parcos e preciosos seguidores aqui do Medium (parece que fundei uma seita, não é?) que não me conhecem.

Gostaram (por algum motivo alheio a mim) do que eu escrevi em algum momento e ficaram ali, de boas, vendo se gostam dos textos com a regularidade desse que vos escreve.

Só isso.

Não tem caridade ou “jogo do contente”.

Nem algo do tipo “me segue que eu sigo de volta”.

Não.

É orgânico, eu não preciso mais me concentrar em ter milhões de seguidores, assim que eu não preciso me preocupar (ainda) em sobreviver da escrita.

Quero poucos e fiéis.

Que curtam a minha pegada.

E por outro lado, depois eu penso em como monetizar toda minha produção louca.

Posso criar um aplicativo, por exemplo.

Hein?

Já pensou?

Você agendando para receber textos meus, direto em seu celular, quase pessoais… poesias às segundas, na terça crônicas, na quarta um opinião minha bem provocativa, do tipo que te tire da zona de segurança; na quinta sacanagem, na sexta Flor de Sal…

Vai ter conteúdo pra caralho daqui a um, dois anos, para eu fazer o que eu bem entender, com a tecnologia (e as oportunidades oriundas dela) que estarão disponíveis, lá na frente, onde minha vista não alcança.

Eu só tenho o agora.

(In) Felizmente.

Porém, diferente de antes, meu textos não estarão mais presos aos átomos e parados no tempo.

Meus textos estarão vivos, revisáveis, editáveis, programáveis, imprimíveis (se for o caso), conforme a necessidade e evolução deste que vos escreve, da tecnologia, e do projeto em questão.

Bom, eu acho que foi essa a travessia que eu fiz, e eu queria compartilhar com vocês.

A realidade continua massacrante (talvez melhore quando Saturno começar, finalmente, a andar pra frente no dia 17/08), mas eu já não me preocupo com o ruído de fora.

Ao menos (agora) eu seu por onde seguir.

Com isso tento responde à PERGUNTA de UM MILHÃO de dólares:

POR QUE EU ESCREVO?

Ah, mas elegante que sou, eu deixo essa para Augusto dos Anjos:

“A princípio escrevia simplesmente
Para entreter o espírito… Escrevia
Mais por impulso de idiossincrasia
Do que por uma propulsão consciente.

Entendi, depois disso, que devia,
Como Vulcano, sobre a forja ardente
Da ilha de Lemnos, trabalhar contente,
Durante as 24 horas do dia!

Riam de mim, os monstros zombeteiros.
Trabalharei assim dias inteiros,
Sem ter uma alma só que me idolatre…

Tenha a sorte de Cícero proscrito
Ou morra embora, trágico e maldito,
Como Camões morrendo sobre um catre!”

Ou, quem sabe, seja melhor que Drummond ser meu porta-voz, nessa questão:

“Posso dizer sem exagero, sem fazer fita, que não sou propriamente um escritor. Sou uma pessoa que gosta de escrever, que conseguiu talvez exprimir algumas de suas inquietações, seus problemas íntimos, que os projetou no papel, fazendo uma espécie de psicanálise dos pobres, sem divã, sem nada. Mesmo porque não havia analista no meu tempo, em Minas.”

Nota do autor:
As citações acima fazem parte do livro
“Por que escrevo?” da série Mistérios da Criação Literária, organizado por de José Domingos de Brito, editora Novera.

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