Eu me divirto comigo mesmo

Como se eu fosse filho único

Robson Felix
Cala a Sua Boca e Pega Logo a Saideira!
2 min readJul 28, 2016

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Caetano Veloso dizia que se você souber tocar um instrumento, jamais estará sozinho. Bolei. Eu era novo e achava que ele tinha razão, mas algo me incomodava na frase. Eu não identificava a minha busca de desenvolver meu espaço interior, naquela provocação, pois o instrumento da “não solidão” ainda era “o outro”. Porém aquela frase do poeta Caetano era a semente da ideia do meu projeto de me divertir sozinho. Filho caçula e temporão de uma família de seis filhos, era difícil estar sozinho. Tenho poucas lembranças de infância, mas uma me fere a alma até hoje.

Era natal e todos os apartamentos estavam acessos e confraternizando, inclusive o meu. Pela janela eu vi um homem solitário, sentado à poltrona, saboreando um vinho e fumando um charuto, enquanto lia um livro. Não vi ali sinais de solidão triste, mas sim de opção de vida. Desejei, em meio à confusão de minha casa naquele natal, como em todos os anos anteriores, ser aquele homem solitário por opção. O fato é que eu me projetei através de algum tipo de “buraco de minhoca” quântico do tempo e hoje sou aquele homem que vi pela janela em uma noite de natal, há quarenta anos atrás. E consegui entender o porquê da opção melancólica daquele homem solitário que hoje eu sou.

Ele se diverte sozinho.

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